Este trabalho consiste no projeto do Parque Linear Ponte Rasa, com aproximadamente sete quilômetros de extensão, localizado da Zona Leste de São Paulo, cruzando as subprefeituras de Ermelino Matarazzo e Penha. Trata-se de uma região muito problemática pois, além de sua grande extensão, é intensa a presença de ocupações muitas vezes em cima do córrego. Foram feitos estudos de todo o córrego, classificando a área em quatro tipos de acordo com a área disponível para a implantação desse parque. Assim, foram propostas diretrizes de implantação do parque linear com a execução de cortes-tipo e com a indicação da necessidade de travessias em alguns locais, tanto de pedestres quanto de automóveis.
A partir desses estudos, foi determinada uma área de projeto, o Parque da Nascente. A escolha se deu por se tratar de uma área problemática, com a presença de invasões, além de possuir uma grande área ainda livre de ocupações e possuir uma localização muito importante e de fácil acesso na região. Fica ao lado do Terminal A. E. Carvalho, e é delimitado pelas avenidas Águia de Haia ao leste e pela estrada de Mogi das Cruzes/ estrada do Imperador ao norte. Há vários lotes ocupados com galpões em funcionamento e residências que fazem divisa com o lote do Parque, além de duas escolas infantis, a Faculdade de Tecnologia da Zona Leste (FATEC), o Pólo Cultural da Zona Leste, além de uma favela como já foi dito. O Pólo Cultural é um galpão, hoje deteriorado, onde ocorrem eventos para a comunidade como shows e reuniões de movimentos de moradias e reuniões da subprefeitura. Essa área compreende aproximadamente 193 mil m². O partido do projeto é o de criar travessias para os pedestres, integrando, assim, o parque à malha urbana, deixando de ser um obstáculo da forma como a área é vista hoje. Partindo da premissa de que a água do córrego está limpa, criei áreas onde é possível o contato das pessoas com a água, resgatando a importância da conservação e preservação da água.
A circulação principal dá-se por um largo caminho de 12 metros de largua que corta o parque longitudinalmente, acompanhado pela ciclovia. Este caminho contempla a água e a vegetação, com um traçado sinuoso, quebrando a monotonia de um longo caminho, chegando próximo da água em alguns momentos e em outros ficando mais distante da mesma. As travessias são os caminhos mais diretos, que fazem as ligações mais importantes para o cotidiano da população, pois representam a continuidade da malha viária dentro do parque. É importante ressaltar que todos os caminhos foram pensados para permitir a acessibilidade universal. Assim sendo, não existem escadas e toda a circulaçao é feita através de rampas conforme a NBR 9050.
É constante a presença de muros de divisa dentro do parque. O tratamento dado foi o de minimizar o seu impacto com o uso da vegetação. Assim, foram criadas áreas de arborização mais densa, e outras menos. A arborização acompanha o percurso do pedestre, sombreando os caminhos e os bancos embaixo das árvores. As famílias residentes na favela foram remividas para um local dentro da própia gleba, a área de ZEIS 2, pois além de ser uma área já reservada para este fim, fica em um terreno plano dentro do parque e integra-se com a área residencial já consolidada do bairro. O levantamento feito revela cerca de 500 famílias atualmente na área. Para esse projeto foram destinados quatro edifícios com quatro pavimentos e capacidade de aproximadamente 120 unidades habitacionais cada um. O projeto dos edifícios residenciais deve ter como premissa a sua integração com o parque e servirá de exemplo para futuras intervenções como esta.
Para a área esportiva, foram destinadas três quadras poliesportivas abertas e duas cobertas. Espera-se desta forma suprir a necessidade da população local. As quadras descobertas foram posicionadas em relação ao norte e acompanham a curvatura do caminho principal, por onde é feito seu acesso.
A marquise criada concentra os serviços de apoio (sanitários e lanchonete) e a administração do parque embaixo dela. A implantação desses edifícios embaixo da marquise tem como objetivo concentrá-los num único local. Ao mesmo tempo, percebe-se que a forma como os dois edifícios foram dispostos privilegia o espaço livre criado. Assim, essas edificações foram projetadas com essencialidade construtiva e simplicidade plástica, executados em alvenaria armada pintada. Nesta área também se encontram o parque infantil e a pista para skate. O espaço criado em cima da marquise é na verdade um mirante, não só para todo o parque, mas também proporciona visuais iteressantes de toda a região por chegar a uma cota elevada, enquanto o espaço criado embaixo pode ter múltiplas funções para a comunidade, além de um generoso estar abrigado da chuva e do sol.
O Pólo Cultural foi substituído pela Casa de Cultura, um edifício multifuncional que abriga dois auditórios, com capacidades de 414 e 72 pessoas respectivamente, estúdios para gravação de música, ateliers destinados a cursos e atividades para a comunidade, salão de dança e ginástica. Além disso, a implantação do edifício cria uma praça coberta no nível do parque, suprindo as necessidades da comunidade com um espaço coberto, mas aberto para shows e outras atividades. Esta praça conta com uma área de apoio destinada a uma lanchonete e sanitários. Novamente, vale lembrar que o acesso do edifício, tanto pela avenida quanto pelo parque é feito através de rampas, garantindo a acessibilidade universal. A implantação escolhida para o prédio considerou como importante sua localização junto à avenida Águia de Haia e ao lado da faculdade já existente, contemplando não somente a população local, mas numa escala maior, já que em frente ao equipamento, localiza-se o Terminal Intermodal A. E. Carvalho de importância significativa para toda a Zona Leste. O partido do projeto é o de se integrar ao parque. Varandas foram criadas, criando estares com vista agradável para o parque, além de barrarem a insolação direta, já que o edifício encontra-se em orientação desfavorável.