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secao 4!

HQ Processo Urbano

 

Gil Tokio de Tani e Isoda

Minoru Naruto

introdução

Foi mais ou menos nessa ordem:
Juntei lixos e sucatas que catei pela cidade, fiz um boneco-robô do tamanho de uma pessoa adulta, passeei com ele e fui desenhando, fotografando e pensando coisas, tudo em caráter experimental.

Desse percurso saiu uma história em quadrinhos.

O objetivo era alargar as possibilidades gráficas, estéticas, de linguagem, processuais, entre outras, explorando e otimizando o potencial de cada uma delas. Sendo o risco e o acaso colocado como diretrizes de projeto.

A grande cidade, apesar de soar clichê, foi posta como mote-objeto-de-trabalho tanto do processo quanto do enredo final da hq, buscando uma leitura urbana crítica.

A coisa toda se desenvolveu na base da "formatividade"[1], na qual tanto o que se faz quanto o modo de fazer são definidos durante o processo.

Eis as etapas do projeto:

1- construção robô
Vasculhando os pontos onde há acúmulo de resíduos da cidade (lixões, caçambas, lojas de usados, cooperativas de catadores e até as próprias ruas) obtive matéria prima para construir meu robô e fui reunindo leituras e experiências urbanas.

Para poder estruturar o dito cujo, projetei e construí um esqueleto articulado de alumínio, utilizando a infraestrutura do laboratório de modelos e ensaios da faculdade.

2- passeios
Com o intuito criar situações inusitadas e produzir mais matéria-prima para meu trabalho, fiz passeios em alguns pontos da cidade levando sempre comigo o robô de lixo.

Essas derivas passaram por unidades da USP, pela feira de antiguidades do Bixiga, por duas cooperativas de catadores, um aterro sanitário, pelo centro cultural são paulo, pelo metrô entre outros lugares.

3- desenhos e imagens
Desde o início até o fim do trabalho produzi desenhos, fotos, pinturas, fotomontagens, gravuras... buscando arriscar novas possibilidades dentro de diversas técnicas e trabalhando em espaços físicos diferentes.

Durante todo esse processo de produção experimentei inserir essas imagens em contextos diferentes para gerar novos diálogos. Alguns contextos eram urbanos, como as caçambas nas quais colei algumas imagens; outros virtuais, como as imagens que publiquei em meu blog e fotolog.

Esse material produzido e organizado foi essencial posteriormente para concepção da história em quadrinhos, onde inclusive muitas imagens entraram diretamente no produto final.

4-produção da história em quadrinhos
Compilando, analisando e dissecando o material e as idéias obtidas nas etapas acima, elaborei um roteiro para história em quadrinhos.
Simultaneamente ao processo de editar e produzir novas imagens para a história final, fui definindo melhor os desdobramentos do enredo.

5- impressão
A etapa final do projeto foi imprimir a história em quadrinhos levando em consideração técnicas gráficas que permitem reprodutibilidade em larga escala.
Para isso foi utilizada a gráfica da faculdade, aproveitando as possibilidades da serigrafia e do offset.
A minha participação nesta etapa de materialização do projeto em produto foi direta, trabalhando junto aos técnicos da gráfica.

conclusão

Um processo que carece um pouco de lógica que justifique sua existência, mas que justamente por isso é tão útil ao que se propõe: gerar resultados inesperados. A transição entre linguagens acaba promovendo a troca de elementos e idéias entre elas, gerando novas respostas.

O percurso flertou com o design industrial, leitura urbana, escultura, programação visual, pintura e ilustração culminando em uma história em quadrinhos. Mas, talvez, passou por todas e não entrou em nenhuma de modo mais profundo.

O resultado final, sinceramente, não me agrada como agradaram outros projetos que já fiz anteriormente. Mas nenhum dos outros projetos tinha tamanha complexidade.

Acentua a minha opinião um pouco negativa o fato de ter, propositadamente, me esquivado do pragmatismo com o qual costumo raciocinar todos os projetos. Neste busquei uma fluência mais despretensiosa para gerar resultados mais espontâneos.

Talvez por isso me pareça um trabalho que soa como se não soubesse de onde veio e para onde vai, mas que fez um monte de coisa.

Talvez por isso me pareça estranho.

O caráter de ensaio experimental me parece saudável e promissor, podendo ser uma constante ao longo de todo meu processo produtivo deste momento em diante.

O fato de o produto final precisar, no meu projeto, ser uma história em quadrinhos limitou um pouco as possibilidades de extrapolar limites gráficos, pois tinha que atender a determinadas necessidades narrativas. Por outro lado trouxe uma função mais clara às imagens produzidas. Isso pode ser melhor desenvolvido em projetos futuros, mesmo mantendo essa meta dentro do âmbito dos quadrinhos.

O trabalho, no final das contas, resultou num pequeno gibi que serve de intersecção entre mídias diferentes, tentando estabelecer diálogo entre elas, onde a própria revista e o material virtual via internet servem para viabilizar esse diálogo.
Espero que sirva de contribuição, ao menos com idéias, ao restrito e viciado universo das histórias em quadrinhos e também ao grande, complexo e confuso universo das artes gráficas em geral.
E, por que não?, espero que contribua para uma existência humana mais harmônica.

notas


  1. Luigi Pareyson, em Os problemas da estética, definiu formatividade com sendo "em fazer que seja, ao mesmo tempo, invenção do modo de fazer", ou seja, "em fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer" - citado por Vera M. Pallamin em Arte Urbana: São Paulo: Região Central (1945-1998): obras de caráter temporário e permanente. São Paulo, Annablume, FAPESP, 2000. pág 16.

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