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secao 4!

re vida

 

diogo damásio gomes da silva

vicente gil filho

1915

o artista é um criador quando as formas na sua pintura não têm nada em comum com a natureza.
isso é possível apenas quando ensinamos nossa consciência a ver tudo na natureza não como objetos e formas reais, mas como material, como massas das quais formas devem ser feitas, que não terão nada em comum com a natureza.
tais formas não serão repetições das coisas vivas na vida, mas serão elas mesmas uma coisa viva.
eu me transformei no zero da forma e através do zero alcancei a criação, ou seja, o suprematismo
tudo desapareceu; sobrou uma massa de material da qual uma nova forma será construída.
kazimir malevich

5/2007

qual o foco? não entendi...
bjs
o editor

8/2007

a fotografia nasceu da arquitetura. na minha experiência.

ou melhor, nasceu de uma certa concepção de arquitetura: a concepção de artigas, que defende a arquitetura como desígnio em sua aula sobre 'o desenho' de 1967. artigas toma a arquitetura como ato de designar, e nesse sentido como algo que se projeta para além do que está imediatamente posto na realidade, ou ainda, que reflete sobre um rumo, sobre um futuro para a vida.

como se sabe, hoje não há mais espaço para a realização do desígnio de artigas. se ele nos anos 1960 encontrou espaço para realizar - mesmo que contraditoriamente - seus projetos vanguardistas, hoje nos encontramos totalmente encalacrados nos estreitos limites do "possível". de um lado, reurbanizar favelas. de outro, repor constantemente o estoque das alegrias ilusórias do mercado: shoppings, igrejas, alphavilles.

este trabalho nasceu de uma posição frente a essa realidade. ao invés de abandonar o desenho-desígnio em nome de uma adequação à "realidade" ou ao "possível" (caminho já amplamente percorrido pelas diversas gerações do pós-modernismo), eu propunha (não sozinho, vide revista contravento) e ainda proponho resgatar o desígnio e transformar a realidade.

é preciso abrir caminho para o novo, para a possibilidade do desígnio. é preciso refundar a realidade. "e a refundação da realidade, a necessária refundação de nossas cidades, partirá hoje do conflito" (dossiê tfg pp.12-13). e simplesmente, tomei a fotografia como uma possibilidade real de assumir "essa re vida conflituosa e transitória", um "meio hoje possível de re(ligar arte e)vida" (dossiê tfg p.21).

me decidi: "acompanharei processos de luta da juventude frente às contradições da metrópole, através da fotografia" (dossiê tfg p.21).

desde o início rejeitei o mero documentarismo mecânico. as fotos precisariam conter já o princípio do desígnio, ou seja, negatividade. isso implicou na eleição de duas referências primordiais:

- alexandr ródtchenko - vinculado à vanguarda construtivista dos anos 1920, suas fotos manifestam o princípio do desígnio porque estão ocupadas em surpreender e reconstruir o olhar do observador, de certa forma contestando sua posição de puro observador-receptor, ao indicar o caminho da investigação e da produção.

- e robert capa - um dos fundadores do fotojornalismo moderno, capa foi "eleito" como referência porque me coloquei a necessidade de "captar os momentos do processo de luta" e também "captar a pulsação viva do processo". e capa conseguiu captar de forma muito aguda conflitos fundamentais do século xx. além disso, no dossiê eu destacava a importância do envolvimento pessoal no processo documentado, fundamental para romper com a mera documentação sociológica, antípoda do desígnio. capa processou à sua maneira esse envolvimento, através da coragem pessoal demonstrada em suas fotos.

foi desencadeada uma ampla movimentação da juventude, a nível nacional, a partir da ocupação da reitoria da usp (3/5/7).

resultado: acompanhei as inúmeras plenárias, assembléias (tão cheias como não se via há dez anos, algumas com mais de 2000 pessoas), atos, cartazes, faixas, intervenções, e a própria ocupação, claro: confrontos. antes disso tudo, eu já vinha (des)cobrindo confrontos como a calourada e a anti-calourada, no início do ano, e alguns atos nas ruas. por mais de um mês mantive (e fui levado a manter, pelos próprios acontecimentos) um ritmo de trabalho de cerca de 3 a 5 sessões semanais de fotos. esse trabalho totalizou mais de 10 mil fotos.

