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secao 4!

Projeto de Requalificação Urbana e Funcional do Bairro de Santa Ifigênia

 

Alexandre Hepner

Regina Maria Prosperi Meyer

O bairro de Santa Ifigênia, localizado no centro de São Paulo, pode ser considerado um dos exemplos mais emblemáticos do processo de degradação e esvaziamento populacional que marcou a maior parte da região central da cidade durante a segunda metade do século XX.

Em suas origens, a Santa Ifigênia nasceu como um bairro de classe alta, urbanizado em meados do século XIX para abrigar os palacetes da elite cafeeira que chegava à cidade através da nova estrada de ferro Santos-Jundiaí. Assim, junto à Estação da Luz – que servia como a porta de entrada para a cidade de São Paulo – surgiu um bairro digno da próspera riqueza dos barões do café, com ruas arborizadas e de traçado regular.

Já na primeira metade do século XX, o bairro atravessou um intenso processo de verticalização e começou a delinear-se como um bairro de classe média, com crescente presença de estabelecimentos comerciais. O comércio, aos poucos, tornou-se a principal marca do bairro, especializando-se primeiramente em produtos de rádio e TV, mais tarde em produtos eletro-eletrônicos, e, enfim, consolidando-se como o dinâmico mercado de informática que existe hoje na Rua Santa Ifigênia e arredores.

No entanto, ao longo do processo de transformação da Santa Ifigênia o comércio de eletrônicos não foi a única atividade significativa a instalar-se no bairro. A partir da década de 1950, a área começou a tornar-se também um centro de prostituição, atividade fortalecida pela proximidade com a estação de trem e que iniciou um processo de desvalorização dos imóveis e a expulsão gradativa da população de classe média.

A partir de meados da década de 1960, soma-se a este quadro a presença cada vez mais significativa do tráfico de drogas, que por sua vez alavancou o crescimento exponencial da criminalidade e da violência na região. Com o abandono da área pelos poucos moradores remanescentes e o avanço da degradação física, o tráfico de drogas prosperou de maneira ainda mais intensa, resultando na consolidação, na década de 1990, da "Cracolândia" paulistana.

O objetivo deste trabalho, assim sendo, é o de propor um conjunto de diretrizes urbanísticas e elaborar um projeto urbano que permita reverter a situação de abandono e degradação no qual a Santa Ifigênia encontra-se hoje. Este projeto parte de um conjunto de premissas que inclui:

- Diversificação de usos e atividades;
- Atendimento à demanda habitacional de baixa renda;
- Redesenho dos espaços públicos;
- Preservação das características morfológicas do bairro;
- Preservação do patrimônio histórico;
- Adensamento da ocupação construtiva e populacional.

Dentre este conjunto, o adensamento foi adotado como a premissa principal, tendo em vista a grande disponibilidade de infra-estrutura da qual o bairro dispõe, especialmente de transporte de massa. Por esta razão, decidiu-se adotar o seguinte desafio: o projeto deveria atingir o dobro da densidade construtiva máxima adotada atualmente na cidade de São Paulo - ou seja, enquanto atualmente adota-se no máximo um Coeficiente de Aproveitamento equivalente à quatro, o projeto aqui proposto deveria adotar um coeficiente equivalente a oito. Além disso, dever-se-ia atingir a meta de abrigar uma densidade populacional equivalente a 1000 hab/hectare, muito superior à densidade mais alta de qualquer outra região da cidade.

No entanto, o verdadeiro desafio surgiu quando se partiu para a formulação de um projeto urbano que comportasse toda esta densidade e ainda mantivesse qualidade espacial, ambiental e de desenho urbano – efetivamente requalificando o bairro ao mesmo tempo em que permite-se o adensamento de uma área já considerada densa pelos padrões urbanísticos vigentes. Neste sentido, foi necessário desenvolver-se uma nova visão de espaço urbano, com espaços públicos integrados permeando os edifícios, atravessando os interiores das quadras e conectando as ruas do bairro. Este sistema seria composto por um "volume de embasamento" de predominantemente comercial com 3 pavimentos de altura, acima do qual estariam dispostas torres de uso habitacional e de serviços. O trinômio habitação-trabalho-educação se completaria com a abertura, na área de intervenção, de uma faculdade de tecnologia que oferece suporte e é apoiada pelo comércio de informática da Santa Ifigênia.

Foi proposto um sistema de praças internas às quadras, interligadas umas às outras através de galerias de lojas que permanecem abertas durante o horário comercial. À noite, as galerias são fechadas e o acesso às praças internas através das arcadas pode ser limitado ou controlado.

Os dois pavimentos superiores do volume de embasamento são ocupados por extensões das galerias comerciais, mas seu uso é mais diversificado, incluindo também áreas destinadas a cinemas, e um complexo esportivo com quadras, piscina e academia de ginástica.

Acima deste volume de embasamento, configurou-se um "pavimento comunitário". Este piso, interligado de uma quadra à outra através de passarelas, abriga espaços destinados ao uso da população residente no bairro, como creche, playground, quadras esportivas, área para skate, salão de festas e espaço para churrasco, entre outros.

Acima do pavimento comunitário está o conjunto de edifícios, os quais encontram-se parcialmente apoiados sobre pilotis. São, ao todo, sete torres com unidades de Habitação de Interesse Social - HIS, cinco com unidades de Habitação de Mercado Popular - HMP, e uma torre para escritórios. As torres de HIS possuem 12 pavimentos, e as de HMP, 20 pavimentos; a torre de escritórios configura-se como um marco urbano com 40 pavimentos.

Ficha Técnica

Área do terreno: 38.383 m²

Área construída
Habitação de Interesse Social (HIS): 88.689 m² (34%)
Habitação de Mercado Popular (HMP): 68.970 m² (27%)
Comércio: 70.062 m² (27%)
Serviços: 18.869 m² (7%)
Faculdade de Tecnologia: 11.819 m² (5%)
Total: 258.410 m²

População Total: 7620 habitantes
Densidade Populacional do bairro: 990 hab/hectare

 

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