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secao 4!

Intervenção Urbana com Qualidade Ambiental

Diretrizes de Projeto para a Barra Funda

Luciana Schwandner Ferreira

Márcia Peinado Alucci

A cidade de São Paulo enfrenta atualmente graves problemas de degradação ambiental conseqüentes de uma expansão urbana que desconsiderou os aspectos ambientais na promoção de seu desenvolvimento. O crescimento rápido do município não levou em conta as limitações e as condicionantes naturais, comprometendo a qualidade de vida urbana pela falta de áreas verdes, impermeabilidade excessiva do solo, ocupação de várzeas, encostas e mananciais, precárias condições de esgotamento sanitário, contaminação do solo e poluição ambiental.

Sendo assim, é urgente o desenvolvimento de novas formas de ocupação urbana mais comprometidas com o meio ambiente e com maior qualidade ambiental, que procurem reverter ou minimizar o impacto ambiental negativo que as cidades geram no meio e na qualidade de vida de seus habitantes, viabilizando a existência de sociedades mais sustentáveis.

O objetivo deste trabalho é propor um conjunto de diretrizes urbanísticas e ambientais para um trecho do bairro da Barra Funda, zona oeste da cidade de São Paulo e várzea do rio Tietê, que promova o adensamento populacional sem incremento dos problemas urbanos e ambientais, e que contribua para o aumento da qualidade ambiental da área.

A escolha da Barra Funda como área de projeto justifica-se pelo fato de esta ser uma área dotada de infra-estrutura completa, com uma grande estação intermodal de transportes, perto do Centro da cidade e possuir apenas 23,15 hab/ha. Enquanto a mancha urbana avança sobre áreas de proteção ambiental, bairros centrais permanecem com ocupação inferior à sua capacidade.

A partir do diagnóstico realizado foi possível extrair as seguintes diretrizes de projeto:

Aumentar a oferta residencial.
Verticalizar estacionamentos.
Diversificar atividades, com uso misto e permeabilidade das quadras para o pedestre.
Adensar.
Racionalizar o sistema viário.
Criar transposições do Rio Tietê e da linha férrea.
Aumentar a largura das calçadas.
Diminuir a quantidade de área impermeável e buscar soluções adequadas para o gerenciamento das águas pluviais.
Gerar qualidade ambiental. Esta diretriz pode ser considerada um dos objetivos deste estudo. Todas as outras devem ser contempladas junto com a qualidade ambiental, uma vez que ela é condição para que os espaços criados sejam utilizados.

Para a elaboração da proposta foi definido um eixo principal de intervenção e quadras a serem redesenhadas e/ou reocupadas, devendo a nova ocupação atender às diretrizes estabelecidas a partir a análise do lugar.

Eixo principal: O eixo escolhido como estruturador da intervenção foi o do Córrego Quirino dos Santos. Este eixo mostrou-se interessante, pois é a única ligação direta entre a Estação da Barra Funda e a Marginal do Rio Tietê. Oficialmente este eixo é a Rua Quirino dos Santos, porém, atualmente parte da rua encontra-se dentro do parque de diversões Playcenter e parte não possui pavimentação.

Dada a importância deste eixo, nem o Rio Tietê e suas Marginais, nem a Ferrovia, poderiam configurar barreiras à circulação de pedestres e ciclistas, assim, foram propostas duas passarelas que transpõe o Rio e a Ferrovia, conectando a área com seu entorno.

Quadras: A escolha de quais quadras deveriam ser redesenhadas deu-se a partir da necessidade de continuidade do sistema viário. As quadras que deveriam ser reocupadas foram definidas a partir do eixo da Rua Quirino dos Santos.

Através da análise da evolução da ocupação da área optou-se por retomar o antigo leito do Tietê sob a forma de bacias de detenção gramadas, com ou sem arborização.

Estes espaços, interiores às quadras, são destinados a armazenar as águas pluviais durante uma precipitação intensa, diminuindo a vazão para os córregos. A estratégia a ser utilizada é a combinação entre o aumento da eficiência do escoamento com o reservatório de detenção, assim, ao invés do escoamento superficial ser drenado para o sistema de coleta de águas pluviais e conduzido rapidamente para um dos córregos da região, ele é conduzido para estas bacias de detenção onde é armazenado durante a chuva. A água que não for absorvida pelo solo no prazo máximo de três dias deverá ser conduzida, por gravidade ou bombeamento, para a rede de drenagem, a fim de evitar a proliferação de insetos. A profundidade das bacias de detenção será determinada pela profundidade do lençol freático para evitar que este aflore. Estas bacias possuem escapes para que não haja transbordamento.

Para a localização dos edifícios na quadra foram adotados os seguintes critérios:

O comércio deve ser paralelo à rua, seja ela destinada à circulação de automóveis ou de pedestres e ciclistas.
As residências devem possuir a melhor orientação para garantir insolação adequada.

Edifícios: Os volumes projetados não necessariamente são edifícios únicos, podem ser diversos edifícios agrupados possuindo diferentes alturas. O agrupamento dos edifícios em grandes blocos deve-se tanto à possibilidade de aumento da área livre como à diminuição do consumo de energia que esse agrupamento proporciona.

Os dois primeiros pavimentos de todos os volumes projetados são destinados ao comércio e aos serviços. Os oito restantes são habitacionais e destinados à habitação de interesse social, totalizando dez pavimentos.

A altura dos edifícios foi definida a partir da análise de insolação realizada com o software ECOTECT. Esta análise foi feita para todas as fachadas e visou garantir pelo menos 1h30 de sol no solstício de inverno.

Considerando a nova proposta de ocupação, de uma condição atual de 23,15 hab/ha e 88% do solo impermeabilizado, passaria-se a 1011 hab/ha com 32% do solo impermeabilizado.

Ao longo do trabalho e da definição de que o principal problema a ser solucionado era o das enchentes, a delimitação original da área de estudo pelas vias de tráfego rodado mostrou-se inadequada para o manejo das águas pluviais, utilizar o conceito de bacia hidrográfica como unidade de planejamento, neste caso, pode ser uma maneira mais eficiente de lidar com a questão das águas pluviais.

Para que fosse possível conseguir alta densidade e baixa ocupação do solo, fez-se necessário utilizar a quadra, e não o lote, como unidade mínima de planejamento.

Ficha Técnica

Total de unidades: 6.873
Total de unidades de HIS: 4.656
Total de unidades de HMP: 2.217
Total de habitantes: 27.494 (4 habitantes por unidade)
Densidade: 1011 hab/ha.

 

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