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secao 4!

Preservação do Tendal da Lapa e adequação de uso:

Subprefeitura e Casa de Cultura

Daniel Savoia Castilho Cunha

Erica Yukiko Yoshioka

Localizado na Rua Guaicurus n.1000, o antigo conjunto do Tendal Municipal da Lapa foi construído em 1938, na gestão do Prefeito Fábio Prado, pela empresa J. P. Urner, com a finalidade de centralizar a fiscalização das carnes comercializadas na cidade de São Paulo e coibir abusos dos matadouros particulares.

O edifício caracteriza-se pela composição plástica de suas fachadas, marcadas pela predominância de superfícies lisas, com aberturas dispostas simetricamente, ornamentação escassa, com forte tendência à abstração geométrica. Isso reforça a horizontalidade do conjunto e sua amplitude, tendo como contraponto dois volumes verticais correspondentes à torre da caixa d'água e câmara de resfriamento.

O partido arquitetônico adotado para o Tendal seguiu uma concepção extremamente funcional, exemplificada na resolução da planta setorizada e na racionalização de uso e circulação, apoiada na modulação do sistema construtivo, singular no uso do concreto armado pré-moldado e de treliças metálicas de suporte às telhas de cimento amianto, tecnologicamente inovadoras para a época.

A partir dos anos 50, com o fim da obrigatoriedade das carnes passarem pelo Tendal Municipal antes de serem distribuídas, o prédio passou a ser utilizado por criadores que não possuíam tendais na capital, passando às mãos da iniciativa privada. Nos anos 70, o encerramento das atividades ligadas à fiscalização e comércio das carnes levou o Tendal a um período de deterioração. Na década seguinte, houve a elaboração de projetos de ocupação, mas nenhum foi levado a cabo.

Somente a partir de 1990 o espaço começou a ser ocupado pela Administração Regional da Lapa, hoje Subprefeitura, de acordo com necessidades e demandas imediatas, sem que houvesse medidas de preservação do conjunto ou um projeto que organizasse os espaços, de forma que hoje a circulação pelo edifício é truncada, a acessibilidade a deficientes é precária, o espaço é "loteado" e alterações construtivas são feitas desconsiderando-se os valores históricos do edifício.

Além da Subprefeitura, o espaço do antigo Tendal é dividido entre outras instituições e serviços públicos (como atendimento odontológico "Brasil Sorridente"; Junta Militar; Farmácia Popular; IBGE; Conselho Tutelar), além da Casa de Cultura "Tendal da Lapa". Ela teve sua origem na ocupação do Tendal em 1990 por grupos de teatro, como o "Teatro Pequeno", num projeto chamado "Fábrica dos Sonhos, Linhas da Desordem", cuja proposta era a de tornar a comunidade, antes espectadora, parte integrante da produção cultural do bairro. A partir de 1992, com a criação efetiva da Casa de Cultura, afirmou-se o caráter público da produção e dos serviços disponíveis à população, garantindo dessa forma um espaço para a criação, reflexão e manifestação artística.

Atualmente, verifica-se uma clara cisão entre a Casa de Cultura, a Subprefeitura e os demais usos do edifício, evidenciada no próprio acesso, que é feito por ruas diferentes, o que conseqüentemente se reflete na manutenção e conservação do edifício como unidade.

Tendo em vista tal contexto, este trabalho considera, portanto, dois aspectos fundamentais, que caracterizam a intervenção arquitetônica: a preservação do patrimônio histórico e a adequação de uso.

A proposta visa preservar o valor histórico e arquitetônico do edifício por meio da conservação dos elementos que permitem a leitura da tipologia original. Ao mesmo tempo, a intervenção proposta coloca-se como mais uma estratificação do edifício, buscando a consonância com o existente.

Do ponto de vista do uso, o espaço da Subprefeitura encontra-se burocratizado, com uma pequena importância na paisagem urbana e desvinculado da vida cotidiana, de qualquer percurso possível.

O projeto pretende criar um lugar propício ao diálogo, onde os percursos se cruzassem, pois a Subprefeitura é um espaço representativo do poder público, um espaço cívico que adquiriu maior importância com a participação da população nos processos de elaboração e revisão dos planos urbanos.

Nesse sentido, são propostos espaços de convívio entre a Subprefeitura e a Casa de Cultura, organizados por uma praça interna - que corresponde ao pátio de carga e descarga do antigo Tendal Municipal - como questionamento à barreira hoje existente entre eles.

Visando um processo contínuo de participação, propõe-se um núcleo de projeto, com acesso voltado para o pátio, onde fosse possível consultar as leis, as bases cartográficas, maquetes e fotos da região, reunir-se com técnicos, de forma que a participação ocorra continuamente. Um espaço da Subprefeitura, portanto, com esse destino específico, de acolher e viabilizar essas atividades.

Na parte interna dos galpões, como uma extensão do pátio, encontra-se o atendimento ao munícipe da Subprefeitura e, ao lado, o espaço de exposição da Casa de Cultura, mediados pelo lanternim do antigo Tendal. O teatro que ali existia, é deslocado para fora, mantendo-se apenas o piso de madeira como registro das intervenções já realizadas no edifício, assim como um palco a ser apropriado ocasionalmente pelos grupos teatrais.

Esse deslocamento é representado por meio de um segundo eixo, que sai dos galpões e atravessa de maneira oblíqua a galeria lateral existente, chamando atenção para sua forma curva – retrato de sua função no passado, por onde o trem descarregava as carnes. A vedação dessa galeria é eliminada, revelando sua modulação estrutural e todo o espaço para os fundos do lote.

Como continuação da plataforma do trem, um piso elevado estende-se em nível até a nova construção, seguindo o desenho radial da galeria curva existente e abrindo-se para a área verde, para o trem.

FICHA TÉCNICA

Área do terreno:13.358m²

Área construída:
Térreo Tendal (existente): 8.504m²
Térreo Anexo (proposto):1.120,25m²
Primeiro Andar Tendal (existente):2.585,74m²
Primeiro Andar Anexo (proposto):438,42m²
Área total construída:12.648,41m²

 

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