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secao 4!

Projeto de Restauro para o palacete da Vila Itororó

 

Maria Vitória Fischer dos Santos

José Eduardo de Assis Lefèvre

O objetivo do presente trabalho é o desenvolvimento do Projeto de Restauro para o Palacete da Vila Itororó. Assim, tal projeto procura complementar o Projeto de Recuperação Urbana da Vila Itororó, porém numa escala mais próxima.

A Vila Itororó, conjunto de 16 casas construídas na década de 20 (hoje são 37), a meia encosta do Vale do Itororó, atual Avenida Vinte e Três de Maio, hoje é uma das poucas manchas urbanas que sobreviveram ao processo de destruição e reconstrução que caracteriza a ocupação urbana de São Paulo. Esta constitui uma construção que se destaca na paisagem urbana, seja do ponto de vista arquitetônico, eclético ou mesmo bizarro, seja do ponto de vista social, já que o "conjunto reflete um aspecto incomum do imigrante enriquecido e, neste caso específico, imaginoso".

Por seu valor histórico, a especificidade de sua implantação, bem como pela qualidade de suas construções a vila merece um estudo de preservação e um projeto de revitalização urbana. Não fosse pelo valor histórico a vila merecer um estudo sobre sua recuperação urbana, esta se daria devido às condições de abandono, pela ocupação predatória, pela falta de condições sanitárias ou ainda por problemas de ordem estrutural que colocam em risco a vida de algumas pessoas que ali vivem. A regularidade encontrada na formulação das vilas paulistas do período pré-industrial não foi adotada pelo construtor na concepção da Vila Itororó. O local onde se implantou o conjunto apresenta topografia acidentada, aspecto determinante na escolha da implantação que se organiza em torno de um eixo central, de traçado sinuoso, com patamares laterais entre as casas nos moldes de "piazzetas"e com arrimos desde o nível da Rua Martiniano de Carvalho que formam sucessivos planos de jardins até o nível inferior da Vila.

A implantação, bem como o partido arquitetônico das edificações, foi idealizada por Francisco de Castro, mestre de obras português, que como os demais imigrantes do bairro, aplicou no seu "castelo" e na sua vila as técnicas e a experiência que trouxe do seu país. Assim, não é difícil perceber na Vila Itororó soluções encontradas em diversas vilas e aldeias mediterrâneas. O construtor costumava comprar lotes de demolições e assim, apesar de não possuir grandes riquezas, pode fazer de seu palacete uma obra com materiais nobres, que outrora significaram a realização de famílias que puderam importá-los e os sonhos da sociedade paulistana ao erguer o Teatro São José, localizado onde hoje existe o atual Shopping Light, no viaduto do Chá. Assim, foram garimpados ornamentos, esculturas, cariátides, carrancas femininas. Por volta de 1930, ainda com muitos planos, Francisco foi vítima da tuberculose, conseqüência da sua vida boemia. Após sua morte, seu patrimônio foi arrematado por credores.

Desde 1974, data do primeiro projeto de recuperação para a Vila, demolições ocorreram, indicando o descaso dos proprietários e a dificuldade dos órgãos de proteção de garantirem a preservação do conjunto, que desde o início dos estudos apresentava avançado estado de deterioração. É essencial e urgente a atuação dos órgãos oficiais, com o propósito de recuperar e restaurar, principalmente as construções da Vila que foram invadidas e mesmo aquelas onde houve sublocação dos espaços internos. Atualmente a Vila Itororó é um conjunto de edificações utilizadas como habitações coletivas. A quase totalidade dos imóveis se encontra em avançado estado de deterioração. A inevitável pressão para o aproveitamento máximo dos espaços acentua o processo de subdivisão com os "puxados", divisórias de alvenaria e madeira no interior das construções e os barracos nos espaços adjacentes, apoiando-se na estrutura das casas.

Soma-se a isso o risco estrutural provocado pelo desgaste natural associado à carência de manutenção adequada e ao uso inadequado dos espaços.

No escopo do Projeto de Recuperação, tem-se o Palacete evidentemente como uma das principais atrações do complexo cultural e teria como principal função tornar-se visitável para que os níveis intermediários possam abrigar manifestações artísticas que atrairão esse público. O andar no nível do páteo central do conjunto oferece condições para destinação múltipla relacionada com as atividades que se desenvolverão em torno da área central.

Dessa forma, pensou-se na instalação de uma instituição de arte que reunisse as duas características principais do Complexo Cultural, a história e a arte, e que estivesse intrinsecamente ligada às atividades que aconteceriam no páteo central. Neste sentido, buscou-se, do ponto de vista histórico, algo que resgatasse uma das principais características do bairro, isto é, uma vocação que faz parte do Bexiga e resiste até os dias de hoje: o teatro. Pensou-se no Museu do Teatro de Rua, onde haveria exposições de equipamentos, fotografias, cenografia, figurino, etc. Como diretrizes para o desenvolvimento deste projeto estão os níveis de preservação (Conpresp), o programa de necessidades para a instalação do museu e a integridade das características do imóvel, sendo importante destacar que durante a execução do projeto é possível que este sofra modificações dependendo do andamento da obra e das necessidades que surjam.

A grande questão, no entanto, é o nível de intervenção no imóvel para que este seja adaptado ao uso a que se destina, ou seja, deve-se atingir a razão ideal entre a instalação do uso e suas adaptações necessárias, essencial à manutenção do "monumento", e o nível de preservação e o respeito às suas características. Seguindo os princípios da Carta de Veneza, a manutenção do imóvel e da Vila para as futuras gerações passa a ser mais factível no momento em que se atribui a este "monumento" um uso ou uma função: "... a conservação dos monumentos é sempre favorecida quando se atribui ao monumento uma função útil à sociedade." (Carta de Veneza, 1964). Dessa forma, conclui-se que a falta de uso, ou ainda, ao uso e manutenção inadequados ao longo dos anos, aliados à própria ação do tempo, foram determinantes para a degradação do Palacete.

 

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