O seguinte trabalho final de graduação consistiu em pensar a embalagem de maneira "ecologicamente conseqüente", e foi desenvolvido através do estudo sobre a história da embalagem e trabalhos de designers da área, pesquisa de materiais, análise de projetos já existentes e criação de embalagens.
O meu interesse por embalagens pode ser explicado por três motivos: pelo fato de ser um campo incrivelmente amplo e multidisciplinar, com inúmeras possibilidades criativas - seja na escolha do material ou no próprio design e sistema construtivo; pelo fato de ter um contato direto com a cultura japonesa, famosa e tradicional no campo de design de embalagens; e pelo fato de o Brasil ainda ser um país pouco desenvolvido nessa área.
O Japão foi escolhido como referência pela antiga relação histórica e cultural que mantém com o Brasil, já que este abriga a maior população japonesa fora do país de origem.
Optei por não utilizar o termo "ecologicamente correto" por dois motivos: pelo fato de ser utilizado, em muitos casos, como rótulo e estratégia de marketing e pela impossibilidade de aplicar o termo em sua totalidade. Assim, escolhi o termo "ecologicamente conseqüente", de maneira que o projeto tivesse preocupações ecológicas, visando gerar resultados menos agressivos ao meio ambiente.
Aliando a preocupação ambiental ao meu interesse particular em embalagens cartonadas, o material escolhido foi o papel reciclado, no caso, o reciclato – papel 100% reciclado fabricado em escala industrial, com 25% de aparas pós consumo (provenientes de lixo urbano) e 75% de aparas pré-consumo (provenientes de rejeitos industriais).
O projeto desenvolvido trabalha o shape (forma) e os sistemas construtivos (encaixes, sistemas de fechamento, faca, etc.) da embalagem, atendendo os aspectos relacionados à estética, à funcionalidade e às possibilidades do material escolhido.
O Desenvolvimento do trabalho consistiu em: estudo e organização de referências e trabalhos de profissionais da área, pesquisas sobre o reciclato e testes sobre o seu desempenho e projeto das embalagens. O trabalho foi dividido nos seguintes assuntos:
A História da Embalagem
A embalagem surgiu com as primeiras necessidades do homem, quando os nossos antepassados pré-históricos deixaram de ser nômades. Era preciso criar novos meios para procurar e conservar o próprio alimento - fossem eles animais caçados ou verduras e legumes cultivados. As primeiras embalagens utilizavam peles de animais, vegetais, folhas, recipientes de argila, etc.
Com o tempo, surgiram novos materiais e técnicas de maneira que os processos de produção foram evoluindo do artesanal para o industrial.
A Embalagem
O desenvolvimento de uma embalagem leva em conta alguns aspectos importantes:
- função: conter, proteger, possibilitar transporte, etc.
- aspectos econômicos: valores e custos de produção/ matéria prima
- tecnologia: acondicionamento, pesquisa de materiais e conservação
- mercado: presença, mídia, preço, etc.
- conceituação: afirmação da marca, agregação de valor ao produto
- comunicação / marketing: meio de comunicação, suporte a ações promocionais
- desenvolvimento sócio-econômico : desenvolvimento tecnológico x cultural
- descarte: impacto ambiental
Impacto Ambiental
Um dos maiores problemas do mundo atual é o lixo, do qual grande parte é proveniente das embalagens descartadas. Esse fenômeno, ainda recente, fez com que o ciclo de vida da embalagem, que antes terminava no descarte, incluísse novas etapas como a reciclagem e o reuso.
A Embalagem na Cultura Japonesa
O Japão é um dos países mais desenvolvidos no campo de embalagens. Isso pode ser explicado, em parte, pelo costume de presentear o próximo, como forma de agradecimento ("okaeshi"). Junto com esse hábito, desenvolveu-se a tradição de embrulhar presentes, independente do valor de seu conteúdo.
O design de embalagens japonês é um grande exemplo do marketing que "vende com os olhos", através de embalagens muito elaboradas não só esteticamente, mas também funcionalmente.
Proporção
As pesquisas foram focadas na chamada seção áurea ou divina proporção. Segundo György Doczi, a seção áurea é representada através de (...) padrões harmônicos na Natureza, padrões que são trazidos inconsciente ou conscientemente às artes, ao comportamento e à cultura do homem (...). A divina proporção pode surgir através de proporções geométricas, formação de padrões e combinações de formas etc.
A teoria da seção áurea é apenas uma das maneiras de representação da proporcionalidade e ela pode ser entendida, de maneira geral, como qualquer relação harmônica entre partes de um todo e/ou números, através da idéia de medida. A análise das embalagens desenvolvidas identifica um conceito em comum: a unidade nas diferenças, que consiste na existência da repetição e/ou reflexão de um padrão.
Através da idéia de proporção como um todo, é possível identificar, nos projetos apresentados, a relação harmônica entre as dimensões e as partes das facas.
Projetos
As embalagens foram desenvolvidas levando-se em conta três pontos de partida:
1.A embalagem deve ter faca / peça única;
2.As facas são compostas a partir da repetição de padrões;
3.Os fechamentos e encaixes não devem utilizar cola ou adesivo.
Cada projeto foi apresentado através de fotos, desenho das, descrição de características e pontos importantes, comentários sobre o processo de desenvolvimento, sugestões de uso, etc.
CONCLUSÃO
O trabalho abordou um campo carente de materiais nacionais a respeito do assunto, apresentando uma nova maneira de ver e pensar a embalagem e desenvolver um projeto focado no sistema construtivo, utilizando-se, principalmente de referências japonesas de design adaptadas às possibilidades de execução.
O objetivo do trabalho não foi apresentar uma solução para o problema do descarte e do impacto ambiental, mas sim, mostrar a necessidade de repensar a função do design, de trabalhar com materiais reciclados e incentivar essa escolha, além de apresentar a possibilidade de desenvolver embalagens com papel reciclado sem perder a funcionalidade e a estética.
