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Arte Urbana -

Relações com o corpo e com a paisagem em lugares de passagem de São Paulo- Radial Leste

Anay Koprowski Garcia Rodrigues

Luiz Américo Souza Munari

O tema do trabalho é a relação do indivíduo com a natureza, com elementos da paisagem e com seu próprio corpo em um trecho da Radial Leste, que se caracteriza como um local de passagem (principalmente de automóveis) dentro do contexto urbano de São Paulo.

Tentativa de expressar através da inserção de desenhos/instalações na paisagem, como o uso do automóvel interfere na leitura da cidade de São Paulo, na compreensão de seus elementos, na eleição de pontos de significado e na maneira pela qual o motorista se relaciona com a natureza e com seu corpo.

Para essas intervenções foram selecionados lugares que se caracterizam como construções destinadas prioritariamente ao uso de automóveis – como túneis, viadutos, elevados e grandes avenidas, ou seja, percursos que são usados como passagem rápida. Por isso, a qualidade desses espaços não tem grande importância para as pessoas que ali passam, pois elas não estabelecem relações diretas com esses lugares. Em pontos escolhidos, foram colocados desenhos, com elementos visuais ou conceituais específicos a serem explorados.

O objetivo desse trabalho é tentar expressar simbolicamente, por meio de intervenções artísticas, as transformações da paisagem urbana e do modo de vida na cidade, bem como suas conseqüências para o cidadão, com o olhar voltado para um fragmento do processo que ilustre alguns aspectos do todo.

O percurso escolhido para representar um lugar de passagem em São Paulo foi a Radial Leste, da baixada do Glicério até a praça Roosevelt. O trabalho tentou abordar o percurso por suas características peculiares mas também por suas semelhanças com outras partes da cidade.

Os elementos característicos da Radial se associam à magnitude de sua escala em contraste com a malha que se insere. Também são igualmente contrastantes os fluxos de carros na Radial, por um lado, e os fluxos de pedestres nas vias que cruzam a avenida em forma de elevados na região da Liberdade, onde há intenso tráfego de pessoas durante o dia.

Para expressar as relações das pessoas que utilizam a Radial Leste com a paisagem e com seu corpo, foram feitos dez desenhos, posteriormente colados em muros de proteção elevados e pilares de túneis na região.

O trabalho pretende utilizar-se de elementos presentes em seu local de inserção, atribuindo novos sentidos ou causando um olhar diferente sobre os mesmos elementos, sendo fundamental para seu significado a sua relação direta com a paisagem.

Apesar de voltar-se para a cidade, o foco temático do trabalho não está na percepção da cidade, em sua história ou em elementos arquitetônicos, mas na percepção do indivíduo sobre si mesmo no contexto da cidade. Para tanto pretendeu-se representar elementos da paisagem em figuras humanas: as linhas de contorno externo de todos os trabalhos são linhas do corpo, mantendo o foco central de abordagem no indivíduo e não na paisagem, o que simboliza uma inversão da usual imagem de pessoas vivendo dentro da cidade, ou seja, tentando representar a cidade dentro do indivíduo.

A representação desses elementos foi feita adequando-se suas formas às curvas do corpo em que estavam sendo representados, como uma expressão do desejo do inesperado, da criação de um mundo orgânico em alinhamento com o corpo, contra o tédio dos ritmos de repetição de elementos iguais e linhas retas.

Neste sentido, a linguagem do trabalho tenta remeter ao Graffiti, porque representa de fato uma forma diferente de se apropriar dos espaços residuais e sem identidade, transformando-os constantemente e atribuindo-lhes novos sentidos.

Na produção dos trabalhos, primeiramente foram feitos levantamentos fotográficos do percurso em vários dias diferentes, dos dois lados de fluxo. Uma parte das fotos foi tirada de dentro do carro em movimento para se aproximar da visão de um usuário de automóvel passando na velocidade normal daquele trecho. Outras fotos foram tiradas usando a bicicleta como meio de locomoção, possibilitando assim maior quantidade de tempo e diferentes ângulos para visualização dos elementos de interesse.

A partir da seleção de possíveis locais e elementos da paisagem foi feito um estudo fotográfico com nove pessoas, três homens e seis mulheres nus, em posições que poderiam ter uma relação, de impacto visual, integração ou contraste com alguns destes locais. A nudez expressaria a vulnerabilidade do indivíduo e de seu corpo em meio a um contexto de velocidade, grandes escalas e superfícies rígidas, se opondo à situação de proteção, barreira sentida a partir do carro.

A touca vermelha foi usada para tentar diminuir caracterizações individuais, para que as figuras resultantes tivessem menos influência de valores estéticos ligados a modismos passageiros e fossem mais representativas de um corpo humano geral.

As fotos tiradas dos modelos foram impressas em tamanho aproximadamente 1:2 em sulfite com gramatura 120 e recortadas no contorno dos corpos para servirem como base para as pinturas.

As pinturas foram feitas com tinta látex e spray. Utilizou-se folhas de raio x para recortar figuras e criar uma máscara para pintar com spray. O spray prateado foi usado em todos os trabalhos para simbolizar a avenida e o seu desenho foi, na maioria dos trabalhos feitos, a partir de máscaras. A maioria dos elementos rígidos e rítmicos foram desenhados com contornos mais definidos e tinta látex, enquanto que elementos de confusão e estímulo visual foram representados com desenhos livres de spray.

Os trabalhos prontos foram levados para o estúdio da fotógrafa Cristina Guerra, que fotografou os originais num fundo branco com resolução suficiente para impressão ampliada em tamanho real.

As fotografias foram recortadas no computador, impressas em adesivo e depois recortadas manualmente.

Para colar os trabalhos na avenida Radial Leste foram criados quatro grupos de colaboradores. Os desenhos foram distribuídos entre os grupos e, através de mapas, fotos e croquis, foi explicado para cada equipe qual era a idéia do desenho e as relações que estabelecia com o local. Todos os grupos foram juntos para a Radial Leste de madrugada para colar os desenhos.

 

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