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secao 4!

Corredor Verde Penha-Itaquera:

Estratégias de projeto e planejamento ambiental para áreas residuais na cidade.

Patricia Mara Sanches

Joana Carla Soares Gonçalves

Este trabalho aborda a criação de um sistema de áreas verdes a partir de áreas degradadas e residuais transformando-as em dois parques (Parque Penha e Parque Itaquera) conectados por um corredor verde. O projeto está localizado na Zona Leste da cidade de São Paulo, ao longo do principal eixo de transportes que liga a região ao centro, compreendendo um trecho da Radial Leste (automóvel, ônibus), a linha ferroviária do trem Metropolitano e do Metrô de superfície, das estações Penha a Itaquera. A área total do projeto é de 9 km de extensão, sendo que apenas o Corredor Verde chega a 6 km, com uma largura mínima de 8 metros.

A intervenção constitui um conjunto de estratégias de desenho ambiental urbanístico e de planejamento com respostas e soluções locais, levando-se em conta os conceitos da sustentabilidade na cidade.

Primeiramente, foi realizada uma análise em macro-escala, abrangendo os distritos em que o projeto está inserido, resultando em um diagnóstico físico-urbanístico, socioeconômico e ambiental, identificando os problemas e potenciais da região. Logo após, o trabalho recebeu um estudo mais apurado de caracterização física e urbana do entorno imediato (uma quadra urbana para cada lado do corredor verde), com o mapeamento do uso do solo, acessibilidade, área permeáveis x impermeáveis e áreas potenciais (áreas livres permeáveis). A partir destes estudos conjuntos foram lançadas as primeiras diretrizes de intervenção para requalificação da área. Paralelamente foi feito um levantamento histórico da região, identificando as principais atividades econômicas, o processo de urbanização e apropriação do local pelos moradores ao longo dos séculos até os dias atuais. Aliado a isto, visitas in loco e análise da imagem de satélite, permitiu levantar e discutir questões ambientais que ocorre na área de intervenção, de forma pontual como, por exemplo, na região da Penha, o problema da drenagem das águas pluviais, das eventuais enchentes a jusante e o impacto dos reservatórios das águas da chuva (piscinões) na paisagem; no outro extremo, em Itaquera, o foco está na degradação e contaminação do solo por atividades de mineração e posteriormente pelo aterro de resíduos inertes; ao longo do corredor a questão da poluição sonora e da degradação da paisagem pela predominância de áreas permeáveis residuais.

Da análise do contexto urbano foram levantadas e discutidas questões ambientais existentes, como a degradação e contaminação do solo por atividades de mineração e aterro, restauração ecológica do ecossistema degradado, acústica urbana, entre outras. A partir deste processo, são propostas soluções estratégicas baseadas no planejamento sustentável, na ecologia urbana e no conforto ambiental. A intervenção resultou no aumento de quase 50% da área verde do local através de novas e diferentes concepções do uso do verde e seu papel na cidade: função ecológica, função social e de lazer, uso produtivo-econômico, com a aplicação da agricultura urbana.

A função social se traduz em um uso recreativo e paisagístico do verde tem como principal objetivo proporcionar áreas de lazer e descanso para a população, porém não deixa de abrigar a fauna local, principalmente àquela adaptada ao meio urbano; além de valorizar a importância da paisagem na melhoria visual da cidade como um instrumento articulador do espaço urbano. O uso produtivo significa a implantação de áreas de agricultura urbana, tendo como modelo prático a permacultura na cidade, tornando-se uma fonte alternativa de produtos agro-alimentícios para o consumo da população local. E finalmente o uso ecológico prioriza o estabelecimento de fluxo gênico da fauna e flora com fragmentos florestais próximos de forma a garantir a perpetuação das espécies, a conservação e a proteção da biodiversidade e dos recursos naturais locais.

No parque Penha a principal estratégia foi a transformação do reservatório temporário em reservatório permanente e intervenções na calha do córrego, que resulta na melhoria da drenagem urbana e da qualidade ambiental.No parque Itaquera, a restauração ecológica foi a principal estratégia de recuperação ambiental e requalificação, visto o enorme potencial de conectividade ecológica com fragmentos florestais a sudeste da área, somado à preocupação de preservação dos recursos naturais existentes e a alta demanda de áreas verdes de lazer para população local.

Um das principais funções do corredor verde é promover o fluxo de pedestres e ciclistas e a recuperação ambiental do local, considerando as questões do conforto ambiental (térmico, acústico: ruído urbano) e restauração a vegetação nativa, além de criar novos nichos ecológicos para abrigo da fauna local.

As estratégias para corredor verde são diferenciadas entre os dois lados do corredor: sul e norte, devidos a exigências distintas e peculiaridades de cada lado, porém em ambos houve a preocupação em privilegiar pedestre e o ciclista criando rotas diferenciadas e que em cruzamentos com ruas, estes dois tenham a preferência. São propostas passarelas de pedestre para a conexão dos dois lados do corredor; um plano paisagístico sustentável, evolvendo agricultura urbana; um programa de uso ao longo do corredor e nos parques, como, lanchonetes, bares, sanitários públicos, postos policiais, espaços para comunidade, quitandas da agricultura urbana, bancas de jornal e revistas.

No lado norte a rua foi diminuída - já que o fluxo de carro não é intenso, dando lugar ao passeio de pedestre e ao ciclista. O corredor ora se estreita, ora se abre para alguma praça ou áreas residuais ou abandonadas, criando um sistema de áreas verdes. Já no lado sul, existe em sua maior parte a recuos generosos e constantes, mas que apresentam em alguns trechos declividades altas. Estes obstáculos foram solucionados com remoção de terra, de forma que se criassem patamares para os dois passeios (ciclistas e pedestres) protegidos da radial leste pela vegetação e pela barreira acústica.O entorno, ou seja, as ruas que terminam no corredor também receberam um tratamento diferencial, permitindo que a população identifique o Corredor Verde, não como um projeto urbano pontual e definitivo, mas que se irradie ao poucos para a cidade, propondo soluções sustentáveis e melhor qualidade de vida a população.

Na avaliação global destas estratégias integradas, pode-se concluir que estas representam práticas eficientes, viáveis e aplicáveis ao contexto local no sentido de estabelecer uma conectividade ecológica de áreas verdes, melhoramento do microclima e da qualidade de vida, além de cumprir o papel de referência metodológica e prática para outras áreas da cidade de São Paulo ou outros centros urbanos.

 

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