logofau
logocatfg
secao 4!

Unidade de vizinhança / edifício-ponte de uso misto em Cidade Tiradentes - SP

 

Luiz Marino Küller

Antonio Carlos Barossi

Cidade Tiradentes

Cidade Tiradentes, situa-se a 35 quilômetros do marco zero da Capital Paulista, a Praça da Sé, no extremo Leste da cidade e abriga hoje o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, com cerca de 40 mil unidades, capazes de abrigar cerca de 160 mil pessoas. Além da vastidão de conjuntos habitacionais, cerca de 60 mil pessoas instalaram-se em favelas e loteamentos habitacionais clandestinos localizados em lacunas deixadas na construção dos prédios da COHAB ou em ocupações nas bordas dos conjuntos, configurando outra expansão da mancha urbana. Totalizando, o distrito de Cidade Tiradentes possui uma população estimada em 220 mil habitantes, a maior parte delas de origem humilde, com renda média do chefe de família variando de 200 a 1200 reais e taxa de analfabetismo entre 10 e 20%.

Pela sua dimensão, Cidade Tiradentes é um exemplo único de bairro operário, planejado e construído pelo Estado. Infelizmente não um bom exemplo. A qualidade da urbanização do bairro e dos edifícios construídos é baixa. Os conjuntos e quadras foram tratados individualmente, apertando o maior número possível de construções toscas num lote determinado, sem reservar espaço para comércio, equipamentos públicos ou áreas de lazer. O tecido urbano resultante é desarticulado, com baixa qualidade ambiental. O isolamento das quadras dificulta a circulação dentro do bairro, há escassez de comércio local e comércio regional, carência de infra-estrutura, falta de equipamentos públicos. Por localizar-se a uma grande distância do centro no município há grande dificuldade de acessibilidade à região. Há poucas linhas de ônibus e apenas um terminal de ônibus, que fica a aproximadamente 5km da Estação Guaianazes da CPTM. São escassas as oportunidades de trabalho, configurando a região como um enorme bloco periférico e monofuncional do tipo 'bairro dormitório'.

Unidade de Vizinhança
IMPLANTAÇÃO

O partido do projeto nasceu da configuração do local escolhido, que é muito marcante. Uma paisagem bonita, com presença de riachos, trechos de vegetação nativa, e principalmente com terreno de topografia muito acidentada. Uma área que também se configura como um grande vazio na malha urbana, segregando dois núcleos existentes de conjuntos de habitações populares da COHAB.

Neste contexto, o projeto buscou criar uma ligação física, direta, que pudesse proporcionar a recuperação real do fluxo de atividades, pessoas e veículos entre as duas regiões. Ao mesmo tempo que teve como preocupação a preservação das características naturais do terreno, interferindo o mínimo possível com a vegetação e a topografia. A solução adotada foi propor uma seqüência de 3 edifícios-ponte, que alinhados, transpõe o terreno. Apoiados nas encostas dos vales, suspensos, tocando apenas levemente o terreno em alguns pontos eles atravessam a topografia acidentada e os riachos existentes, afirmando esta ligação e criando um marco na paisagem.

O corpo dos prédios foi inserido no interior dos vales criando uma simbiose entre edifício e a topografia, possibilitando outro tipo de integração espacial no tecido urbano, vertical, entre ocupações existentes, a intervenção proposta, futuras ocupações e o próprio terreno. Passando sobre os prédios, fazendo vezes de cobertura, foram propostos dois bulevares suspensos, com vias, comércio local. A rua, desta forma, transforma-se em ponte nos trechos de vale, mas apóia-se nas costas dos morros quando os encontram, ali abrigando praças e espaço para equipamentos públicos e possibilitando futuras conexões. Há outros acessos, na base da estrutura que abrigam os estacionamentos. Estes, ligados entre si e com o restante do sistema viário através de ruas sinuosas, que percorrem as curvas de nível.

Também faz parte da intervenção, a diretriz de que parte do terreno transforme-se em um parque. Esta idéia é apenas esboçada no projeto através da proposta de criação lagos e rios mais largos, através do represamento dos riachos existentes para possibilitar a utilização para o lazer. E também a criação de um calçadão na Av. dos Metalúrgicos, que é a avenida principal da região e que concentra o maior fluxo de pedestres e a maior parte dos equipamentos públicos.

ESTRUTURA

Em cada edifício-ponte é composta por dois tubos treliçados, de formato trapezoidal com 15.50m de altura, 10 a 15m de largura e 150m de comprimento com tirantes e barras de sessão circular de 60cm de diâmetro e 3/4 polegada de espessura. As treliças são apoiadas em 4 pontos. Nas pontas que tocam o solo e em dois pilares de concreto centrais, que se elevam desde o fundo do vale. O vão máximo vencido é de 90m. Em seu interior elas suportam 4 pisos. 3 pavimentos centrais são destinados para unidades de habitação. O andar inferior abriga unidades menores, 'quitinetes' de 30m2 e os superiores, apartamentos duplex com 60m2. Acima, há um nível de comércio e serviços e abaixo um estacionamento, espaço para equipamentos públicos. Sobre as treliças um tabuleiro de concreto de 1,5 de espessura, com vigotas a cada 5m, abriga a rua suspensa - que serve de cobertura e brise-soleil para as habitações. Os tubos treliçados conectam-se em alguns pontos, através de vigas 'verendel', que abrigam as circulações verticais - também em estrutura metálica - e locais de convivência coletiva.

Ficha Tecnica

Habitação Social: 19.700 m²
232 Unidades Duplex (60 m²)
152 Quitinetes (30 m²)

Comércio: 5.700 m²
Equipamentos Públicos: 4.650 m²
Estacionamento: 4.900 m²

TOTAL: 34.950 m

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

bibliografia

topo