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secao 4!

Parque de Esportes Radicais e Aventura

 

Hernani Carvalho Paiva

Marcos de Azevedo Acayaba

PREMISSAS

O centro de São Paulo vem sendo cotidianamente debatido tendo como constatação recorrente o seu estado de "estagnação" ou de "decadência". Essa avaliação pode ser contestada avaliando-se o dinamismo observado dentro dos diversos "circuitos econômicos" ativos no centro. Entretanto, é inegável a alteração do seu valor, na medida que sua função centralizadora de comércio e serviços foi pulverizada em outros centros.

E o que restou ao centro? Em primeiro momento, fica o valor simbólico, como referência histórica da constituição através de seus sítios, ruas, monumentos e de sua geografia. Por mais afastamento que boa parcela da população mantenha, ainda constitui na imagem da cidade, um valor referencial.

Este é o símbolo dos novos processos da cidade contemporânea, em que a localização física é relativisada e ganha outros aspectos, pulverizando os antigos paradigmas de trabalho, o que por si só desmorona a constituição de um centro tradicional.

As análises e soluções propostas pelo poder público ignoram essa realidade, procurando métodos às vezes saudosistas, e muitas vezes desconectados à realidade metropolitana.

O transporte é mais que um mero aspecto técnico, é um elemento intrínseco à cidade contemporânea. Mesmo, como dito acima, com a desvinculação restrita do espaço à determinadas funções e as possiblidades de comunicação e transmissão de dados, as pessoas em contrapartida ampliam o seu uso e a necessidade do transporte, agora não apenas com o objetivo de chegar ao seu local de trabalho, mas como de lazer, entretenimento e cultura.

Por outro observa-se algumas deficiências de espaço no centro e na região metropolitana para a prática de esporte e lazer.

Existem poucas pistas e espaços para modalidades skate na região metropolitana mesmo com a grande popularização do esporte na década de 1990, chegando a conquistas de mundiais.

O objetivo é suprir a necessidade de um equipamento diferenciado que sirva para uso livre da população e tenha estrutura para abrigar competições de nível internacional, tornando-se um parque dedicado a esportes que não dispõem de equipamentos na cidade. Abrindo possibilidade para quem trabalhe, more ou apenas queira freqüentar o espaço. Além da prática, agregar atividades de oficinas que capacite os esportistas a desenvolver seus próprios equipamentos, o que tornaria o esporte ainda mais acessível, transformando o centro além de um parque público em um meio de inclusão social.

Projeto Arquitetônico

O interesse em utilizar a Casa das Retortas surgiu principalmente devido a seu amplo vão e excelente pé-direito, e por se tratar de um edifício público que, como muitos outros no centro está sem função. A sua localização também é oportuna, diante de um grande vazio que é o parque D. Pedro II, e próximo ao grande fluxo das estações do Metrô e do terminal D. Pedro II.

Em virtude da distinção do programa em esportes aquáticos e radicais a decisão inicial foi segmentá-los, ocupando respectivamente o Parque D. Pedro II e a Casa das Retortas. A expansão para a área do parque justificou-se primeiro pela necessidade de responder a um problema urbano que representa o Parque D. Pedro II, e segundo pela boa condição que oferece ao estabelecimento do programa.

Uma das incongruências levantadas foi a existência de eixo de circulação de pedestres em que os mesmos ficam restringidos por grades por todo o percurso. A proposta é criar uma marquise que valorize essa passagem e ao mesmo tempo possibilite um espaço abrigado de uso.

Nos esportes tradicionais invariavelmente o espaço é rigidamente determinado. Os organizadores buscam, em um modo de ação cartesiano, criar um universo controlado. Tudo é passível de mensuração. Isso vai da altura da rede de tênis ao coeficiente de atrito de um velódromo.

O objetivo não poderia ser o mais próximo dos preceitos iluministas. Garantir um meio com variáveis conhecidas para que pudessem ser realizadas em qualquer parte do globo.

O homem é um ser lúdico. E onde está o lúdico nestes esportes? O lúdico está exatamente em encontrar soluções dentro deste universo de rigidez de regras corrompam a lógica imediata.

Nos esportes radicais e de aventura o lúdico é produto quase inverso desta lógica. O meio físico não obedece a rigidez e o lúdico é a resposta que o indivíduo dá a uma determinada situação. Deste modo o espaço não pode ser congelado e não se pode definir o que será de uso. Ao final tudo pode ser passível a experiências e não podemos prever exatamente a fronteira de uma coisa ou de outra.

Com este raciocínio, as instalações foram pensadas como um todo, buscando o obediência de poucos pré-requisitos e deixando livres as experiências.

Assim as interações do público, usuários, espectadores de uma modalidade e outra é uma constância. A oficina é imediata à pista. De uma passarela o usuário observa um escalador em seu nível e ao virar acompanha a última manobra no vertical. Enquanto alguém pratica no corrimão, um outro passa o som no palco.

Mas arquitetonicamente como é resolvido? O eixo condutor da marquise prossegue na Casa das Retortas. No entanto o objetivo é diverso. O edifício tem uma dimensão determinantemente linear. O eixo secciona-o perpendicularmente, possibilitando ao usuário vivenciar toda a série de atividades que perpassam no outro sentido.

Essa é a estrutura espacial proposta, com as atividades orbitando em torno dos eixos das alvenarias do edifício e a passagem de pedestres. No entanto este sistema é de uma rigidez aparente, pois o fluxo e a possibilidade de observação mútua dos usuários e a possibilidade de alteração de uso transforma o parque em um conjunto vivo e diversificado.

 

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