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secao 4!

Intervenção nas casas de número 2427 e 2435 da Avenida Angélica - Centro de Referência do Café e Escola de Barismo

 

Thaís Osso Lourenço da Silva

Maria Lúcia Bressan Pinheiro

O projeto do trabalho final de graduação se baseia na intervenção em dois edifícios antigos, de determinado valor artístico e histórico, para a inserção de um Centro de Referência do Café e Escola de Barismo. O conceito do Centro se fundamenta na estruturação de um Espaço Profissionalizante para baristas, a fim de que os profissionais atendam a crescente demanda de cafeterias que estão surgindo ano após ano no Brasil, que é o maior produtor mundial de café e o segundo maior consumidor. É um espaço que pode sediar eventos culturais de pequeno porte e abrigar exposição temática permanente sobre todo o processamento do café. O centro também possui uma Cafeteria especializada em cafés de todo o Brasil e espaço de degustação, servindo o mesmo como um laboratório de experiências educativas, onde os estudantes dos cursos de barismo podem realizar estágios.

A área do projeto está inserida na região Central da cidade de São Paulo, no Bairro da Consolação/Higienópolis, nas proximidades da Avenida Paulista. O foco do trabalho são duas casas construídas no final do século XIX e início do XX, na Avenida Angélica, antiga Rua Itatiaia: Casa Hermsdorf (n0 2435) e Casa Bittner (n0 2427). Ambas foram construídas por imigrantes artesãos alemães vindos da Alemanha para o Brasil no final do século XIX: Franz Hermsdorf e João Jorge Bittner.

Franz Hermsdorf veio para o Brasil em 1889 com sua esposa polaca. Ele trabalhava em uma confecção de móveis de vime e junco na Alemanha, antes de vir para o Brasil. Em São Paulo trabalhou como preparador da seção técnica que é hoje o laboratório de ensaios de materiais da "Escola Polythécnica de São Paulo", onde teve a oportunidade de trabalhar com arquitetos de renome como Ramos de Azevedo. A Casa projetada e construída pelo imigrante alemão é um documento que registra instantes da nossa civilização material uma vez que foi construída em cinco diversas etapas, nos anos de 189?, 1903, 1907, 1911, e 1913/14. É de grande importância observar que cada fase da construção da casa representa um modelo de planta e circulação característico da época. Constitui-se de alvenaria estrutural de tijolos, possui formas ecléticas de influências art-nouveau, chalé e de estilo alemão; e possui pinturas murais em quase todos os cômodos. A casa atualmente é usada como Bar Salommão.

João Jorge Bittner chegou no Brasil em 1876 com sua esposa Emma Bittner e projetou sua casa em 1914. A ornamentação usada na fachada frontal da casa é bem simples, formada apenas por alguns elementos de estilo eclético. Logo, a Casa Bittner foi construída não como exceção palaciana, mas como resposta universal para as necessidades de todos os tipos, da vida cotidiana da classe média dos imigrantes. Ela é um exemplo de arquitetura "banal", cotidiana, exemplo de muitas outras que foram construídas na época, sem nenhum tipo de excepcionalidade. Mas ela possui valor de conjunto e de representatividade do modelo de conjunto arquitetônico pré-existente. Atualmente a Casa Bittner não está sendo usada, encontrando-se semi-abandonada após uma tentativa de demolição.

As casas são exemplos típicos das residências pequenas de classe média do início do século, da arquitetura chamada de "casa para operários", tipologia que reinou bastante na primeira fase de desenvolvimento do bairro, mas infelizmente pouco estudada. Há nelas o esquema de circulação característico da época - corredor lateral coberto e descoberto, recuo em uma lateral e recuo frontal, com piso elevado resultando em janelas de respiração para o piso com assoalho. Parece-nos comum esquecer que o Bairro de Higienópolis já fora um dia repleto destas casas, já que quando se fala neste bairro a primeira imagem que nos vem à memória é aquela dos casarões. Esta primeira fase de desenvolvimento do bairro necessita de maior entendimento e pesquisa urgente. Observando a imensa quantidade de plantas/esboços de casas operárias construídas nesta época na Avenida Angélica, armazenadas no Arquivo Municipal Washington Luis, buscou-se analisar plantas e elevações de outras casas construídas na época na mesma rua. Traçou-se assim um esquema gráfico da tipologia das casas na região, mostrando de forma geral o desenvolvimento urbano da Avenida Itatiaia/Angélica de 1870 até 1914.

Como metodologia, inicialmente realizou-se a revisão das teorias de restauro e das Cartas Internacionais. Para a escolha do edifício, optou-se pela região Consolação/Higienópolis pela sua história ligada aos barões do café, e pela necessidade de intervenção nas duas casas selecionadas diante da especulação imobiliária. Posteriormente elaborou-se a pesquisa histórica e arquitetônica de cada edifício e do seu contexto histórico.

Concomitantemente foi realizado levantamento métrico-arquitetônico e fotográfico, mapeamento de patologias dos edifícios, além de pesquisa e análise do programa de necessidades do novo uso. Posteriormente, com base nos dados catalisados na fase anterior, foram desenvolvidas as propostas de diretrizes de restauro/manutenção, estratégias de projeto para a intervenção de novo uso; e especificação de viabilidade técnica e serviços a serem realizados nas patologias mapeadas.

Desenvolveu-se o projeto com base no entendimento do conceito de restauro como um processo histórico-crítico, partindo de uma detalhada análise arquitetônica, estética e histórica das obras e do reconhecimento dos seus aspectos materiais como obra de arte e documento histórico. O partido arquitetônico busca apresentar mudanças necessárias nos edifícios, para adequá-los ao novo uso proposto através da aplicação de técnicas contemporâneas, apoiando-se nos conceitos de distinguibilidade, reversibilidade, mínima intervenção e respeito ao preexistente. Foram propostas também diretrizes de sinalização voltada ao edifício histórico e identidade visual.

Buscou-se com este projeto desenvolver uma metodologia de intervenção em edifício histórico, abrangendo desde a pesquisa histórica até projeto de adaptação ao novo uso, com diretrizes de sinalização e identidade visual que respeitam, acima de tudo, o patrimônio histórico.

 

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