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secao 4!

Projeto para o Córrego do Sapé:

Habitação Social e Espaço livre

Anna Carolina Amorim de Mello

Fábio Mariz Gonçalves

Esse trabalho começou com um estudo sobre a história da relação da cidade de São Paulo com os seus rios. Durante a pesquisa sobre essa trajetória, ficou claro que essa se confundia, em muitos momentos, com a história dos locais de sub-moradias da periferia.

Ao perceber essa ligação, tratei de encontrar um lugar que apresentasse essa situação e onde eu pudesse ensaiar soluções que envolvessem toda a cidade, mesmo que tratando de uma situação particular.

O que apresento nesse estudo é um projeto para uma área, que durante a ocupação dos bairros adjacentes, restou livre, por representar um obstáculo natural dado à presença de um córrego, denominado Córrego do Sapé e suas encostas.

O espaço que ali restou, no entanto, foi mais tarde desordenadamente ocupado por uma população sem outras opções. Formou-se a Favela do Sapé.

O que proponho é uma área livre, de lazer, no local onde hoje está a favela, garantindo, para tanto, outras formas de assentamento da população hoje residente e uma melhor qualidade da água que permita a volta do contato da cidade com o córrego.

O objeto desse estudo, o Córrego do Sapé abriga hoje em suas margens a Favela do Sapé localizando-se no distrito do Rio Pequeno, subprefeitura do Butantã. A favela conta hoje com aproximadamente 2.200 famílias, segundo a prefeitura de São Paulo.

A intervenção no córrego deve começar pelo planejamento que permita sua despoluição e posterior integração com a cidade. Para tanto é necessário o recolhimento dos esgotos lançados sobre o rio em todo o seu percurso. Mas apenas garantir o recolhimento do esgoto não iria permitir que o rio ficasse limpo, pois durante as chuvas, todo o lixo e poluição que se encontra na cidade a sua margem é diretamente lançado sobre rio por meio do sistema de drenagem de bueiros e galerias.

Tendo como premissa aumentar a qualidade da água, diminuindo sua velocidade, como forma de propor solução para a questão da poluição e das enchentes dos rios de São Paulo, um novo sistema de drenagem foi proposto como modelo.

A partir da implantação desse sistema e da possibilidade de coletar o esgoto ao longo de todo córrego é possível imaginar um uso próximo à água, configurando um parque fluvial.

Edifícios nas bordas desse parque foram propostos para assentar a população residente e ainda abrigar novos programas institucionais. Os espaços onde se implantam esses edifícios configuram os limites do parque e se caracterizam como transição entre a cidade e o parque, na medida que são tratados como acesso e continuidade de seus caminhos.

Um sistema de percursos e travessias foi imaginado, composto basicamente de um largo calçadão que percorre o parque na margem esquerda e "trilhas" mais delgadas na margem direita, onde o relevo é mais acidentado.

Ao longo desse eixos foram dispostos percursos transversais e estares que se configuram em decks suspensos quando na várzea plana e sistema de platôs que se assentam nas encostas íngremes.

Para acomodação da população residente na favela foi proposta certa verticalização dos edifícios residenciais, sem, no entanto, a necessidade de elevador. Portanto os edifícios com maior número de pavimentos (seis) são os da margem direita, onde a declividade é maior e é possível fazer o acesso por um pavimento intermediário. Os edifícios da margem esquerda, localizados na principal avenida que margeia o parque, a Avenida Waldemar Roberto, foram dotados de térreos livres que podem ter usos comerciais e condominiais variados.

A implantação dos edifícios respeitou a orientação linear do parque por essa coincidir com a orientação leste-oeste, eliminando fachadas sul. A dimensão dos edifícios varia conforme sua implantação, gerando diferentes volumetrias e a possibilidade de existir diferentes tipologias para as habitações, garantindo melhor adequação aos vários tipos de família que ali estão. Os terraços dos edifícios habitacionais serão aproveitados na forma de espaços condominiais, com lavanderias coletivas, em substituição a pequenas áreas de serviços, diminuindo os gastos com as instalações.

São aproximadamente 1750 unidades propostas, e a densidade estimada para a área de projeto chega a 400 hab/ha.

Além dos edifícios residenciais, dois edifícios se integram ao programa do parque. São eles uma biblioteca e uma escola ambiental. Esses equipamentos podem servir de apoio às escolas da região, constituindo espaços para o desenvolvimento de atividades complementares.

O projeto da biblioteca prevê sua integração com o parque, conformando uma marquise que sombreia o calçadão. A partir das escadas, que ladeiam a biblioteca, se chega a uma praça sobre decks, que atravessa a área mais plana da várzea sem tocar o solo.

O programa da escola ambiental inclui percurso para visitação do rio, espaço para um viveiro e um pomar. Como o projeto pretende formar um ambiente onde as preocupações com a água se explicitam, inserir um espaço onde as questões ambientais podem ser vistas e discutidas, pareceu ser apropriado.

É a partir da biblioteca e da escola ambiental que se tem as maiores vistas do parque para quem está na Avenida Waldemar Roberto, servindo esses edifícios como marcação de entradas principais do parque.

"É evidente que não é possível reverter o rumo do crescimento das cidades sem reverter os rumos das relações sociais. A construção de um novo paradigma urbano faz parte da luta por uma sociedade, mas enquanto tal interessa destacar a sua especificidade. Não se trata de acreditar no potencial transformador da soma das propostas setoriais, mas muito mais de acreditar que, apesar dos determinantes em última instância (...), há sempre a dimensão universal no particular. É aí que o cotidiano é reconhecido e abre a oportunidade de remeter a consciência a maiores vôos. A definição de projetos transformadores do dia-a-dia ocupa um lugar fundamental na construção da utopia."(1)

 


  1. MARICATO, Ermínia. Pág. 169.

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