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secao 4!

O LIXO QUE NÃO É LIXO

Notas sobre uma experiência de re-utilização de papel no design de mobiliário

Aya Takeda

Maria Cecília Loschiavo dos Santos

A idéia de criar mobiliário de papel reutilizando materiais, os diversos tipos de papéis, destinados a lixo surgiu como uma contribuição de resposta ecologicamente correta ao momento em que a humanidade discute o futuro da Terra frente ao atual modo de vida das sociedades, à cultura do descartável e seu consumismo desenfreado, ao uso predatório do meio ambiente, à crescente exclusão social.

O objetivo do trabalho não foi apresentar apenas algumas experiências pela busca por alternativas para solucionar os problemas gerados com o descarte, mas também de repensar sobre nossas ações e nosso papel perante o meio ambiente e a sociedade.

No início parecia ser uma tarefa fácil, mas durante o desenvolvimento do trabalho, logo se percebeu a complexidade do tema quanto ao conceito Desenvolvimento Sustentável e quanto a sua aplicação em novos produtos.

O desenvolvimento sustentável busca a harmonia entre produção, homem, cultura e ambiente. É um modelo dinâmico de desenvolvimento que propõe assegurar a continuidade dos ecossistemas e a qualidade de vida em longo prazo, respondendo às expectativas da sociedade sem comprometer as futuras gerações, que por sua vez encontrarão suas próprias necessidades.

Uma maior conscientização sobre o papel das indústrias quanto aos impactos de sua produção tanto em questões ambientais, quanto sociais e econômicas, faz necessária uma redefinição dos modelos produtivos em vigor, que se voltam prioritariamente ao projeto estético-funcional, e, sobretudo, de novas posturas por parte do consumidor.

Nesse contexto, o design assume um papel decisivo na busca por metodologias de produção mais apropriadas, considerando o conjunto de processos do desenvolvimento de produtos, levando em conta os impactos de todo seu ciclo de vida, desde a matéria-prima até o descarte e disposição.

Fica evidente então a necessidade de reconsiderar tudo que consumimos e produzimos; aprender com a natureza que não gera resíduos, pois tudo nela se transforma, gerando um ciclo contínuo e infinito; repensar a função do design; otimizar o uso de matérias-primas e reduzir o consumo de recursos energéticos; re-utilizar os materiais até o seu limite; implementar os processos de reciclagem; trabalhar com materiais reciclados e recicláveis. Porém a produção de materiais recicláveis e reciclados não fica isenta do consumo de recursos naturais e nem dos impactos que causam com sua produção, por isso ressalto a grande importância na re-utilização dos materiais descartados para a produção de novos produtos.

A re-utilização de um produto extende seu ciclo de vida, dessa forma atende à condição básica do desenvolvimento sustentável, implicando em reaproveitamento de matéria-prima e otimização de recursos energéticos para a produção de novos produtos. Assim, o projeto focou somente o reuso dos produtos descartados sem passar por algum processo químico, reutilizando esses materiais no mesmo estado físico encontrado e usando cola de amido para o desenvolvimento de novos produtos, resultando numa família de objetos formada por arranjos florais, luminária, banquinho e mesa.

E, além disso, necessita-se revisar o nosso papel perante a sociedade. O individualismo tem se tornado um aspecto tão presente no ser humano que nada mais importa além da satisfação individual. O consumismo desenfreado é apenas um dos seus sintomas. Porém as suas conseqüências têm arriscado a própria existência humana, resultando nesse novo paradigma a procura de alternativas sustentáveis. Então se fala, discute-se, anuncia-se, divulga-se muito a respeito de sustentabilidade, mas muito continua apenas na falação ou na falsa interpretação. É muito fácil falar de consumo responsável e sustentabilidade quando se locomove de carro, com ar condicionado ligado no máximo, para uma distância a pé ou mesmo quando se deixam todas as luzes, televisões, computadores ligados sem que ninguém faça seu uso ou, ainda, quando se descarta todos os produtos "sem valor" para fora de casa sem se preocupar com o seu destino final. Percebe-se a triste realidade que a conscientização ainda está muito aquém. Muitas pessoas ainda não perceberam que o próprio bem-estar não está mais garantido.

Não deixando de lado a grande desigualdade social que deve ser realmente relevada no desenvolvimento do produto para se atingir o desenvolvimento sustentável. Os projetos sociais para diminuir esse grande desequilíbrio ainda carecem de ações efetivas de toda população e ainda se encontram num estágio superficial. Apesar de não conseguir integrar a ação dos catadores com este trabalho nessa etapa; pretendo ainda numa próxima fase, passar todas as informações que obtive com este trabalho e produzir mobiliários de papel descartado em conjunto com os catadores e moradores de rua, a fim de ajudar a transformar o indivíduo excluído no agente de sua própria inclusão social.

Ainda existem muitas dificuldades e barreiras, a carência do apoio do governo e a falta de conscientização do consumidor nas suas escolhas e ações sobre o meio.

Acredito que nossa sociedade já deixou de ser sustentável, mas é imprescindível a atuação conjunta de todos na busca para se atingi-la, na busca por uma melhor qualidade de vida e pelo bem-estar através da mudança da visão de nós enquanto seres vivos no planeta, da conscientização e da responsabilidade da ação de cada cidadão na natureza e, também, na sociedade. É preciso incorporar e integrar as questões ambientais nos cotidianos e na educação de cada indivíduo.

Dessa forma, a produção de objetos através da re-utilização de papéis descartados se encaixa num conjunto de experiências para alternativas que buscam adequação do projeto de design aos princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, integrando as questões ambientais e sociais em sua concepção, ressaltando a importância e a responsabilidade do designer na concepção de novos produtos.

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