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secao 4!

O olhar computadorizado

 

Rafael Baravelli

Silvio Melcer Dworecki

O trabalho final de graduação teve como objetivo explorar a união da nova linguagem visual e artística proporcionada pela revolução digital com a linguagem pictórica manual tradicional.

Essa experimentação se baseou em um método para dirigir o seu desenvolvido ao longo do semestre. Esse método foi retirado do texto "A ciência do olhar atento" de Lucrécia Ferrara e, resumidamente, estabelece que, para se investigar algo, devemos, a partir da "surpresa de um fato" (no caso, a revolução digital) estabelecer uma hipótese inicial e uma série de experiências que possam testá-la e aprimorá-la.

Esse movimento de produção - reflexão - reformulação, de um constante ajuste, foi perseguido no TFG através do estabelecimento de uma hipótese inicial que foi posta a prova em quatro séries de trabalhos.

A hipótese inicial era que através do computador nos foi proporcionado um enorme aumento na quantidade e na qualidade de material visual disponível, e a partir deste material poderíamos, através do desenho de observação, atingir certos objetivos artísticos que seriam impossíveis, ou ao menos inviáveis, anteriormente.

Essa primeira série (trabalhos 1-3) teve como ponto positivo a confirmação de que a revolução digital realmente ampliou horizontes, expandindo imensamente o acesso de quem que seja à uma infinidade de imagens. Teve, porém, como ponto negativo uma separação muito radical entre a concepção (puramente digital) e a execução (puramente manual).

A hipótese corrigida por essas primeiras experiências era a de que, para melhor aproveitar o aumento na disponibilidade de matéria visual, era necessário explorar uma maior interação entre a atividade digital e a manual, seja na fase da concepção, seja na da execução.

Essa segunda série (trabalhos 3-6) conseguiu ao menos estabelecer um contato mais intenso entre a impressão digital e o gesto manual. Sua deficiência porém era coletar as imagens digitais a partir de "temas", ou seja, num trabalho apenas paisagens urbanas, num outro indústrias, num terceiro, apenas microchips e microorganismos, etc.

A nova correção da hipótese foi que para melhor aproveitar o aumento na disponibilidade de matéria visual, além de explorar uma maior interação entre a atividade digital e a manual, seja na fase da concepção, seja na da execução, era necessário analisar e selecionar esse material visual digital mais a partir de suas características de luz, cor e movimento do que exatamente de seu tema. Fazendo assim que uma imagem se tornasse uma "tinta digital", e que sua utilização partisse de suas características visuais e não temáticas.

Essa terceira série (imagens 7-8) de experiências conseguiu sintonizar-se com a hipótese, sendo que para o seu desenvolvimento não era necessário alguma alteração na hipótese e sim um aperfeiçoamento através de um longo e, de certa forma interminável, treino. O que saltou aos olhos, porém, foi a percepção de que nossa sociedade de massa funciona e se comunica basicamente através da imagem e que somos cotidianamente bombardeados por essa torrente de imagens e formamos a partir dela nossos conceitos, idéias, julgamentos, nosso caráter enfim.

A hipótese para a última série não se alterou em sua essência em relação à série anterior. A única mudança foi que, ao utilizar esse enorme fluxo de informação visual como matéria prima artística, nada melhor do que com ela própria relatar sua essência, ou seja, nada como utilizar uma linguagem artística originada pela enorme quantidade de imagens atualmente disponíveis para retratar esse enorme, e caótico, mosaico de imagens e estímulos visuais a que somos constantemente submetidos. Esse mosaico ganha significação ao ser observado em sua totalidade, pois ao olhar o conjunto podemos ter uma idéia de como formamos nossas opiniões, e também como a comunicação dentro de um cidade de uma sociedade de massas, está determinantemente presente em nossas vidas.

A série final (imagens 9-10) são duas paisagens urbanas retratadas em sua caótica simultaneidade de imagens e estímulos visuais. E para conseguir materializar este sentimento nada como uma linguagem que busque unir as novas possibilidades do mundo digital às velhas possibilidades da expressão pictórica manual.

A conclusão final, síntese de todo o trabalho, foi que, hoje em dia há uma supervalorização das novas tecnologias como única fronteira a ser explorada enquanto optamos por esquecer toda a carga de experiências e valores que a pintura, através de toda a sua história milenar, nos proporcionou. Ao se abordar questões como inovações tecnológicas, ao invés de se optar pela ruptura radical com o passado é mais interessante buscar uma síntese entre elas, sem que uma seja dominante sobre a outra. Durante todo o trabalho a intenção foi sempre unir as duas linguagens de forma que nenhuma das duas fosse subserviente à outra, apesar de todas as dificuldades e dúvidas que se impuseram. Do resultado final, ao invés de se satisfazer com um ou outro dos trabalhos, o que deve servir realmente de conclusão é essa indicação de um caminho a seguir mesmo depois de terminado o TFG.

Digital e manual não se excluem, não competem entre si. Esse antagonismo foi criado muito mais pela facilidade de se opor o antigo ao novo do que por alguma razão estrutural. Cabe a nós desfazer esse mal entendido. A síntese entre a nova realidade digital e o legados do passado é um dos caminhos para o futuro. Isso é o que Francastel definiu como "invenção criadora: é ela que permite a certos grupos transpor o estágio da imitação para definir novas formas inéditas de ação, isto é, para abrir caminho a novas técnicas artesanais e a um novo estilo de vida".

Inovação e tradição unidas. Por que não?

 

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