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secao 4!

Re-inventando a paisagem do cotidiano:

uma proposta de qualificação para a periferia da zona oeste

Andrea Quintanilha de Castro

Maria Lúcia Refinetti Martins

Este trabalho final de graduação surge como uma tentativa de compreensão do processo de construção-ocupação-apropriação de determinados espaços de São Paulo. Constituídas por diferentes modalidades de assentamentos humanos, desconectados da malha urbana central e com uma rede de infra-estrutura bastante carente e fragmentada, as periferias urbanas de São Paulo, foco central deste trabalho, são formadas por espaços regidos pela desordem urbana e falta de qualidade em suas paisagens construídas.

Embora a questão da habitação de interesse social tome dimensões cada vez mais dramáticas dentro do cenário estudado, seja como demanda pública ou como alicerce familiar da população carente, opta-se neste trabalho por um outro viés. Aborda-se o processo de apropriação dos espaços periféricos através da paisagem do tecido urbano como elemento central.

O embate entre a "habitação" e o "habitat" que permeou as discussões levantadas ao longo de todo o caminho aqui trilhado, evidenciou a pertinência do desenho urbano como objeto central de análise, capaz de articular as dimensões da precariedade social e da rede de infra-estrutura urbana, inscritas na definição da qualidade do habitat construído sem abandonar a importância fundamental da provisão habitacional.

Esta perspectiva sustentou a escolha do distrito Raposo Tavares como território paradigmático, expressivo das condições citadas acima, foco de análise para o objetivo propositivo final de qualificar o espaço construído por meio do re-desenho urbano, instruindo metodologia capaz de ser reproduzida para outras regiões de São Paulo que exibem as mesmas características de precariedade e fragilidade urbana.

o território observado

No primeiro momento encarava-se este território como sendo um tecido completamente excluído da cidade formal, com suas esferas de vida pública e coletiva desconstruídas, marcado ainda pela má qualidade de projeto arquitetônico e urbano, percepção que foi se complexificando à medida que o trabalho de campo foi sendo desenvolvido.

A determinação do recorte empírico, a porção sul do distrito Raposo Tavares, partiu da estrutura da malha viária que se organiza em torno da Avenida Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia, e é claramente delimitado pelas Rodovias Raposo Tavares e Régis Bittencourt e o Rodoanel Mário Covas. Entretanto optou-se por restringir esse perímetro ao limite administrativo de São Paulo, uma vez que assim a pesquisa conseguiria manter a mesma base e rigor dos dados utilizados. Convém destacar que, dependendo do objeto, surgiu a necessidade de articular bases de dados relativos à totalidade do distrito e mesmo à subprefeitura.

caminho percorrido

Em primeiro lugar procurou-se compreender as dinâmicas de construção e ocupação do território para que as características de debilidade e carência da periferia, pressupostas inicialmente, pudessem ser reavaliadas, contextualizadas e, desse modo, justificar a proposta de intervenção. Para isso recorreu-se a leituras teóricas, informações e dados estatísticos, e trabalhos empíricos que de alguma forma estivessem relacionados ao território.

A partir desse mapa territorial estruturou-se o trabalho de campo, composto de andanças, entrevistas e conversas informais com moradores da região, com objetivo de capturar a dinâmica de apropriação do território, evidenciando dimensão importante do que viria a se transformar no objeto central deste trabalho: a paisagem urbana periférica. O trabalho de campo foi tecido com as discussões e entrevistas realizadas com técnicos e professores que orientaram o desenvolvimento da pesquisa teórica e conceitual.

Esses dois momentos distintos de pesquisa determinaram a eleição das dimensões espaciais do território investigado: a escala de estruturação urbana (que abrange praticamente todo distrito Raposo Tavares) e a escala do pedestre (relacionada ao cotidiano dos moradores).

É importante ressaltar que a leitura deste território também é resultado de experiências e referências próprias, sejam elas como estudante de arquitetura e urbanismo ou como moradora de São Paulo, feita não apenas com os olhos, mas também com ouvidos, tato, olfato, cérebro e alma. Um ponto central na construção deste trabalho foi esta interpretação própria condicionada, a percepção dessa capacidade individual de ler determinadas características do território e entender a dinâmica das relações cotidianas neste espaço.

Ainda que muitos problemas urbanos e sociais sejam evidentes, o perímetro observado apresenta algumas particularidades inusitadas, tais como a heterogeneidade do tecido urbano e a forte presença da natureza, que aliados às experiências vivenciadas em campo, revelaram a importância da qualidade da paisagem construída no habitat cotidiano dos moradores daquela região.

desenhando

Delineia-se desse modo o desafio de: qualificar o espaço que emoldura o habitat e as relações sociais de seus moradores por meio de uma outra ferramenta de planejamento urbano – o redesenho urbano. O desenho não é capaz de promover, por si só, uma qualificação para o tecido urbano estudado e, portanto, deve ser compreendido como vértice de uma abordagem conceitual que procura articular elementos de política pública, urbanismo e projeto.

O redesenho da paisagem construída é uma aposta de se reinventar o território periférico da cidade e o cotidiano de cada um dos seus moradores.

A partir desta perspectiva, surge outro elemento a ser enfrentado: a brusca mudança de escala no decorrer do trabalho. Essa rápida quebra da escala do sobrevôo à escala do caminhante foi um grande desafio no processo de elaboração das propostas. Nos momentos de leitura, a escala maior (da estrutura urbana, em que se conseguia observar de uma vez só todo o distrito Raposo Tavares) de certa maneira enfeitiçava o processo de descobrimento deste objeto. A elevação do olhar foi, assim, capaz de diagnosticar elementos estruturadores importantes, mas rapidamente se mostrou insuficiente. Dessa forma, conseguir chegar à escala do habitante daquela porção da cidade (do caminhar pelas praças e ruas, de enfrentar um percurso de ônibus para acessar os serviços básicos da cidade) fez surgir uma nova apreensão daquele tecido urbano e das práticas cotidianas lá exercidas.

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