A possibilidade de trabalhar graficamente em um livro com o tema animação soava como uma proposta interessante. O fato de representar a animação em páginas estáticas poderia ser um exercício enriquecedor, incorporando as diversas mídias intrínsecas à animação.
Mas o que me levou inicialmente a esse projeto, era a vontade de produzir um livro. O tema surgiu com a vontade de trabalhar com animação, quando descobrimos que seria possível prosseguir por esse caminho.
O maior interesse em produzir animação se deu início após a oportunidade de trabalharmos juntos, os alunos William Saito, Marcus Takano e eu, em um curta-metragem animado para a matéria na FAU, Cidade em Movimento, com os professores Sérgio Régis, Carlos Zibel e Cláudio Tozzi.
Quando decidimos estudar animação por conta própria, sentimos falta de livros ou periódicos brasileiros que tratassem do assunto. Resolvemos então criar nosso próprio material de acordo com o que havíamos aprendido e procuramos pesquisar mais para obtermos um resultado mais completo.
Paralelamente, desenvolvemos uma outra animação, a qual tanto serviria de exemplo no livro, como se tornou uma possibilidade para testar o que aprenderíamos a seguir. A animação já estava encaminhada antes da idéia desse projeto, mas durante a execução, sofreu uma grande transformação em sua linguagem gráfica.
É um livro sobre o processo de criar animação. Apresenta um apanhado geral sobre o que deve ser pensado em cada uma das etapas de criação, e aborda fatores históricos para explicar o motivo de como são conceituadas as técnicas.
O conteúdo foi produzido através de pesquisa em livros, internet, e making off de animações famosas, além de experiências próprias com animação e entrevistas com vários animadores profissionais.
Por se tratar de um livro didático, tentei organizar o conteúdo de maneira simples e de fácil entendimento, com diversos exemplos e imagens para facilitar a legibilidade. Além disso, há também o relato de como foram as etapas para criar a animação desenvolvida paralelamente.
Ao pensar em um público que geralmente prefere assistir à televisão a ler, a diagramação foi estudada com o intuito de convidar para a leitura, sair da monotonia, sem tornar o livro por demais cansativo. Ou seja, criar páginas um pouco diferentes uma das outras, mas evitando dificultar o leitor.
Dessa maneira, as páginas são, no geral, bastante ilustradas e os textos estão contidos em colunas não muito largas, quase sempre alinhados à esquerda, proporcionando a continuidade da leitura. Para facilitar a diagramação, o conteúdo foi colocado em uma grelha de três colunas espaçadas entre si, com margens em todas as laterais, que poderia ser respeitada ou não, dependendo do conteúdo.
No início houve certa dificuldade em organizar os capítulos, uma vez que as etapas são bastante interligadas, e algumas simultâneas. Após algumas tentativas, houve a decisão de separar mais ou menos de acordo com o tipo de criação: texto, arte, som, etc, na ordem em que começam a ser realizadas num processo normal:
- Cap.0 A importância histórica da animação
- Introdução ao processo
- Cap.1 A concepção da história
- Cap.2 A criação da arte
- Cap.3 Organização
- Cap.4 Movimento
- Cap.5 Som
- Cap.6 Finalização
- Cap.7 Panorama da animação no Brasil
Essa divisão privilegiaria o design gráfico, de modo que seria possível trabalhar cada tema em separado. A arte do livro foi criada a partir das composições temáticas nas divisórias. No processo de criação, após concluir cada divisória, suas características eram passadas para as demais páginas.
Os capítulos estão bem separados, as divisórias são em páginas duplas, sendo que a página que inicia cada capítulo possui a continuação da imagem da divisória, ocupando cerca de um terço da página, diferenciando-a das demais. Sobre esse trecho há o título do capítulo.
O livro inclui também, um capítulo sobre o panorama da animação no Brasil, porque como a animação ainda é um campo difícil para os brasileiros, seria interessante pensar nos possíveis caminhos a seguir. Nessa parte, a diagramação é baseada em jornais e revistas, com a maioria dos textos na forma de entrevista.
A arte dos capítulos apresenta em comum a sobreposição de imagens, às vezes até se fundindo, as quais sugerem o tema de cada separação. Há o emprego de pedaços dessas figuras em todo o decorrer do capítulo, no rodapé, ou interferindo em outras partes da diagramação.
A unidade de cada capítulo é proporcionada pela existência de uma tarja característica no rodapé, resultante da divisória, além de imagens que remetem ao tema, e predominância de determinada cor. A unidade do livro surge da repetição na diagramação dos capítulos, do mesmo tipo de fonte e hierarquia dos textos.
No geral, busquei a experimentação gráfica, para expressar as idéias e tentar sugerir também ao leitor. A maneira de compor através da sobreposição de diversas imagens ressaltaria o fato de a animação possuir a dimensão do tempo, além da espacial. Como a animação é dinâmica e multimídia, um design pós-moderno parecia passar uma impressão favorável.
O mais complicado era conciliar o design experimental ao fato de tratar-se de um livro didático. Por isso propus a grelha para inserir os textos e a maioria das imagens, organizando o conteúdo de maneira mais "normal".
Porém essa organização do texto não poderia ser repetitiva a ponto de se tornar monótona, porque entraria em confronto com as imagens experimentais. Dessa maneira, procurei modificar algumas páginas, fazer composições diversas com as imagens que ilustrariam o texto, além de "sujar" as páginas diferenciando-as entre si.
A animação produzida em paralelo foi importante porque possibilitou testar as descobertas teóricas na prática, além do que essas descobertas auxiliaram a melhorar a qualidade da animação.
O resultado final foi um livro de 160 páginas, com capa dura e lombada quadrada, e uma animação 2D, quadro a quadro, com aproximadamente dois minutos.
