Este trabalho apresenta uma proposta de reestruturação do eixo Mercado-Estação em Americana, interior do Estado de São Paulo, que pretende não somente articular um eixo histórico (Mercado-Estação), mas também expressar um novo modo de usufruir um espaço.
A intervenção urbana procura responder tanto aos objetivos idealizados com o desenvolvimento do trabalho como também a algumas questões reais, ainda não concretas que envolvem a área em estudo. Tais questões se resumem: a existência de um projeto da Prefeitura de Americana para o Parque Linear do Rio Quilombo; a existência de um outro projeto da Prefeitura para um Terminal Metropolitano em área pública, atualmente usada como estacionamento do Mercado e no trabalho aqui desenvolvido incorporada ao novo projeto, e a existência de um diálogo paralelo sobre a volta do uso da ferrovia para transportes de passageiros (atualmente serve, precariamente, ao transporte de cargas).
O projeto então toma partido de tais fatos de maneira que estes sejam não só respondidos, mas também inseridos dentro dos anseios do projeto para recriar a urbanidade.
Primeiro adota-se o retorno do trem como transporte de passageiros (através de Parcerias Público-Privadas), tanto por ser um excelente instrumento de integração regional como também por aguçar a dinâmica urbana ao longo da linha férrea. Incorporá-la ao projeto torna-se aqui um importante instrumento da articulação urbana desejada.
Em seguida, propõe-se a ampliação do Parque Linear até a borda leste da ferrovia, onde se inclui novos equipamentos, que podem envolver desde agricultura urbana, bancas de jornal e revistas, postos policiais, como espaços para a comunidade e uma ciclovia. Tal extensão contribui no contexto da intervenção como condensador do espaço público e "recepção" do projeto (edificação), localizado na outra borda, e no qual se dota passarelas de pedestre de transposição de ferrovia para a conexão de ambos os lados.
Tendo em vista a importância da relação dos opostos das margens férreas, propõe uma pequena alteração no desenho e uso de uma quadra na borda leste da ferrovia. As quadras neste oposto (leste) formam uma pequena gleba que caracteriza o povoado inicial da cidade e atualmente tem uso bastante variado de pequenos comércios de bairro, residências e galpões antigos. Com o cuidado de não descaracterizar esta área propõe-se o redesenho de uma quadra, acompanhado do alargamento da via que beira a linha férrea, com a proposta de um uso misto permeável por uma rua de pedestres e o Terminal Metropolitano na "ponta" da quadra. Encontra-se aqui um local ideal para o Terminal, não somente pela necessidade de se ter um, mas também por encontrar aqui um endereço que o coloca na rota para saída da cidade e completa junto com o Terminal Urbano e a ferrovia, um conjunto intermodal de transportes em diferentes escalas.
Também como parte do projeto, propõe-se que o comércio local, da área incorporada ao projeto de edificação, divida seus espaços em atacado e varejo. Assim, apresenta-se no trabalho a relocação, em área próxima, da parcela do comércio para atacado, restando as unidades de varejo reunidas ao novo projeto. Tal operação contribui com a proposta, uma vez que se trata de um comércio específico e característico da cidade.
O ponto de partida da intervenção é o Mercado Municipal, que hoje se mantém por uma animação constante, porém muito particular, e estende-se por um novo projeto, até chegar à Estação Ferroviária, agora com seu uso original.
O programa para o novo edifício desdobra-se como peça que completa a articulação dos dois pólos (Mercado-Estação) entre si e a cidade. Deste modo, o conjunto edificado se desenvolve quase todo sobre pilotis, buscando uma continuidade visual entre a praça seca que se cria sob o edifício e a outra borda da ferrovia, onde se prolonga o Parque Linear.
A concepção estrutural do novo conjunto edificado surge como resposta à qualidade do partido arquitetônico adotado. Em concreto armado, os pilotis permitem o térreo livre e suportam vigas sobre as quais lajes em grelhas cobrem grandes vãos além de permitirem aberturas para iluminação zenital no último pavimento.
No térreo os boxes do Mercado organizam o espaço, junto com os acessos aos dois blocos retangulares. Eles garantem a ampliação do Mercado, seus serviços de apoio e também orientam o percurso das pessoas, criando uma alameda que beira a linha férrea e forma junto com a Praça da Estação os principais espaços de acolhimento.
O programa completa-se com os dois blocos edificados. Em ambos, o programa é disposto a favor da maior relação possível com a linha férrea e o parque linear, por isso o gesto de se criar dois blocos retangulares abertos somente na fachada leste por onde se prolongam as passarelas de acesso ao lado oposto a linha férrea.
O bloco norte (próximo à estação) comporta no primeiro nível a ala de comércio de tecidos, sendo contínuo ao pavimento que se desenvolve sobre os boxes do térreo e onde se distribuem balcões de alimentação. Um nível acima se localiza o auditório, uma sala multiuso, biblioteca de referência culinária, administração, banheiros, boxes para comércio e serviços, restaurante e pizzaria, cantina e a grande praça de convivência, pela qual se tem o acesso a passarela. O programa do bloco sul conclui o projeto com a escola de formação culinária municipal e sob ele, um nível intermediário - em cima dos boxes do mercado - desenvolve-se sob o viaduto e conecta-se com este através de uma nova escadaria, possível porque idealiza aqui passarelas de pedestres ampliadas para o Viaduto Amadeu Elias, desta forma, estabelece com este um diálogo mais harmonioso ao aceitá-lo e inseri-lo ao projeto.
Completa-se assim uma intervenção de reestruturação urbana subsidiada principalmente pelas necessidades locais. A arquitetura conclui o projeto ao permitir a acomodação das articulações da nova dinâmica urbana, sobretudo pelo resgate da fruição pública e também por marcar a centralidade histórica com novos programas.
