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secao 4!

Um olhar investigativo nas Ruínas São Jorge dos Erasmos e região

 

Kelly Naguissa Sato

Maria Cecilia França Lourenço

O trabalho associa a prática do arquiteto - de observar criticamente o espaço em que vive, de imaginar e propor idéias para solução de problemas - com a própria prática cidadã. Esta relação aponta o cidadão não somente como o sujeito imbuído de direitos e deveres, mas como agente, que é capaz de perceber, criticar, imaginar, comunicar, propor e agir na direção de seu mundo ideal.

Acredita-se que o arquiteto tem a contribuir nas questões de interpretação dos espaços e da sociedade; da mesma maneira em que a educação pode auxiliar na compreensão do trabalho do arquiteto. Nota-se que há validade tanto nos trabalhos de projetos urbanos e de edifícios, quanto naqueles que auxiliam a percepção destes espaços.

A ligação Arquitetura e Educação é vista aqui como uma prática de despertar a investigação através da observação. Esta ação deve proporcionar a liberdade para imaginação e para associações com questões multidisciplinares, ou outras do nosso próprio cotidiano. Com este intuito, optou-se explorar as Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos e região como espaços de provocação do olhar e da imaginação, potencializados pelo caráter identitário da nossa nação.

A história brasileira é ponto comum de formação de uma identidade nacional. Ela interfere na construção de valores sociais e no senso de pertencimento a uma sociedade. As Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos [fig.1] e região são cenários que remetem ao tempo passado, prestando testemunho desde o início da colonização, no século XVI.

As Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos marcam e são simbólicos do início da produção açucareira no Brasil (sua construção data do início da década de 1930), remetendo também à sociedade estratificada, com utilização da mão de obra escrava africana e indígena, à economia colonial, à tentativa de permanecer e ocupar o local enfrentando a resistência de possíveis ataques indígenas e de outras nações européias.

A região em que se insere, a Baixada Santista, tem seu destaque quando imaginamos a escolha da implantação do engenho; o caminho para o interior; o trânsito de desbravadores, portugueses, jesuítas, indígenas, negros, mulatos, mamelucos. A crescente ocupação do interior do estado, e posterior desenvolvimento de culturas como o café, nunca deixaram de fazer da Serra do Mar um grande desafio a ser ultrapassado para que ocorra ligação entre o planalto e o porto. Soma-se a isto a diversidade ambiental dos ecossistemas de Mata Atlântica e mangue, patrimônios gerados pela natureza através das transformações em milhões de anos da geomorfologia e do clima da Terra.

A presença no ambiente das ruínas desperta sua reconstituição no imaginário. Ao observar a parte (a disposição dos alicerces em ruínas, os objetos soterrados) podemos visualizar, de forma hipotética, o todo (o engenho, sua fortificação e seu funcionamento). O mesmo também vale para a noção do todo regional (verificamos os rios, o relevo), e percebe-se a parte (estratégia de defesa, transporte do engenho).

Entende-se que o mesmo canal da observação e imaginação que deduz o passado tem condições de projeção para o futuro. Desta forma, através do uso da fantasia como meio de adentrar no universo infantil, tomou-se proveito da intensa atividade da imaginação no universo das crianças do Ensino Fundamental, para instigar a investigação tanto na escala local quanto na regional.

As Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos pertencem hoje à Universidade de São Paulo (USP), através da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. O trabalho que está sendo realizado para a preservação deste patrimônio, segue as recomendações das cartas patrimoniais internacionais de monumentos históricos, artísticos e arqueológicos (Carta de Veneza 1962, Convenção de Paris | Unesco 1972, Declaração do México | Icomos 1985), portanto entende-se que há também a necessidade do enfoque educacional e de um reconhecimento, valorização e apropriação qualificada da comunidade para com o patrimônio e sua permanência.

Desta maneira, o desenvolvimento deste trabalho pode ser visto como um complemento que poderá potencializar os esforços da universidade.

Decisões de projeto

Foi desenvolvido um livro que conta a história de um gigante viajante; e peças lúdicas que acompanham e complementam as informações do livro.

A visão do regional é própria de um gigante. O fato de ser um viajante, com seus registros de viagem, faz alusão aos que se aventuraram aqui, no novo continente. As cartas, os diários e as pinturas são documentos de muito valor, pois foi com base nisso que se constituiu o conjunto de informações do início da história brasileira.

O formato grande do livro (30 x 42cm) é ligado à escala do gigante, que o possui como próprio caderno de anotações. Apesar do livro remeter em alguns momentos ao passado, a linguagem das ilustrações se comportam de forma mais livre, com ilustrações feitas com pastel oleoso (anotações locais), fotografia (anotações regionais) e desenho elaborado digitalmente (traço do personagem).

A lupa do Gigante é o instrumento de investigação que permite a sua aproximação com a escala do homem. Em cada espaço particular, a lente de aumento é utilizada, e percebe-se dentro de cada um novos elementos característicos. É o momento em que se passa do geral para o particular, observa-se os homens do engenho, animais e plantas do mangue e mata atlântica.

Ao fim do livro sugere-se a inversão dos papéis, entre o leitor e o protagonista da história. Aqui a criança passa a construir sua própria história. É convidada a montar um modelo em escala reduzida da região e dispõe de algumas informações sobre local visitado pelo gigante. É estimulada a observar o "mundo das formigas", enfatizando o olhar investigativo do gigante no ambiente em que o leitor se insere.

Imagina-se que seja agradável à criança, geralmente vista como pequena, se imaginar gigante e capaz, e relativizar seu próprio tamanho com relação ao espaço em que vive.

 

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