O objetivo deste trabalho é identificar o processo urbano paulistano no intervalo de tempo definido entre seu boom populacional - e consequente crescimento urbano da cidade - e 1964. (Este intervalo, portanto, abrange o Brasil República, a Era Vargas e os anos precedentes ao golpe militar). Ele se divide em duas partes: uma analítica, onde se constrói o processo urbano capitalista em geral; E uma histórica, onde tal análise se estrutura sobre o panorama social, político e econômico do Brasil em momentos específicos.
A primeira parte baseia-se prioritariamente nos textos do professor Csaba Déak, definindo-se o processo em que se forma o espaço de produção e reprodução social. Dividindo esta parte em seis itens, procurei hierarquizar o processo urbano através de uma sociedade, cujo status quo e sua classe dominante estão diretamente ligados ao seu estágio de desenvolvimento, e a partir da qual se definem políticas urbanas responsáveis pela formação do espaço urbano, onde se localizam a produção e a reprodução social. Enquanto a qualidade deste espaço é definida pelas relações dentre as diversas localizações, os processos específicos de produção - cada um em seu locu - baseiam-se em meios de produção, matéria prima e mão de obra. A mão de obra, ou força de trabalho, depende de suas condições de reprodução, dentre as quais é possível indicar a habitação como destaque, sendo este item o que insere o trabalhador na malha urbana e o que define seu acesso às outras condições de reprodução da sua força.
A segunda parte deste trabalho utiliza-se do conceito de processo urbano definido na primeira parte, relacionando os acontecimentos contemporâneos no Brasil, e, mais especificamente, em São Paulo, para identificar o processo urbano na capital paulistana. Para tal, a análise parte do desenvolvimento habitacional da cidade, aprofundando-se em três momentos distintos e, dentro destes, destacando-se quatro importantes acontecimentos. Os três momentos são o Brasil República, a Era Vargas e os anos pré-Golpe Militar. Dentro destes momentos, destacam-se os quatro episódios: o mercado rentista, os IAPs, a FCP e a Lei do Inquilinato. Assim, parto do escopo habitacional para levantar as condições de reprodução da força de trabalho, e, através desta, levantar o processo urbano contemporâneo.
O desenvolvimento do trabalho teve início durante uma pesquisa aprovada pelo CNPq em 2004 e realizada até 2005. A proposta inicial para tal pesquisa esteve sempre relacionada ao departamento de planejamento, da matéria AUP 268 em diante. Primeiramente, desenvolvi uma monografia para a disciplina AUP 272, referente à Operação Urbana das Águas Espraiadas, onde um grande contingente populacional foi removido das proximidades do córrego para a construção da avenida. Tal remoção foi acompanhada pela professora Mariana Fix, que narrou em Parceiros da Exclusão todo o processo da Operação. O que me chamou a atenção, dentro de todo este processo de exclusão foi a reunião de alguns empresários ligados à Avenida Berrini para levantar uma quantia de capital para auxiliar a remoção e participar, junto do poder público, da Operação. Parte dessa quantia foi destinada à construção de um conjunto habitacional não muito distante dali, perto da Rodovia Raposo Tavares. Dentre os vários núcleos de favela removidos, à jardim Edith (o mais próximo da Berrini) foi oferecida a possibilidade de se mudar para o conjunto habitacional na Raposo, enquanto a todos os outros núcleos de favela a possibilidade habitacional se limitava a um conjunto habitacional na extrema zona leste de São Paulo, em Cidade Tiradentes. Minha pesquisa se propunha a comparar a qualidade habitacional dos dois conjuntos originados com a Operação das Águas Espraiadas: um periférico e externo à malha urbana; Outro mais próximo da antiga região.
No entanto, conforme eu procurava compreender conceitos da produção do espaço e da formação urbana, me distanciei dos motivos práticos da pesquisa e me ative ao seu levantamento teórico, relacionando sociologia, economia e planejamento urbano. Assim, aprofundei-me nos trabalhos do professor Csaba Déak, dos quais a partir de minha interpretação procurei estruturar como o processo urbano. Na pesquisa também estudei o trabalho do professor Nabil Bonduki, procurando historicizar as origens e os acontecimentos históricos referentes à habitação no Brasil e em São Paulo. Principalmente a partir de seu livro Origens da habitação social no Brasil, levantei os acontecimentos relacionados à habitação popular durante a Primeira República, a Era Vargas e os anos pré-64.
Quando iniciei este TFG, minha idéia era a de relacionar de alguma forma alguns itens aprendidos ao longo da FAU. A minha idéia era a de realizar um trabalho que costurasse mais de uma disciplina, por exemplo, planejamento urbano, história e projeto. Como eu ainda não tinha muita noção de como fazê-lo, tinha a intenção de, a partir da pesquisa, utilizar-me do processo urbano e da habitação paulistana relacionando-os e abrangendo, com isso, toda a malha urbana de São Paulo, para, em seguida, encontrar uma proposta que auxiliasse o próprio processo urbano paulistano. Ainda em relação aos textos do professor Csaba, tal proposta estaria ligada à reestruturação urbana através de uma malha metroviária. Em seguida, adentrando a área de projeto, gostaria de realizar o projeto de uma estação de metrô dentro de uma malha proposta a partir da análise do PITU 2020. No entanto, somente a primeira parte, a teórica, já ocupava mais tempo e era mais densa do que eu esperava, portanto me ative exclusivamente a ela.
