logofau
logocatfg
secao 4!

Bastidores na Cidade

 

Ana Luisa Azevedo Moori

Antonio Carlos Barossi

A caixa-cênica do teatro italiano foi o berço de um universo de ofícios que se preservavam ocultos do público a fim de criar a magia do espetáculo. Passados séculos, apesar de continuar sendo a tipologia mais difundida no mundo, esse teatro enfraqueceu-se como espaço de formação, e hoje carece de mão de obra especializada em seus bastidores.

São Paulo é a cidade brasileira com maior número de salas de espetáculo e espetáculos em cartaz, aproximando-se da oferta cultural das maiores metrópoles européias. Mas apesar de sua demanda por infra-estrutura e formação de mão de obra técnica para as produções teatrais, a falta de incentivo do poder público a esse segmento o torna deficiente, ameaçando ofícios antigos em sua própria identidade.

A constatação desse descompasso norteou o presente trabalho na proposta do complexo Bastidores na Cidade, dedicado à formação profissional em "artes dos bastidores" - cenografia, cenotécnica, indumentária, iluminação... - que promova a preservação do saber-fazer teatral, e a constante pesquisa de linguagem e tecnologias, buscando o diálogo entre a produção do espaço cênico e o cotidiano da cidade.

Baseado no levantamento de iniciativas semelhantes à proposta em outros estados, elaborou-se um programa que busca contemplar todas as partes envolvidas na experiência da performance artística, porém invertendo a hierarquia habitual dos espaços com o intuito de valorizar os profissionais que atuam no "avesso" da cena.

O complexo funcionaria como um centro de referência na cidade, tendo como principal espaço uma Fábrica Cênica para realização de cursos, mas reunindo também: Biblioteca Municipal de Teatro, infra-estrutura para grupos residentes, depósito de materiais para distribuição, e mais uma sala de espetáculo a somar-se ao circuito da cidade: o Teatro Bastidores.

A busca por um local adequado à instalação do programa foi um processo que envolveu a análise de vários sítios, e o mapeamento da atividade teatral na cidade, ao que se evidenciou uma concentração de teatros no centro, e periferização dos espaços de produção. O terreno do antigo pátio ferroviário do Pari destacou-se pela relação privilegiada que mantém com os fluxos mapeados.Praticamente todo tipo de comércio especializado de que se abastece a confecção de cenários, truques, figurinos e adereços orbita em seu redor: o comércio madeireiro da região do Gasômetro, o comércio de roupas, tecidos e aviamentos do Brás e do Bom Retiro, ferragens e ferramentas da região da Florêncio de Abreu, e produtos diversos da região da Vinte e Cinco de Março.

Fora essa conveniência, a localização central da área seria oportuna para posicionar a atuação normalmente anônima de toda uma categoria artística, num contexto de maior visibilidade, e potencializar o intercâmbio do complexo proposto com os teatros e espaços de produção do Centro, da Zona Leste e da Zona Norte.

Analisando a inserção desse programa do ponto de vista das demandas próprias da área, concluiu-se que o mesmo poderia render uma contrapartida positiva. A reconversão de áreas ociosas pertencentes à orla ferroviária tem sido um freqüente foco de discussão e planejamento nas cidades contemporâneas. Neste contexto, o Pátio do Pari apresenta-se como uma área de papel estratégico para a requalificação do setor urbano em que se insere. A recorrência de ZEIS e ZEPEC em seu entorno, e sua inscrição nos perímetros das Operações Urbanas Centro e Diagonal Sul, sinalizam potencial para adensamento e diversidade de uso, e consequentemente, demanda por equipamentos e transportes públicos.

Considerou-se essa projeção para o desenvolvimento do plano geral para a área, que propõe a criação de um parque público associado ao complexo Bastidores na Cidade; uma praia urbana e um porto junto ao rio Tamanduateí; e uma nova estação de metrô - adotando, porém, um cenário descomprometido das atuais bases logísticas de transporte sobre trilhos.

O conjunto projetado promove como princípio a acessibilidade e permeabilidade necessárias à reconexão com a cidade, e à qualidade de seu espaço público. A nova Estação Pari do Metrô, pousada sobre o rio Tamanduateí, atua como uma passarela pública de acesso às diferentes cotas de nível do projeto. Na margem leste, um trecho da Avenida do Estado em túnel dá origem à praça de acesso da estação, reunindo Vila Economizadora e Subestação Paula Souza, restauradas, em um conjunto. Na margem oeste, o acesso à estação se faz pela praça do porto. A estação termina neste ponto, mas a passarela atravessa o edifício da Fábrica Cênica, e segue até encontrar o parque.

No eixo norte-sul, é o edifício da Biblioteca Municipal de Teatro que se apresenta como suporte à circulação do parque através de seu teto-jardim. Este se comunica à passarela, e articula, em 3 torres de circulação vertical, o acesso direto entre os níveis da praia, do parque e dos edifícios. A laje de piso da biblioteca fica em nível com o parque, e seu vão livre proporciona uma área de sombra para a praia, na cota rebaixada.

Paisagem histórica remanescente, os galpões de alvenaria do século XIX marcam o acesso do parque pelo Largo do Pari. Reativados, eles abrigam salas multiuso, ateliês e espaços de convivência, que servem aos grupos residentes e a atividades voltadas ao público em geral.

O grande edifício implantado na praça do porto sedia os cursos. A Fábrica Cênica tem franco acesso pela praça no térreo, e abriga um Estaleiro Cenotécnico junto ao porto, que abre possibilidades de interação entre teatro e rio. O Canteiro Cenotécnico ocupa o espaço central do edifício, entorno do qual os níveis superiores organizam-se em mezaninos. No primeiro andar, o Foyer liga-se à marquise da estação na praça, e constitui o acesso preferencial de público, distribuindo o acesso aos três níveis da sala de espetáculo.

A tipologia do Teatro Bastidores é um híbrido de black-box e teatro italiano. Dispõe de todos os recursos cênicos tradicionais - como quarteladas, parede de contrapesos e urdimento - porém com grid de urdimento total e arquibancadas móveis, que possibilitam diversas configurações de palco-platéia, com capacidade de até 500 lugares. Suas fachadas são compostas por grandes painéis, que podem abrir a sala para o parque ou o canteiro cenotécnico, comportando eventos de grande público.

Ficha Técnica

Dimensões do terreno: 330m x 276m x 500m x 110m x 430m
Área total do terreno: 16 ha

Área construída
Teatro Bastidores: 8.100m²
Biblioteca: 3.300m²
Galpão 1: 7.000m²
Galpão 2: 700m²
Apoios do Parque:1.700m²
TOTAL: 20.800m²

 

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

bibliografia

topo