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Biblioteca pública e cento de mídia em Pindamonhangaba

 

Adilson José Alves da Silva

Rodrigo Queiroz

Pindamonhangaba é um dos municípios com maiores índices de crescimento econômico e populacional do Estado de São Paulo: entre 1980 e 2005, sua população total passou de cerca de 70 mil para próximo de 140 mil; e nos últimos dez anos sua economia cresceu 457%, com o valor da produção industrial saltando de R$ 311 milhões para R$ 1,73 bilhão em 2006.

A taxa geométrica de crescimento atual do município é superior à do Estado, fenômeno explicado pela alta taxa de saldo migratório, que foi praticamente o dobro da taxa estadual.

As novas oportunidades de emprego oferecidas pelas indústrias, bem como pelo crescente setor de comércio e serviços têm estimulado migrações inter e intra-regionais, acentuando o processo de urbanização e ocasionando a modificação dos hábitos e costumes da população, mas principalmente o agravamento das disparidades sócio-econômicas e dos problemas sociais, espaciais e ambientais da cidade.

Apesar do expressivo crescimento econômico, a posição do município no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento Humano piorou significativamente nas últimas duas décadas, passando de 36° lugar, em 1980, a 83° lugar, em 2000.

De acordo com o Índice Paulista de Responsabilidade Social, IPRS, da Fundação SEADE, Pindamonhangaba se enquadra na situação de municípios que, “(...) embora com níveis de riqueza elevados, não exibem bons indicadores sociais” (FUNDAÇÃO SEADE).

Uma das causas dessa baixa qualidade de vida combinada a crescimento econômico e populacional é o fato de o poder público municipal não ter acompanhado o ritmo de crescimento da cidade, tendo investido menos do que exigiam as demandas sociais. Disso decorreu a saturação da infra-estrutura urbana em seus mais diversos setores.

Dois dos setores mais negligenciados pelo poder público municipal são as áreas da cultura e do lazer, gerando uma enorme e insatisfeita demanda social por equipamentos e atividades dessa natureza.

Assim, este trabalho propõe o desenvolvimento de um projeto de Biblioteca Pública e Centro de Mídia na cidade de paulista de Pindamonhangaba. Tal estrutura substituiria a atual Biblioteca Pública Municipal, que possui porte, acervo, equipamentos e atividades insuficientes para uma população de 140 mil habitantes, em constante crescimento e diversificação de demandas, e se encontra mal localizada, em uma área pouco freqüentada da cidade.

A inclusão de um Centro de Mídia no programa apresenta-se como uma necessidade derivada da diversificação dos meios de comunicação e informação promovida por inovações tecnológicas surgidas nas últimas décadas. Com isso, pretende-se introduzir elementos audiovisuais, virtuais, bem como o conteúdo da rede mundial de computadores ao acervo tradicional da biblioteca.

Trata-se, de fato, de uma espécie de “centro cultural com ênfase em biblioteca”(Milanesi, 2007), adaptado aos diversos suportes, meios de registro e de expressão do conhecimento humano, comportando-se mais como um espaço polivalente de atividades culturais, de convivência e de difusão do conhecimento do que como um tradicional acervo bibliográfico.

Além disso, pretende-se que se configure como uma referência cívica urbana, servindo sua praça de chegada e seu anfiteatro como palco de diferentes atividades populares, desde apresentações da banda da cidade a reivindicações políticas; e por fim, que também atue como uma opção de lazer, lugar de convivência, de encontro, aonde as pessoas vão não somente porque precisam, mas porque gostam.

A ESCOLHA DO LOCAL

O local escolhido para a implantação do projeto localiza-se na Zona Central do município de Pindamonhangaba, e trata-se de uma pequena praça pública, de aproximadamente 1000 m², situada próxima ao centro histórico da cidade, área de ocupação mista e alta densidade, onde se concentram as atividades de comércio varejista, serviços em geral e agências bancárias, além de alguns prédios e locais de importância histórica, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso (1707), o Palacete Visconde da Palmeira (1854), o Palacete 10 de Julho (1856), e a Praça Monsenhor Marcondes (século XIX), entre outros.

A Praça Dr. Francisco Romeiro, escolhida como local para o desenvolvimento do projeto, encontra-se às margens da Rua Bicudo Leme, um eixo viário e visual que parte da fachada da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso e segue, ladeada por agências bancárias, estabelecimentos comerciais, prestadoras de serviço e residências, até as proximidades da Escola Técnica Estadual João Gomes de Araújo, que recentemente passou a abrigar também uma Faculdade de Tecnologia.

A área hoje ocupada pela Praça Dr. Francisco Romeiro originalmente abrigava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, um templo humilde e pequeno, freqüentado principalmente por escravos e populares, que teve sua demolição ordenada no começo da década de 1930, por desavenças ocorridas entre as paróquias de Nossa Senhora do Bom Sucesso e Nossa Senhora do Rosário. Sobre o vazio resultante da destruição da humilde igreja construiu-se uma pequena praça.

Isso explica as reduzidas dimensões da Praça Dr. Francisco Romeiro, que dificultam e comprometem o seu funcionamento como equipamento público de lazer, limitando sua função urbana a simples corredor de passagem para os pedestres que transitam pela região.

Assim, ao situar o projeto num local onde antes se erguia a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, restabelece-se a sua função original: abrigar um templo popular; não mais um templo religioso destinado à reverência do criador, mas um templo humanista, onde se reverencie as criações do homem e o próprio homem.

