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secao 4!

Habitação social em são paulo

 

Fernando Ruzene Rodrigues

Marcos de Azevedo Acayaba

"A arquitetura da casa é a arquitetura da cidade". Costuma-se entender a casa como uma miniatura da cidade, como reflexo da cultura de seus moradores e, por outro foco, a cidade, como uma enorme casa. Se um conjunto de casas não constitui uma cidade, é fato que grande parte do tecido de uma cidade é constituído por casas e suas construções são espelho da sociedade. Podemos então dizer que, se a cidade é a materialização das intenções de seus cidadãos, se os povos só se identificam pelos indivíduos, e se as casas são construídas tal e qual as vontades de seus habitantes, a forma da cidade é resultante da forma das habitações (da vontade de seu povo, ou das parcelas dominantes!). Seguindo esse raciocínio, é interessante reparar que cada conjunto habitacional, cada edificação uni ou multi-familiar, traz em sua forma um projeto de cidade, um desenho do urbano capaz de caracterizar a cidade e seu tecido, costurando as relações entre individuo e coletivo.

A proposta deste TFG é a construção de um conjunto de edifícios capaz de abrigar um mínimo de 600 famílias na ZEIS localizada no encontro das avenidas L. C. Berrini e Águas Espraiadas, local onde se encontra a favela Jardim Edith, na zona sul de São Paulo.

Esta favela, inserida num contexto do qual se esperam investimentos público-privados, sofreu um inchaço populacional em 2003, após o anuncio de que a COHAB construiria um conjunto com 600 unidades

Em sua totalidade, a área de intervenção é de 24.345m2 em ZEIS-1 e também dentro do perímetro da Operação Urbana Águas Espraiadas, setor Berrini. O entorno é fortemente caracterizado pelo contraste de gabaritos gerado pelos zoneamentos de uso misto de alta densidade na Av. Berrini (ZM-3b) e pelo uso estritamente residencial de baixa densidade (ZER1) da Vila Cordeiro. No entanto, o ganho de potencial construtivo proporcionado pela operação urbana tende a fazer com que este contraste se atenue.

Por estar ocupado por favelas, o zoneamento determinado é o de ZEIS 1, destinando um mínimo de 70% da área construída computável à Habitações de Interesse Social (HIS) e um máximo de 30% para outros usos.

OCUPAÇÃO E USO DO SOLO

O conjunto proposto é constituído por edifícios de uso misto habitacional e comercial, uma Creche e uma Unidade Básica de Saúde, além da reestruturação da Praça Arlindo Rossi.

A implantação dos edifícios tem como objetivo principal a integração da população das favelas ao bairro em que há décadas residem de forma marginal. Tentando dinamizar e diversificar os espaços utilizados pelos pedestres buscou-se re-qualificar as ruas com passeios mais amplos e arborizados e posicionar estrategicamente os locais comerciais. Também, visando solucionar conflitos entre espaços públicos e privados, os edifícios foram implantados configurando "pátios internos" de acesso livre e em sua maioria a meio nível acima da cota da rua. Dessa maneira há a apropriação do espaço pelos moradores de cada conjunto o que inspira a boa manutenção dos espaços coletivos e o uso público. Em contrapartida, a proposta de ampliação da rua Michel Faraday até a Praça Arlindo Rossi, com os edifícios implantados de maneira a favorecer a visual a partir da Av. Berrini, potencializa o uso da praça.

Como já referido anteriormente, a rua Charles Coulomb mantém seu caráter comercial e de referencia para a distribuição dos usos e fluxos. Na parte próxima à Berrini localizam-se a UBS e os principais serviços de lazer e comercio nas adjacências. Nesse sentido, os conjuntos de edifícios localizados nessa porção do terreno têm acessos em nível a partir da rua com o intuito de criar espaços conexos e fluidos, mais atrativos à população transeunte. Na porção mais resguardada, próxima à praça, está a Creche. Este local mostrou-se mais conveniente devido à menor circulação de pedestres e veículos, e melhores qualidades acústicas e ambientais, com acesso direto à praça pública.

DESENHO e PAISAGISMO

A morfologia dos edifícios partiu de um intenso estudo volumétrico através de maquetes e croquis, estudando fluxos, usos e visuais, tendo como principal preocupação a apreensão do espaço pelo pedestre.

Após o estudo de projetos de referência, visitas ao terreno e a outras obras, foram eliminadas a princípio propostas tipo "carimbo" entendidas como incentivadoras da segregação, já que caracterizam à distancia o ambiente graças a preconceitos adquiridos e a qualidade dos espaços comumente gerados. Assim, partiu-se para um estudo de soluções habitacionais aplicadas em outros sítios e em variadas épocas da história.

Tentando manter a escala humana nos percursos e criar perspectivas visuais facilmente apreensíveis a curta distância, porém instigadoras a uma distancia maior, os edifícios se configuraram com inflexões, ora acelerando ora direcionando as perspectivas, criando visuais mais ricas.

Nesse sentido, a rua Charles Coulomb teve inicialmente sua forma alterada com uma curvatura próxima ao encontro com a rua George Ohm figurando um traçado curvo em "V". No entanto, entendeu-se que a modificação no traçado seria um dado que desconfiguraria a malha urbana e poderia gerar características segregadoras, já que poderia ser assumida (mais uma vez) como "rua interna ao conjunto" e a intenção é o oposto. Então é mantido o paralelismo com as demais vias, como se pode verificar.

Trabalhando como que com miolos de quadra, houve inicialmente uma tentativa de criar áreas de lazer coletivas no interior do conjunto, potencializando a convivência e o uso das áreas livres. Não obstante, os espaços resultantes mostravam-se ora com proporções descontroladas, ora de uso muito restrito aos moradores. Tentou-se então trabalhar em conjunto com a praça e criar espaços de usos complementares. Assim, nas áreas externas é proposto um desenho de piso indicando percursos pelo conjunto e ordenado conforme o uso dos espaços. A vegetação proposta segue o mesmo tema, caracterizando individualmente cada espaço seja pelo volume, pela permeabilidade à luz do sol ou por sua distribuição regrada que conduz à praça pública.

 

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