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secao 4!

Habitat:

projeto de uma vizinhança com foco na habitação social

Vinícius Malaco Machado

Alexandre Delijaicov

O objetivo inicial do trabalho desenvolvido tinha o intuito de rever quais são, de fato, as dimensões físicas e psicológicas mínimas para o bem estar humano. Considero que a arquitetura possui um papel importante dentro da vida social e cultural de um povo, em especial em uma metrópole como São Paulo. Ao delimitarmos espaço, moldamos a percepção de seu usuário e, portanto, seu comportamento perante o mundo. Com base nesse pressuposto, podemos considerar que a cidade é, de certa maneira, um local onde seus cidadãos se educam, não meramente em suas instituições de ensino, mas em seu uso cotidiano.

Considerei que o melhor modo de abordar o assunto seria o projeto de uma vizinhança inserida no tecido urbano existente, uma vez que seria uma fração da cidade onde diversas atividades ocorrem e passamos a maior parte de nosso tempo de nossa infância, que é o período onde esta percepção de espaço mais se desenvolve, e em alguns casos, nos locais onde há diversidade de usos, passamos grande parte de nossas vidas.

Inicialmente, a intenção era de abrigar dentro do projeto várias classes sociais e diversos usos, tendo como foco a integração entre as diversas classes sociais, etnias, etc. Creio que ao convivermos com a diferença que nos livramos de preconceitos e evoluímos como sociedade. No entanto, a escolha do local de implantação do projeto induziu o foco na habitação social, mas ainda assim buscando a integração entre a área de projeto e a circunvizinhança de classe média.

Escolheu-se como área de estudo as margens do córrego Água Espraiada, que com a construção da avenida Jornalista Roberto Marinho centenas de famílias faveladas foram removidas e, com a continuação prevista para a avenida, mais famílias serão desalojadas. Este local induziu a várias outras questões, como mobilidade urbana, exclusão social, preservação do sistema de águas fluviais da cidade, etc. Talvez por este motivo a escolha do local de intervenção específica tenha demorado muito para ser feita, mas por fim escolhi uma ZEIS 3 adjacente à Rua Alba.

Foram feitos estudos em três escalas de abrangência:

a) Escala do bairro e suas relações com a cidade, regenerando o tecido urbano e, a partir das infra-estruturas, como o lago de oxigenação de águas previsto pela Sub Prefeitura do Jabaquara, criar elementos que dessem identidade à região; [imagem 001]

b) Escala da quadra, mais especificamente da área de ZEIS na qual o projeto intervém, criando diretrizes para sua implantação e caracterizando suas partes distintas; [imagem 002 e 003]

c)Escala do edifício, criando espaços de usos diversificados que estimulem convívio dentro e fora dos apartamentos; [imagens 005 e 006]

Nas Diretrizes Urbanísticas procurou-se tornar o tecido urbano mais claro e compreensível, além de conectar mais freqüentemente as margens do córrego. Foi proposta uma nova calha para a avenida Jornalista Roberto Marinho, com o intuito de torná-la mais amigável ao pedestre, diminuindo-se o leito carroçável, aumentando as calçadas e abrindo espaço para transporte público de massa, com uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ligando a marginal Pinheiros com o Parque do Estado, e transporte individual de curta distância, com ciclovias. Nesta nova calha deu-se mais espaço também ao córrego, garantindo a distância mínima de 15m de seu leito de qualquer construção, inclusive da avenida.

O lago de oxigenação foi desenhado de maneira que marcasse a paisagem e caracterizasse a vizinhança. Havia a intenção também de integrar o Piscinão existente no projeto, qualificando -o de maneira que seu espaço fosse mais aproveitado pela população do que é atualmente. No entanto, apesar de algumas tentativas de redesenho, a idéia foi abandonada devido a sua complexidade, carência de informações precisas quanto aos níveis da água e, principalmente, por não ser o foco do projeto. Creio que o redesenho do reservatório seria um tema em si.

Partindo para a intervenção em escala mais aproximada, o relevo acidentado da região e a existência de um córrego afluente do Água Espraiada no perímetro da ZEIS teve papel decisivo no projeto, criando grandes dificuldades de implantação, em especial na criação de espaços públicos de convivência. Isso gerou uma implantação inicial precária, na qual muito tempo e trabalho foram aplicados sem sucesso, levando a uma mudança radical da implantação e, conseqüentemente dos edifícios, um mês antes da realização da banca. No entanto, esta mudança apresentou grandes melhorias em relação à anterior, possibilitando um contato melhor com a rua e entre os edifícios, apesar de ter deixado a desejar no nível de detalhamento.

Conclusão

Depois da Banca Examinadora cheguei a algumas conclusões que, antes de apresentar o trabalho sequer passavam pela minha cabeça. Eu acreditava que ao aumentar muito a altura dos edifícios seus moradores perderiam o contato com a rua. Talvez naquele contexto onde praticamente toda a circunvizinhança se configura em casas térreas e sobrados seja verdade, pois a densidade construída em si é grande, mas não é a quantidade de andares sozinha que define este contato. A largura de vias, recuo de edifícios, existência de embasamento e mesmo a proximidade de uma massa não construída, seja ela praça, rio ou praia, são elementos que realmente definem qual é a densidade apropriada para cada setor de uma cidade.

Não creio que o trabalho em si tenha sido conclusivo, mas acho importante que ele tenha de fato funcionado como um passo diante daquilo que desejo para minha prática profissional, gerando diversas perguntas, derrubando uma série de conceitos e preconceitos, induzindo-me ao questionamento profundo de qual é a arquitetura que é necessária e para quem ela deve ser destinada: para todos. Não é criando modelos herméticos e imutáveis que abrigamos todos, mas deixando espaço para a diferença, para as especificidades.

Ficha Técnica

Área Total do Terreno: 16971,8 m²
Dimensões do terreno: 173,8m x 105,2m x162,6m x 105,5m
Área Total Construída: 28294,2m²
Taxa de Ocupação: 0,30
Coeficiente de Aproveitamento: 1,685

 

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