quanto ao caráter das fotos:
parti da observação dos processos, atos etc, na chave da investigação proposta no dossiê como primeiro momento do tfg. e observei que os processos de luta em questão envolviam muitas contradições. por um lado, o embate com as condições atuais da (so)ci(e)dade: a polícia, o trânsito, as pessoas "de fora" da movimentação, os setores contrários à movimentação, etc. por outro lado, e contrariando visões simplificadoras (tanto "favoráveis" quanto contrárias às movimentações), havia contradições internas ao próprio processo: discurso e prática, conteúdo e forma, radicalidade e conservadorismo, etc, etc. as movimentações que acompanhei estavam - e ainda estão, sempre em movimento - cheias de limitações e grávidas de possibilidades.

ao longo do trabalho, meu interesse nessas contradições - tanto "externas" quanto "internas" - foi se recolocando continuamente. procurei capta-las na fotografia. a maior parte das fotografias produzidas, portanto, tem um compromisso documental, que alguns poderiam talvez (talvez) chamar de "realismo". entretanto, não se trata absolutamente de "realismo socialista", horror originado pela burocracia stalinista que dominou a união soviética a partir dos anos 30, e que se ocupa de funções retóricas, como elogiar e mistificar, sempre através do ocultamento das contradições (internas). busquei justamente o contrário: pôr em evidência as contradições, de forma a questionar tanto as potencialidades quanto os entraves das movimentações, única via para uma (possível e por mim desejada) superação de tais entraves. foi dessa forma que tentei processar o envolvimento no processo manifestado por capa em suas fotos.

entretanto, minha posição "interessada" e meu interesse não se contentavam apenas com esse (talvez) "realismo" contraditório. me interessa sobremaneira a fotografia como meio, e o meio como mensagem (cf décio pignatari e marshall mcluhan, vide bibliografia). princípio fundamental da artearquitetura moderna, claramente expresso na fotografia de ródtchenko, "eleito" no dossiê como referência. é assumir o produto (foto, no caso) não como representação, mas como presentação (obrigado zé celso martinez correa, vide bibliografia). unir a coisa à palavra, ou ainda, tomar a própria palavra (produto, imagem no caso) como coisa, como fizeram os futuristas russos precursores de ródtchenko. sentido concreto.

busquei desenvolver esse sentido nas fotografias. busquei, então, produzir formas (significantes) que fossem imanentes ao próprio conteúdo (significado), formas que pudessem de certa maneira encarnar as significações dos movimentos que acompanhei, de forma sintética, não mais documental.

a base para tal busca continuou sendo, em parte, os próprios movimentos, ou seja, seus processos e produtos: uma grade arrebentada em linhas, uma mão que pede calma, etc.

as fotos impressas neste caderno são os produtos de todo esse processo.

5/2007

então,
o que me levou a questionar o foco das fotos foi que não havia, no entendimento dos editores, um foco claro nelas. poderia dizer que são fotos mal tiradas mesmo, feitas com certo ar de obrigação, sem compromisso do autor, mas não consideramos que seja esse o caso.

vc diz - e isto n deixa de ser interessante - q vc procura levantar problemas q ocorreram. ora, embora louvável, vc como eu dificilmente teremos condições de identificar a natureza dos problemas e das decorrentes improvisações para além da imagem aparente deles.

o q quero dizer é que existe por trás de cada ação uma complexidade de planejamento, ação e entendimento q extrapola em muito o q vc pode ter acesso antes de acontecer e mesmo depois. achamos q vc não consegue muitas vezes entender isso, captar isso, pois se mantém com um olhar externo.

no nosso entendimento, cada ação dá elementos suficientes para mostrar força, combatividade, audácia. isto deve transparecer em todos os níveis e dimensões nas fotos e vídeos! não se trata de falsear nada, trata-se de se deixar levar, sentir a força dos combatentes em ato, o peso das falas, o rufar dos tambores.

ver com olhos livres, diogo.
bjs
o editor

1934

o camarada stalin chamou nossos escritores de "engenheiros de almas humanas". que obrigações esse título nos impõe?

primeiramente, isso significa que devemos conhecer a vida de forma a representa-la verdadeiramente em nossas obras de arte - e não representa-la escolasticamente, sem vida, ou meramente como "realidade objetiva".

