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secao 4!

Escola na Luz.

Um percurso musical

Giovana Moreli Avancini

Ângelo Bucci

"Ameaçada de banimento e extinção na medida em que se fala do fim das cidades, a urbanidade é hoje a pedra angular das questões urbanas. O espaço público é seu instrumento primordial de realização, isto é, constitui-se em elemento indispensável da luta pela restauração da urbanidade essencial e pela garantia do futuro das cidades". (1)

O presente trabalho propõe a ocupação de espaço subutilizado, na conflituosa área da Estação da Luz - que reúne edifícios culturais em meio a um bairro degradado da região central de São Paulo - no intuito de locar programa de auditórios para escola de música.

Trata-se do Centro de Estudos Musicais (CEM) Tom Jobim, escola pública, responsável pelas orquestras profissionais: Banda Sinfônica do Estado e Jazz Sinfônica do Estado, e pelos grupos bolsistas: Orquestra Sinfônica Jovem do Estado, Banda Sinfônica Jovem do Estado, Orquestra Jovem Tom Jobim e Coral Sinfônico do Estado. Com sede no bairro há vinte anos, ela foi crescendo e, com o passar do tempo, suas orquestras tiveram de buscar novos espaços para comportar suas equipes. Hoje em dia cada grupo aluga auditórios pela cidade, que estão demasiado longe um do outro, dificultando idas e vindas de professores e alunos. Além do mais, os locais utilizados são improvisados, as orquestras têm de desmontar todo o equipamento a cada fim de ensaio. Disso tudo advém o desejo de se criar um lugar único de ensino e difusão, resgatando o ambiente apropriado para o pleno desenvolvimento de uma escola de música e permitindo uma futura expansão. A escola já existe naquela região que tende a um caráter artístico devido aos edifícios culturais que ali prevalecem. Não há dúvidas de que aproximar seu restante, fazendo com que alunos e professores de todos os grupos se cruzem nas ruas, trará mais vida às partes do bairro que remanescem mortificadas,

Partindo do princípio de que as "amarrações" dos espaços devem ser feitas através de elementos que estabeleçam conexão visual e utilitária e não se esquecendo de que centros dotados de maior infra-estrutura devem receber equipamentos públicos de caráter mais metropolitano, advém a necessidade de repensar o ambiente urbano nas duas escalas e, cada lote, em sua intrínseca relação com o entorno. O resultado esperado é uma maior coerência na ocupação dos vazios urbanos, cerzindo enfim a cidade para que ela volte a fluir.

No intuito de unificar a escola de música, ao mesmo tempo ocupar a região da Luz, procurou-se por terrenos desocupados ou subutilizados no entorno. Foram encontrados três, ao longo de um eixo que pode ser percorrido a pé, que vai da Praça Coronel Fernando Prestes até a Rua Cásper Líbero. Cada um deles poderá abrigar um conjunto de funções: os auditórios em um deles - ao menos três auditórios para que se torne possível o ensaio de todos os grupos -; núcleo de ensino para cada família de instrumento noutro, e conjunto administrativo, biblioteca e acervo no terceiro.

A ocupação não intensa de um único terreno, ao permitir que a escola se "esparrame" pelo bairro, e fazendo uso também das construções existentes, além de estar de acordo com uma política pública de reaproveitamento e renovação do Centro, permitirá, nesses caminhos, uma vivência maior dos freqüentadores pelo entorno, este que já se encontra envolvido com a música, pelo alto número de lojas de instrumentos musicais próximas à sede da escola.

Em se tratando da primeira necessidade do CEM Tom Jobim, optou-se por desenvolver os grandes espaços para ensaio e apresentações. O local escolhido, a antiga garagem da prefeitura do município, - com frentes, de um lado, à Praça Coronel Fernando Prestes e, do outro, ao Jardim da Luz, se divide entre um caráter metropolitano, com a escola técnica FATEC, uma estação de metrô e o Jardim da Luz, e características de bairro pequeno, devido à vizinhança residencial. Nesse entrecorte, o programa será composto por três auditórios: dois para uma platéia de 350 pessoas e um maior para 550. Salas de ensaio com pé-direito elevado e área administrativa completarão o espaço.

O conjunto edificado se desenvolve quase todo sobre pilotis, buscando uma continuidade visual entre a praça e o jardim. Uma parede dupla ao longo do terreno recebe o conjunto hidráulico, elevadores e bilheterias, e organiza todo o espaço - os principais acessos são feitos junto dessas paredes, tanto das salas de ensaio e administração quanto dos três auditórios.

As salas de ensaio ficam locadas em prédio adjacente aos auditórios, com acessos diretos a balcões exclusivos, de onde os alunos podem acompanhar qualquer ensaio ou apresentação. Os auditórios não tocam o chão, são a transição entre a escola e o público, e são quem aproxima essas duas partes. Alunos só chegam à escola passando junto de um deles. Seus balcões não são para o público, mas para a escola. Os auditórios menores abrem-se sob o conjunto por meio de portas pivotantes atrás dos palcos, permitindo apresentações para toda a área externa. A música invade a praça, e toma parte da almejada urbanidade. Abaixo das salas de ensaio encontra-se a administração, que deve ter um contato exclusivo com o público, por isso possui acesso separado do restante do conjunto.

É nesse conjunto de "auditórios-oficinas" que se pretende o uso de maior intensidade da escola. É ali que se dará o encontro das orquestras, onde as salas de maior pé-direito receberão o coral, onde os ensaios gerais ocorrerão e a experiência da integração dos diversos instrumentos se dará. Enfim, nesse espaço, o duo formação-difusão se fundamentará.

Ficha Técnica:

Terreno: 160mx52m.
Área: 8320m2
Área total construída: 4000m2

notas


  1. Meyer, Regina Maria Prosperi. "O convívio cotidiano", in Pólo Luz: Sala São Paulo, cultura e urbanismo. São Paulo, Editora Terceiro Nome, 1999, pp. 116.

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