Este trabalho final de graduação tem como objetivo geral o estudo da linguagem voltada ao projeto para crianças (em fase pré-escolar) e indagar sobre a esfera de interação entre o campo do design e o público infantil, em particular nos aspectos relacionados com funções de construção do conhecimento, do desenvolvimento e do brincar.
A proposta é refletir sobre como, utilizando o design como ferramenta, seria possível contribuir para o desenvolvimento da criança, estimulando sua criatividade e a brincadeira e incentivando a sua integração com o ambiente e mundo ao seu redor.
Aspira-se compreender melhor os mecanismos e a lógica pelos quais as crianças percebem seu entorno, os objetos, as imagens, como demonstram os seus códigos formais, e refletir sobre como inserir essas referências no contexto de projeto.
Existem certos fatores determinantes da cultura infantil que qualificam e exigem respostas diferenciadas nos projetos destinados às crianças e na exploração dos elementos utilizados. Embora do ponto de vista das necessidades humanas seja semelhante ao projeto destinado ao público adulto, o projeto para crianças difere ao tratar no caráter não convencional, que além das adequações ergonômicas e técnicas, requer um conhecimento das linguagens próprias com as quais a criança se expressa. Ao investigar essas linguagens, observa-se a presença do brincar como meio de expressão, meio pelo qual ela se relaciona com o ambiente externo, transformando o lúdico, neste contexto, em um forte elemento para o projeto.
Quantitativamente e qualitativamente, existe uma carência de projetos destinados às crianças - e nas mais diversas áreas, não somente do design - e comumente dão pouca importância aos aspectos particulares da infância.
Como não estamos habituados a pensar no olhar da criança e olhar a sua produção, as escolhas ficam muito aliadas aos adultos. O design voltado para crianças, muitas vezes é colocado dessa perspectiva e resulta em projetos semelhantes àqueles feitos para adultos, porém com medidas reduzidas e cores vivas. Pouco se questiona realmente a criança e as suas escolhas próprias, pouco se faz para que ela mostre o significado de sua produção cultural, e utilizar isso como referência de linguagem.
Esta proposta de trabalho partiu dos seguintes princípios:
Foco na ênfase das questões relacionadas com o projetar para a criança e quais as considerações que tornam a linguagem de projeto mais adequada e em sintonia com este público;
Um projeto que estivesse adequado do ponto de vista da linguagem e necessidades da criança;
Considerando as diversas possibilidades de uso do espaço físico como ambiente de experimentação e descobertas pelas crianças, como incluir o lúdico e propiciar a criação de conhecimento através de objetos ou mobiliários no espaço residencial.
A escolha de propor uma discussão ampla, abrangendo diferentes assuntos e tópicos, pareceu pertinente e necessária para a reflexão da metodologia do projeto para a infância inserida na visão total e multidisciplinar que o projeto exige.
Considerou-se, fundamental aprofundar os conhecimentos sobre a criança, seu desenvolvimento, suas necessidades, assim como o conhecimento das linguagens com as quais ela se expressa.
O conteúdo do trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa teórica; estudo de casos e de trabalhos significativos na área; oficinas com crianças; e exercício de projeto.
O resultado final consiste em:
Um livro que abrange questões teóricas e discussões em torno do assunto crianças, interação com o design e linguagem do projeto destinado à infância.
Um exercício de projeto que aponta soluções para o desenho de objetos destinados ao uso domiciliar e que se relacionam com a questão do medo do escuro.
Para o exercício de projeto a idéia era a reflexão sobre como colocar em prática, na forma de um projeto, os conceitos estudados. O produto final consiste em um objeto hibrido entre mobiliário e brinquedo que se relaciona com a questão do medo do escuro de forma lúdica, tentando contribuir para a assimilação dessa emoção.
As idéias integradas no objeto foram: brincar, flexibilidade e usos diferentes durante o dia e à noite, brincar como elemento de aproximação entre a criança e os possíveis elementos que contribuem para o medo, o escuro como ambiente lúdico, sentimento de proteção, iluminação como alternativa, espaço para objetos da escolha da criança, movimento.
A necessidade de aprofundamento com questões multidisciplinares e fora do domínio da arquitetura e do design (como leituras em psicologia e pedagogia) e a pouca bibliografia especifica, principalmente relatando casos e experiências num contexto mais próximo do nosso, torna o percurso mais difícil e o trabalho mais experimental.
O projeto busca mostrar a importância do design na interação da criança com o universo da linguagem visual, do espaço construído e das artes. Exercitando a criação, a percepção, a sensibilização e exprimindo suas expectativas. Experimentando como o design pode ser inserido no seu cotidiano e entorno.
A importância do design voltado para o público infantil, priorizando que essa experiência permita à criança perceber o cotidiano com mais fantasia, mais facilmente, e que isso contribua de alguma forma para sua participação no mundo, seu desenvolvimento e para que possa cultivar sua própria identidade, sua personalidade.
Construindo uma visão crítica sobre a discussão do espaço do design no mundo infantil e o exercício do projeto para as crianças. Redescobrir a inocência, um imaginário inventivo onde tudo se ilumina, tudo se torna realizável, é deslembrar o cotidiano adulto, de todas as coisas que nos cercam e reinventá-las, magnificá-las, com um olhar que já tivemos um dia.
Não é um trabalho fechado, pelo contrário, há ainda muito a descobrir e explorar.
