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secao 4!

Transporte urbano em São Paulo:

uma análise crítica sobre os corredores de ônibus

Vivian Akemi Cascão Yoshikawa

Klara Anna M. Kaiser Mori

O Sistema Interligado começou a ser implantado na gestão 2001-2004, não tem tido continuidade efetiva na atual gestão e é alvo de grande polêmica. A discussão em torno do assunto corredores de ônibus se faz importante neste momento, em que desperta fortes posições contrárias e favoráveis, e na medida em que muitas cidades estão cogitando sua implantação. Há um grande entusiasmo em torno do sistema de corredores adotado por Bogotá, o Transmilênio, que vem sendo indicado como uma solução barata para países em desenvolvimento.

Cada modal tem suas características específicas como capacidades, velocidades médias de operação, e custos de implantação e operação. A discussão sobre os corredores deve se pautar por estes princípios para que possamos melhor compreender quando, onde e de que maneira sua utilização é cabível como provisão de transporte coletivo.

Este trabalho propõe contribuir para o desenvolvimento desta discussão no contexto da Grande São Paulo. Primeiramente procura entender o papel do transporte de pessoas na aglomeração urbana, como este se relaciona com a urbanização e qual a situação da infra-estrutura existente, para depois entender como se insere o projeto de corredores proposto. Será feita ainda uma avaliação de como este responde ao atendimento dos deslocamentos, e como estão funcionando os corredores instalados.

O sistema Interligado trata, fundamentalmente, da reorganização do transporte por média capacidade feito por ônibus, no Município de São Paulo, e se apóia na rede viária existente, composta principalmente pelas grandes radiais que atendem ao fluxo de viagens ao centro urbano. É um plano de troncalização das viagens por ônibus, restrito ao Município. O sistema sobre pneus é o modal que tem maior participação atualmente dentre os coletivos. Por isto não pode ser deixado de lado, na mão da livre iniciativa privada. É papel da prefeitura organizar este sistema, há tanto tempo desorganizado, e definir diretrizes para seu funcionamento.

A reorganização e a troncalização do sistema sobre pneus são necessárias, mas não chegam a ser uma alternativa de enfrentamento da provisão de transporte à RMSP. São incapazes de modificar algum aspecto da dinâmica de transporte atual.

O Plano Interligado é um plano conservador pois não traz a idéia de transformação. É um plano que aceita e reproduz da dada fragmentação do transporte entre o Estado e o Município, e não questiona a participação tão elevada do modal sobre pneus, propondo atender a demanda atual mantendo a atual divisão modal.

O sistema de corredores como complementar a rede estrutural de trilhos é importantíssimo, ao ampliar a cobertura da rede de transporte e alimentar o sistema de massa. Neste caso, considerando que a via é um equipamento público, e escasso, priorizar o transporte coletivo, que polui menos e consome menos espaço de via, transportando muito mais passageiros, faz todo sentido. O sistema sobre pneus deve estar apoiado na rede de transporte rápido de massa. Porém, se esta não foi implantada, então, o sistema não funciona.

Os corredores foram projetados para atender a uma demanda existente que estava, no limite da capacidade que um corredor pode suportar, (na verdade em muitos casos a demanda era superior ao que poderia ser atendido adequadamente com velocidade e confiabilidade de níveis altos) e assim, dar prioridade a esses passageiros. A atração de mais passageiros era encarada como um objetivo secundário e positivo, que seria alcançado com a melhoria do sistema de transporte coletivo. E este aumento de passageiros realmente veio, devido principalmente pela integração proporcionada pelo Bilhete Único. Porém, com o aumento da demanda o sistema de corredores existente "trava" ou passa a ter problemas de funcionamento, pois não pode suportá-la, já que sua capacidade já estava no limite. Isto acontece nos horários de pico, quando a velocidade média dos ônibus cai para velocidades menores do que as registradas antes da implantação do sistema Interligado.

A solução de corredores de ônibus é válida para demandas adequadas à capacidade do sistema: média capacidade. Para atender a demandas maiores por meio da mesma tecnologia de ônibus, seria necessário muito mais espaço viário que teria de ser conquistado a custos muito altos como desapropriações ou soluções em elevados. Estes custos se aproximam ao custo do metrô, sendo que este responderia adequadamente à demanda atual e futura, que tenderia a aumentar conquistando os usuários do automóvel.

O problema de deslocamentos na RMSP deve ser atacado por uma rede integrada, composta tanto pelo modal de massa, o sistema sobre trilhos, como pela a rede de média capacidade, feita na superfície.

O sistema de corredores é uma medida que em curto prazo pode aliviar um pouco o duro cotidiano de milhões de pessoas que passam horas no trânsito de casa para o trabalho em ônibus lotados, mas não é capaz de dar sustentação a médio prazo pois não dá conta nem da demanda atual. Mesmo com a rede completa do Interligado instalada, as melhorias iniciais de qualidade da viagem como aumento da velocidade média, tenderiam a serem anuladas com a atração de mais passageiros para o sistema. Uma pequena modificação na divisão modal, atraindo uma porcentagem dos usuários do automóvel, já seria suficiente para ultrapassar a capacidade do sistema de corredores, e anular os benefícios conquistados. Tendência que já tem sido observada em alguns corredores, com aumento da demanda, incentivada pelo Bilhete Único.

Diante da compreensão de sua importância dentro do sistema integrado, os corredores devem ser planejados e implantados com a dimensão, características e cuidado adequados para desempenhar efetivamente seu papel. Porém, sem o sistema estrutural de massa, o sistema complementar, de média capacidade, não funciona adequadamente e não é capaz de inverter a matriz modal nem a de origem-destino.

 

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