a esse respeito, a verdade e a concretude histórica da representação artística devem ser combinadas com a tarefa da transformação ideológica e da educação do povo trabalhador no espírito do socialismo. a literatura soviética deve ser capaz de mostrar nossos heróis, deve ser capaz de vislumbrar o amanhã. este método da literatura artística e da crítica literária é que chamamos de realismo socialista.
andrei zhdanov

15/12/2007 ÁGORA AGORA

entre escritor
e leitor
posta-se o intermediário,
e o gosto
do intermediário
é bastante intermédio.
medíocre
mesnada
de medianeiros médios

minha fala anterior, escrita em julho de 2007, não enquadra os altos contrastes reais do (meu) movimento. a contradição fundamental foi que o impulso por potencializar a "realidade" não foi potencializado pelos meios de comunicação estudantis com os quais trabalhei neste ano (jornais e sites), e portanto ficou restrito à minha produção individual. que por sua vez ficou represada. as fotos estruturalmente mais subversivas foram repetidamente descartadas em favor de produtos mais didáticos. produtos que eu mesmo produzi: minha atividade não se resumiu ao "realismo das contradições (internas)" + tentativas de signos potencializadores da experiência dos estudantes. a produção, atendendo a solicitações dos editores, assumiu em boa parte um caráter documental raso, se situando claramente a reboque dos acontecimentos, meramente os reproduzindo. e por vezes, ainda pior, abandonando qualquer negatividade e trabalhando procedimentos de representação grandiloquente, "otimizando" a realidade do movimento. isso correspondeu a uma parte muito grande da produção, infelizmente.

no outro pólo, fiz por minha conta algumas fotos cuja pauta era a própria produção da linguagem, ou seja/melhor, a proposição de novas estruturas e/ou a subversão das existentes. tais fotos eram vistas pelos mesmos editores como coisas inúteis, porque não imediatamente aplicáveis em jornais "políticos". não percebiam eles que a subversão e a invenção no nível da estrutura (e não no do conteudismo dos discursos retóricos) é fundamental e indispensável para que qualquer movimento não acabe estagnado. movimento significa justamente (re)invenção constante, revolução permanente. e na direção da emancipação total do homem, não apenas da estritamente "política" ou "econômica". nesse sentido, derrotar a classe dominante não pode significar o embotamento da personalidade e sua subjugação pelo dogma, mas justamente a libertação da individualidade dos véus ideológicos e repressivos, de modo que se tome a vida pelas próprias mãos. ponto de partida fundamental para qualquer militância. essa perspectiva libertária, máxima, tem que ser permanente para que o movimento coletivo (dos estudantes, por exemplo) possa se radicalizar. nesse sentido é politicamente fundamental não apenas tolerar mas claramente incentivar a experimentação radical, ou seja, estrutural. mesmo que ela não seja imediatamente aplicável. a torre tatlin (1920) informou toda a geração de arquitetos construtivistas russos dos anos 1920. a poesia concreta e a música de invenção compunham a fórmula da banana (de dinamite) tropicalista de 1968. maiakóvski em 1928 afirma claramente que certas produções não se destinam direta e imediatamente a consumidores, mas a produtores, como a energia gerada por uma central elétrica é primeiro distribuída para um pequeno número de subestações que então alimentam de energia todo o país.

neste nosso momento, em que a ousadia e a radicalidade de princípio não têm (nem terão) mais acesso aos meios (de comunicação, de construção, etc) pelo fato de esses meios estarem submetidos à apropriação privada em seu período terminal e bárbaro, é fundamental que os movimentos de contestação concebam seus próprios meios de comunicação como industrializadores da invenção (invenção que deve se desenvolver independentemente das pautas mais imediatas, e assumir formas mais transitórias pelas mãos de produtores imanentes ao movimento político), e não como meros veículos daquilo que já foi vivido, já está posto, ou como comentadores da realidade, ou ainda pior, como desenhistas de falsificações “épicas”. somente assim pode-se influir e alimentar uma potencial produção-movimento de massa que desdobre sua experiência política de transgressão (como foi a ocupação da reitoria) num sentido máximo, de uma nova vida para muito além do sindicalismo estudantil. é uma questão antiga: a do novo.

"a obra de arte - e paralelamente qualquer outro produto - cria um público sensível à arte e capaz de desfrutar a beleza. a produção não elabora, pois, somente um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto."
marx, introdução à crítica da economia política, 1857

nosso desenho deve lançar-se a essa condição

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