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secao 4!

Intervenções Gráficas Urbanas

 

Marcelo Ferreira

Carlos Roberto Zibel Costa

Trata-se de uma série de intervenções gráficas em forma de colagens, realizadas nas principais vias de circulação de São Paulo e nas traseiras dos ônibus municipais. O intuito deste trabalho é promover a discussão sobre o potencial que os espaços urbanos de trânsito têm para intervenções que promovam a comunicação visual urbana sem fins lucrativos, chamando a atenção para a utilização irregular desses espaços pela publicidade, o que vem ocasionando o atual cenário de poluição visual que procura se reverter atualmente. A pesquisa teórica partiu da leitura de teses sobre as linguagens da comunicação visual, o papel do rodoviarismo na formação urbana brasileira, a progressão histórica da pintura na paisagem urbana e a interatividade intrínseca às intervenções artísticas em locais públicos, entendidas como práticas que geram atitudes e pensamentos espontâneos, e a partir disso geram a reflexão no espectador urbano.

A alteração na paisagem de São Paulo promovida pela mídia exterior foi fonte de inspiração para a criação de imagens experimentais que de alguma forma explorassem o dinamismo como fator preponderante no cotidiano dos habitantes da metrópole. Foram impressos painéis com as imagens propostas e coladas em locais de alto tráfego de pedestres e veículos: Avenida Paulista e Rua da Consolação. Para a elaboração destes painéis houve a influência da situação de caos gerada no trânsito de veículos, devido aos ataques da organização criminosa PCC em maio de 2006.

Outra intervenção que procurou retratar esse momento vivido em São Paulo foi a serigrafia de um ônibus queimado, feita sobre plástico adesivo e colado em uma placa das obras da linha 4 do metrô, acima da logomarca do Governo do Estado de São Paulo - logomarca esta descaracterizada pela gestão de Cláudio Lembo, onde até o slogan "respeito por você" foi excluído.

Em seguida, procurou-se explorar um problema que aflige o usuário do transporte público: a utilização de propaganda irregular nas traseiras dos ônibus. Essa prática em ônibus de São Paulo voltou a ser legalizada em 2006, apesar de já ter sido proibida na administração municipal anterior. A ação de colagem em ônibus foi proposta por dois motivos: primeiro pela crítica à poluição visual externa; segundo, para alertar os próprios usuários do prejuízo representado pela falta de visibilidade ocasionada pela propaganda veiculada nos vidros traseiros. O implemento do bilhete único tornou possível as trocas de ônibus e a escolha do percurso pelo usuário. Ao se olhar pelo vidro traseiro, é possível saber se o ônibus que vem logo atrás pode auxiliar no encurtamento do tempo de viagem. E a propaganda irregular tolhe esse direito de escolha do trajeto, pois sem visão traseira o usuário não avalia a possibilidade de troca de ônibus. Foram feitas duas imagens para essa intervenção: um ônibus, que foi impresso em serigrafia sobre adesivo e colados nos vidro traseiros, enquanto os ônibus esperavam a subida dos passageiros em um ponto de parada, e a frase "poluição visual", realizada com máscara e spray e colada nas mesmas condições.

O vídeo dessa e das demais intervenções foi divulgado na internet.

O acesso à informática e à rede mundial de computadores de modo mais intenso nos últimos anos em São Paulo proporcionou um aumento significativo de interações virtuais, e por conseqüência, também reais com a metrópole. A linguagem atual de expressão artística urbana está de alguma maneira interligada ao costume do uso do computador e das tecnologias da rede de comunicação via internet. A cultura do faça-você-mesmo se modernizou com o advento dessa ferramenta. Com a internet, as trocas ampliaram-se gigantescamente, o que gerou também o aumento da criação de conteúdos pelos próprios usuários do sistema e fazendo com que existam a cada dia mais produtores de mídias na Rede. O interventor faz uma analogia dessa possibilidade com a cidade, na qual percebe também uma participação real. O crescente aumento de atividades autônomas produtivas estão se dando de maneira horizontal, sem uma hierarquia ou centros rígidos de comando. Trata-se de um reflexo do pensamento anárquico, que sempre existiu. Ou seja, o compartilhamento de informações produz conseqüentemente a popularização do que está sendo divulgado nas ruas. Essa estratégia tem sido percebida como eficaz em intervenções reais sobre a cidade. A rua é uma espécie de mídia, que complementa a conexão virtual. As fotos deste trabalho estão postadas em
www.flickr.com/photos/classemedia

Uma outra seqüência de colagens foi realizada na Rua Xavier de Toledo e na Avenida Angélica. É um congestionamento, intitulado "1 pra 1", em que o mesmo espaço de trânsito é ocupado por catadores de recicláveis e pessoas em automóveis importados. Essa intervenção teve o intuito de demonstrar a discrepância entre as classes sociais que co-habitam os espaços de trânsito de São Paulo. Para cada pessoa dentro de um carro, existe outra puxando uma carroça. Em última análise, o que se procurou demonstrar é que a condição humana é uma só, o que diferencia esses dois personagens urbanos é apenas o poder econômico do motorista do carro, que garante sua pseudo-mobilidade no espaço urbano.

A última intervenção desta série utilizou novamente o mesmo painel da Avenida Paulista, agora para prestar uma homenagem ao geógrafo Milton Santos, às vésperas do dia da Consciência Negra, em 21 de Novembro. Foram impressas em papel de seda doze imagens, coladas sobre o tapume, com a intenção de apresentar mais uma vez a idéia de que a comunicação através de linguagens gráfico-visuais é possível sem que se pretenda lucrar algo com isso.

Todas as intervenções realizadas são na verdade atitudes de crítica à lógica vigente, em que a maioria das informações visuais veiculadas nas cidade têm no fundo um apelo ao consumo de bens, serviços ou ideologias. Outras formas de diálogo urbano podem ser estabelecidas entre os habitantes, e pela condição dinâmica em que nos encontramos, temos no espaço público um suporte eficiente para qualquer manifestação da sociabilidade que vivemos e que queremos ajudar a construir.

 

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