Diferentemente do local onde se situa a atual Biblioteca Pública Municipal, uma rua periférica ao Bosque da Cidade, predominantemente residencial, com baixa densidade populacional e escassamente freqüentada, a área escolhida para abrigar o projeto possui uma intensa atividade social, graças ao fluxo de pessoas, sobretudo pedestres, das mais variadas classes sociais e faixas etárias, que até ali se deslocam atraídas pelos diversos serviços públicos e atividades econômicas existentes.

O local possui grande facilidade de acesso, por estar na Zona Central da cidade, região de onde partem as vias estruturais de traçado radial, que ligam o centro aos diversos bairros periféricos e que servem de corredores para o sistema de transporte público urbano.

PARTIDO ARQUITETÔNICO

O conjunto proposto é constituído pelos seguintes ambientes:
1 – Praça de chegada
2 – Anfiteatro
3 – Recepção
4 – Sala de exposições
5 – Café
6 – Livraria
7 – Auditório
8 – Sala de informática e acesso à internet
9 – Sala para cursos
10 – Administração
11 – Biblioteca
12 – Midiateca
13 – Praça-mirante
14 – Sanitários e áreas de apoio
O projeto tem como partido o estabelecimento de uma interação sinérgica entre praça e biblioteca, de modo que ambas se relacionem e se reafirmem mutuamente.

Para tanto, idealizou-se um edifício que se desenvolve sobre e sob o terreno, ocupando o mínimo possível da área térrea da praça, de modo a manter a sua função atual, permitindo o livre trânsito de pedestres e servindo como eventual lugar de encontro, de espera ou de simples descanso, ao mesmo tempo em que atua como local de acolhimento aos que chegam demandando os serviços oferecidos pela biblioteca.

Na parte livre da praça, além do mobiliário urbano, foi projetado um anfiteatro com capacidade para 120 expectadores, que dará abrigo às mais variadas manifestações populares e artísticas e que também servirá como entrada alternativa e independente para o auditório situado no subsolo. O desenho triangular desse anfiteatro, bem como o desenho do piso da praça e a disposição do mobiliário urbano foram determinados pelos fluxos de circulação de pedestres predominantes.

O piso térreo da biblioteca se desenvolve como uma continuidade da praça. Nele, se encontram a área para exposições, a recepção, além da livraria e do café, que, como atividades comerciais, não poderiam prescindir da proximidade e do movimento das ruas. É um espaço de acolhimento, onde as pessoas que chegam são recebidas e orientadas.

No subsolo, encontra-se o auditório, com capacidade para 129 expectadores, e suas áreas de apoio: foyer, sanitários, depósito e camarins. Como já foi mencionado anteriormente, o auditório pode ser acessado tanto pela torre de circulação vertical, como pela escada do anfiteatro, que funciona como uma entrada alternativa, permitindo seu uso independente da biblioteca.

O 1° piso abriga a sala de informática e acesso à internet, que servirá tanto para democratizar o acesso a esse tipo de tecnologia, como para atrair e familiarizar os usuários com o ambiente da biblioteca, contribuindo para desfazer a idéia de excessiva austeridade que acompanha a imagem que se costuma ter deste tipo de equipamento. Nesse mesmo pavimento também se encontra uma sala de aula para 25 alunos, além dos sanitários e das áreas administrativas.

No 2° piso, com pé-direito duplo, tem lugar a biblioteca propriamente dita, com suas áreas de acervo e leitura, que se distribuem em dois níveis, ocupando também a maior parte do mezanino ou 3° piso. Nesse 3° pavimento, além da continuidade das áreas de acervo e leitura, encontra-se a sala multimídia que através de seu formato circular, introduz o elemento lúdico ou inusitado no ambiente tradicionalmente circunspecto da biblioteca. O acesso ao mezanino se dá tanto pela torre de circulação vertical, como pela escada caracol que se eleva sobre a área de leitura do 2° pavimento.

Por fim, sobre a cobertura do edifício e sob o pergolado das vigas estruturais, há um teto-jardim, com marquise, espelho d’água, plantas tropicais e assentos de madeira, configurando-se como uma espécie de praça-mirante, de onde se pode avistar o entorno da biblioteca, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso e a Serra da Mantiqueira.

Como se pode constatar através dos cortes transversais do projeto, edifício e praça se amalgamam e se fundem de tal forma um ao outro que poderiam suscitar a dúvida se se trata de uma praça que possui um edifício ou de um edifício que possui uma praça. Porém, mais importante do que essa fusão física entre ambos é a adequação da interação funcional, que poderá contribuir de forma decisiva para ampliar o raio de ação deste equipamento público no meio em que se insere.

Essa fusão física e funcional entre praça e Biblioteca criará condições a serem exploradas com o intuito de maximizar a interação entre as pessoas que habitualmente transitam pela praça e os equipamentos públicos propostos. Assim, pretende-se que a Biblioteca Pública Municipal deixe de ser um equipamento acessório, invisível e pouco influente no dia a dia da cidade para tornar-se um elemento fundamental, apto a desenvolver de forma efetiva sua tarefa de democratizar o acesso ao conhecimento e à informação, configurando-se desta forma como um bem capaz de intervir concretamente na existência de cada um e na vida da coletividade

 

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