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secao 4!

Evolução Urbana de uma Cidade no Interior Paulista:

Casa Branca no Caminho de Goiás

Mariana Pereira Horta Rodrigues

Maria Lúcia Bressan Pinheiro

O presente trabalho pretende identificar as reflexões urbanísticas e arquitetônicas que orientaram o traçado e a volumetria da cidade de Casa Branca, com vistas à avaliação e preservação do patrimônio arquitetônico atual.

Definiu-se a cidade de Casa Branca, localizada a Nordeste do Estado de São Paulo, no trajeto da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, como o objeto de estudo. Nesta cidade, foram identificados, em um primeiro momento, três vertentes do desenvolvimento urbano, com características urbanísticas e arquitetônicas bem definidas. A primeira, vinculada às origens do povoamento, do século XVIII, constitui-se pela antiga Rua dos Açorianos (atual Rua Waldemar Flores Panico) e segue até o Largo da Igreja do Rosário. O seguinte estende-se deste Largo até a Igreja de Nossa Senhora das Dores, no entorno da qual estabeleceu-se a ocupação vinculada ao desenvolvimento da atividade cafeeira na região, já em fins do século XIX. Num desenho linear, a "Rua da Estação" (Rua Coronel José Júlio) liga os primeiros eixos de ocupação urbana até a estação velha da Estrada de Ferro Mojiana, constituindo a terceira vertente do desenvolvimento urbano, relacionada a esse novo meio de transporte, que consolidou esta cidade como um centro regional até meados da década de 1930.

Diante de períodos históricos tão distintos e de características arquitetônicas peculiares, delimitou-se o escopo da pesquisa ao período inicial de estabelecimento do povoamento, com destaque, portanto, às origens da Freguesia de Nossa Senhora das Dores de Casa Branca.

A história da cidade de Casa Branca poderia ser confundida com a história de muitas outras do interior paulista situadas ao longo do Caminho de Goiás. As terras, antes ocupadas pelos índios caiapós, passaram a ser percorridas pelos bandeirantes, que, seguindo as nascentes dos rios, chegaram até Vila Boa de Goiás, onde encontraram ouro. A trilha do Anhangüera seria, a partir de então, caminho de viajantes em busca de fortunas. O Brasil interiorizava-se a partir da Vila de São Paulo de Piratininga em direção a Minas e Goiás onde muitos pousos surgiram na passagem de rios e, destes, arraiais, freguesias, vilas e cidades.

Casa Branca insere-se nesse processo: foi pouso para viajantes, apesar de não ser passagem de rio, mas entroncamento de caminhos; possuía sesmarias, concedidas ao longo do Caminho de Goiás; e continha capela e vigário. Seu início de urbanização é considerado um processo espontâneo, no qual a população inicial era paulista e mineira, mas houve a intervenção por parte da Coroa lusitana, através de uma linha portuguesa de ordenação do território, defendida e introduzida no Brasil por Dom João VI. O arraial tornou-se Freguesia por Decreto Régio e incentivou-se a colonização açoriana nessas terras. Nesse aspecto, a cidade de Casa Branca diferencia-se, ao considerarmos o contexto da Capitania de São Paulo. Apesar das intervenções urbanísticas portuguesas terem ocorrido em outras localidades do Brasil colonial, como em Vila Boa, há a necessidade de se discutir os interesses do governo português na região de Casa Branca. Sobre essas análises, vários contextos embasam-nas: as "políticas" de colonização do Brasil e os "mecanismos" de interiorização e conquista do território; os interesses econômicos do governo português e as crises do reinado luso na Europa; e os interesses da Espanha na conquista do território oriental da América.

A história de Casa Branca confunde-se, portanto, com a própria história do Brasil. A escala reduzida da problemática não lhe tira o mérito da exploração científica. Trata-se de um microcosmo da história brasileira nesse país onde, muitas vezes, a cultura é esquecida e o povo perde sua identidade. São esses primeiros passos, oriundos da observação histórica, que indicarão o caminho para a preservação do patrimônio cultural dessa cidade, atualmente entregue aos interesses aleatórios, não públicos, que a consomem e a desfiguram.

Ao longo desta monografia, discutimos a respeito do histórico, da evolução urbana, do urbanismo e do patrimônio cultural de Casa Branca com o intuito de trazer à tona o valor cultural dessa cidade do interior paulista. Enquanto nos estudos anteriores sobre essa localidade destacava-se a colonização açoriana e a intervenção da Coroa portuguesa, pretendemos conhecer também a ocupação sertanista, dos "paulistas" e "mineiros". Levantamos dúvidas sobre conceitos afirmados há tempos e questionamos o desenho urbano, o traçado de ruas e praças, chegando a uma nova proposta de evolução urbana detalhada em cinco períodos distintos. Houve uma grande procura do entendimento desse espaço, em seus aspectos físicos, arquitetônicos e urbanísticos, e em seus aspectos culturais, para que pudéssemos propor formas de intervenção para garantir a preservação de seu patrimônio coletivo.

Para uma efetiva ação e intervenção, como um planejamento urbano abrangente, ou como um planejamento territorial, a agregar urbano e rural, tomam-se como premissa as considerações de Gustavo Giovannoni sobre o patrimônio histórico em escala urbana. A cidade, considerada em seu conjunto do novo e do velho, como cidade historicizada, deve ser abordada como um organismo único, composto por seus pormenores. Dessa forma, os bens de interesse histórico específico não devem ser dissociados do conjunto da cidade, da sua morfologia, da sua ocupação, dos seus usos, da vida citadina. Para tanto, a cidade deve ser submetida a um planejamento urbano que também incorpore questões de preservação do patrimônio histórico local, identificado com o que poderia ser chamado de arquitetura do cotidiano, a arquitetura residencial ou, até mesmo, comercial. Uma arquitetura não exuberante, mas significativa como representação dos modos de vida de uma época. É assim classificada a arquitetura de Casa Branca a ser preservada. Uma arquitetura e um desenho urbano de uma época em que a vida citadina, nesse sertão, era simples e pacata. Uma vida caipira, sertaneja. A cultura de cidades do interior paulista.

 

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