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secao 4!

Cohab José Bonifácio:

redesenhando espaços livres

Bruna Maria de Medeiros Benvenga

Silvio Soares Macedo

Introdução teórica

Os conjuntos habitacionais populares verticais produzidos na metrópole de São Paulo, pela COHAB - Companhia de Habitação Popular de São Paulo - a partir da década de 1970, constituem tecidos urbanos configurados a partir de princípios urbanísticos modernistas estabelecidos no início do século XX. Esses princípios partem da implantação de massas edificadas isoladas no terreno e de grandes áreas livres contínuas circundando essas edificações. O tecido é marcado pela homogeneidade morfológica dos espaços livres, que não são funcionalmente definidos. As edificações são dispostas linearmente em forma de lâminas distribuídas pelos grandes espaços livres indiferenciados.

Devido tais princípios adotados na concepção dos projetos, a implantação dos conjuntos não se insere plenamente na cidade, sendo descontínua aos tecidos urbanos do seu entorno. Os espaços livres criados originalmente não possuem uma hierarquia clara de uso; fazendo com que áreas de pedestre, de lazer e de encontro não estejam definidas.

Dessa forma, espaços de maior acessibilidade pelos moradores de diversas partes do conjunto são superutilizados, enquanto espaços mais internos aos blocos são esquecidos e, por vezes, abandonados pelos usuários. Por outro lado, é criada uma grande gama de espaços livres sem uma destinação clara, fato este, que ao longo dos anos, tornam suscetíveis a usos muito diversificados, pelos moradores dos conjuntos ou invasores.

A localização dos terrenos reservados para a implantação dos projetos, muitas vezes, é distante das áreas centrais e/ou está locais desprivilegiados topograficamente. Isso implica em duas questões de importância: a primeira é a falta de acessibilidade dos conjuntos a rede urbana de comércio e serviços localizada nas regiões do centro.

A segunda questão é a dificuldade técnica de implantação dos projetos que, pensados a partir de um projeto-base, são mal-adaptados aos diversos tipos de terrenos. Esses terrenos dificilmente são planos, localizando-se em áreas de declividade alta e, portanto, pouco apropriadas para a implantação de tipologias arquitetônicas rígidas, como as que foram de fato implantadas.

A padronização do desenho urbanístico encontrado nos conjuntos e a sua clara diferença com os desenhos tradicionais do resto da cidade distanciam os usuários da compreensão do espaço, tornando-o ilegível e desfamiliarizado.

Os equívocos cometidos no dimensionamento e na estruturação espacial do assentamento também prejudicam os conjuntos, já que não atendem à demanda e às funções sociais que deveriam atender. O espaço interno mínimo das habitações, os estacionamentos em quantidade insuficiente, a setorização de espaços destinados à instalação de atividades complementares como comércio, serviços e lazer, são exemplos desses equívocos.

É importante lembrar que, além da atuação deficitária dos órgãos responsáveis do Estado no processo de projeto anterior à implantação dos conjuntos, existe a sua omissão no processo de manutenção dos espaços edificados e das áreas livres adjacentes a eles, no período de pós-ocupação.

Observa-se, então, um movimento de reação às deficiências apontadas anteriormente. A população se apropria do espaço público, modificando-o para que se adapte às suas necessidades. Isto é, grandes áreas livres são cercadas e subdivididas em pequenos quintais, corredores e pracinhas; ou mesmo são ocupadas por terceiros que constroem, nesses espaços, seu comércio. Espaços de integração entre os prédios são cobertos e divididos em vagas para estacionamento, ou em novos cômodos para os apartamentos térreos.

As calçadas também são tomadas por novas construções e as áreas de pedestres que antes eram inúmeras ficam reduzidas às ruas.

Todo o esforço, encontrado na concepção do projeto, para criar áreas livres de dimensões amplas não categorizadas funcionalmente, é negado pela população que as fragmentam e redefinem os limites entre espaço público e privado, justamente pela sua não caracterização projetual e funcional. Essa apropriação das áreas livres tem um viés positivo que é a criação de um ambiente mais favorável para a habitação numa metrópole como São Paulo.

Tais modificações, porém são feitas sem nenhuma reflexão prévia ou planejamento e sem auxílio de técnicos. Podem ser consideradas obras vernaculares até eficazes, mas sua condição de irregularidade dificulta a formação de espaços urbanos de qualidade.

Essa é a situação encontrada na Cohab José Bonifácio, ou Itaquera II e III, como vemos a seguir.

Objetivo e partido adotado

O Objetivo principal desse trabalho é abrir uma discussão acerca da qualidade do espaço urbano proposto em conjuntos habitacionais. Considerando que o processo que ocorre em Itaquera, também ocorre em tantos outros conjuntos espalhados pela metrópole julga-se necessário buscar soluções para melhorar os espaços livres em áreas residenciais tão densas.

Assim determina-se uma postura de ação nos espaços livres públicos dos conjuntos habitacionais. O objeto de projeto são as áreas diretamente ligadas às unidades habitacionais e não equipamentos urbanos de escala municipal (como parques), que devem passar por uma qualificação espacial para poderem ser efetivamente apropriadas como espaços urbanos.

Como forma de guiar esse projeto fez-se as seguintes escolhas:

- Trabalhar com a idéia de unidade de vizinhanças, ou seja, a cada agrupamento de prédios prever a implantação de equipamentos de diversos usos e diversas escalas de espaços;

- Privilegiar grandes áreas existentes para a implantação de áreas de lazer ativo: esportes e infantil;

- Privilegiar espaços com menores dimensões próximos às habitações para implantar áreas de estar;

- Utilização de áreas pavimentadas para propiciar a ocupação dos espaços;

- Utilização de dois extratos vegetais basicamente: árvores e forrações. A massa de árvores garante o sombreamento dos espaços, a criação de "lugares" e a composição da paisagem. As forrações são utilizadas em canteiros que garantem a permeabilidade do solo. Simples manutenção;

- Respeitar e favorecer os fluxos principais de pedestres;

- Rever alguns conceitos como a implantação das lâminas de comércio voltadas para o interior das quadras e não para os locais de maior fluxo de carros e pedestres;

- Atender às principais demandas da população residente;

- Propor solução de manutenção simples para garantir a durabilidade do projeto;

- Possibilitar a implantação parcial ou em etapas.

Conclusões

A situação do Conjunto em questão se repete em vários outros casos da região metropolitana de São Paulo. A intervenção nos espaços livres públicos se faz necessária para conferir o caráter urbano em espaços já densamente ocupados de forma desordenada. As demandas por áreas de lazer são altas e podem ser muito bem atendidas se houver um aproveitamento das áreas livres disponíveis nos conjuntos.

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