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secao 4!

EDIFÍCIO COMERCIAL BIOCLIMÁTICO NA AV. PAULISTA

 

CARLOS AUGUSTO MUÑOZ CRUZ

FERNANDO CREMONESI

Apresentação

Este trabalho teve por intenção estudar uma alternativa viável, do ponto de vista da sustentabilidade, para o edifício comercial alto, tipologia presente nos centros das grandes cidades no mundo todo. A motivação para o trabalho foi ver que, a despeito dos graves problemas ambientais que o mundo atravessa, edifícios de grande consumo energético continuam a ser construídos nas cidades brasileiras, em total desacordo com o clima e a situação de escassez de energia pela qual o mundo passa.

A idéia seria desenvolver uma edificação comercial de baixo consumo energético, de acordo com técnicas bioclimáticas, edificação essa que seria localizada na Av. Paulista.

Conceituação

Ao longo da etapa chamada do estudo preliminar, procurou-se determinar a forma geral da edificação, que mudou substancialmente à medida que fomos tentando a aplicação de várias técnicas bioclimáticas de condicionamento ambiental. A partir do momento em que percebemos que não seria possível ventilar a edificação por meio de aberturas ligadas diretamente ao ambiente externo (por causa do alto nível de ruído causado pelo trânsito pesado na Av. Paulista), a questão principal foi como conseguir fazer esse resfriamento sem a utilização de aparelhos de condicionamento de ar.

Uma das primeiras idéias foi a de se utilizar o subsolo como elemento de resfriamento do ar, já que abaixo de 3 m da superfície a temperatura do solo é praticamente constante durante o ano inteiro (cerca de 19 ºC na cidade de São Paulo). A proposta seria fazer o ar passar por um plenum no subsolo da edificação, de onde seria levada para os escritórios por meio de dutos verticais no corpo da edificação, suprindo, assim, a demanda por ar fresco.

A seguir, tomamos conhecimento de uma técnica chamada "chaminé" solar, que poderia ser utilizada para aumentar as trocas de ar de um recinto, sem ter que necessariamente abrir suas janelas. A chaminé solar nada mais é do que um tubo metálico que, ao receber os raios solares, se aquece e aquece o ar no seu interior. Este ar, ao ser aquecido, tem sua densidade diminuída, sendo forçado para cima (efeito chaminé, ou de flutuação, originalmente conhecido por Princípio de Arquimedes), aumentando-se, assim, o fluxo de ar. As chaminés solares "aspirariam" o ar quente, e este, ao ser retirado do espaço, seria substituído por ar fresco proveniente do subsolo.

As chaminés solares, além de acelerarem as trocas de ar de um espaço quando recebem a incidência do sol, também têm a função de aumentar o resfriamento noturno das edificações, já que, por estarem em contato com o ar mais frio durante a noite, fazem com que a edificação "expulse" o calor acumulado durante o dia. Essa característica, associada à inércia térmica, permite que se controlem, com razoável segurança, as temperaturas de uma edificação, desde que os ganhos de calor não sejam potencializados por grandes áreas envidraçadas ou características de projeto que aumentem esses ganhos (paredes escuras, por exemplo).

Foram esses conceitos bioclimáticos que "moldaram" a forma obtida nos estudos iniciais, forma essa que serviria de base para a etapa seguinte: o anteprojeto, na qual foi feito o detalhamento dos principais aspectos da edificação.

Conceituação

Neste trabalho, verificamos a viabilidade de uma proposta bioclimática para um edifício de escritórios na Avenida Paulista. Os resultados obtidos mostraram que uma edificação desse tipo teria um custo inicial cerca de 10% maior do que de um edifício convencional, com um tempo de retorno do investimento de cerca de três anos, levando-se em conta apenas o consumo de energia.

O projeto de uma edificação não deve ser guiado apenas pelo custo inicial, já que um prédio bem projetado e construído pode ter uma vida-útil de várias centenas de anos, desde que seja possível mantê-lo e atualizá-lo de acordo com os avanços tecnológicos. Exemplos não faltam de edifícios que resistem dignamente ao tempo.

Não se trata apenas de consumir menos para economizar recursos financeiros, mas de agredir menos o meio ambiente. Hoje, no Brasil, cresce a porcentagem de energia elétrica gerada a partir de combustíveis fósseis (gás natural), o que diretamente contribui para o aquecimento global e a ameaça de grandes catástrofes climáticas (por exemplo, a elevação do nível do mar e o desaparecimento de cidades como o Rio de Janeiro). Consumir menos não é apenas uma questão financeira, mas de sobrevivência.

Procuramos, ao longo deste trabalho, mostrar o processo de busca por uma solução para o problema proposto. O fato mais marcante dessa busca e aprendizado foi o descarte, já bastante próximo da data de entrega, de uma configuração que, aparentemente, parecia ser boa.

No entanto, nos incomodava prosseguir numa proposta que não seria a melhor resposta ao problema. "Se tivesse que começar de novo, não faria desse jeito" era o pensamento recorrente à medida que avançávamos no detalhamento da proposta descartada. Não havia outra opção a não ser recomeçar o trabalho.

Esta decisão nos impediu de chegar ao nível de detalhamento necessário para uma análise mais profunda de custos, o que talvez permitisse reduzir ao máximo o investimento inicial na construção da edificação e equipará-lo ao de uma edificação convencional. Porém, o mais importante agora é podermos afirmar que há uma alternativa viável para a torre envidraçada e refrigerada.

Como já afirmava John Ruskin em 1842 em As Sete Lâmpadas da Arquitetura, nós não temos o direito de destruir o lugar onde vivemos e o qual deixaremos para as futuras gerações. Existe apenas um caminho a seguir, no qual os arquitetos ainda têm um papel fundamental, o caminho da sustentabilidade.

FICHA TÉCNICA:

Edificação comercial
Área total: 12.800 m2
19 andares
pé-direito (piso a piso) = 3,7m
Elevadores: 9
Vagas de automóveis: 256
Estrutura: concreto armado

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