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secao 4!

Arauto, fonte de texto para jornais

 

Fernando de Moraes Caro

Luís Cláudio Portugal do Nascimento

Esse trabalho tem como finalidade a criação de uma fonte de texto para uso em jornais impressos. Não foi escolhido um jornal específico como foco de trabalho, mas diários brasileiros de modo geral. Um trabalho de criação de tipos para jornais pede uma família completa com diversas versões e que atendam às necessidades dessa publicação. Essas versões vão desde a fonte para manchetes, funcionando em tamanhos grandes e com o impacto necessário para títulos, como a letra dos classificados que buscam o máximo de economia de espaço, mantendo certo grau de leitura. A família de fontes para o jornal londrino The Guardian, desenvolvida por Christian Schwartz e Paul Barnes, possui ao todo mais de 200 fontes. É a única família tipográfica usada pelo jornal, em contraposição à maioria dessas publicações, que utilizam diferentes desenhos de letras, para dar a resposta a cada problema.

Apesar da necessidade de criação de um conjunto completo de fontes, este trabalho se limitará à criação das versões de texto. Pela pouca experiência que tenho em desenho tipográfico, preferi me focar em um recorte do problema, procurando melhor refinamento no resultado, do que um projeto mais plural. Esse trabalho deixará encaminhado um projeto maior, o qual poderá ser completado futuramente.

O jornal é provavelmente o impresso com maior presença na vida das pessoas. Apesar de a Internet ser muito utilizada hoje como fonte de informação, o diário impresso ainda possui grande importância, principalmente quanto à credibilidade e a notícias e opiniões consistentes. Mesmo com o uso intenso dos jornais, não há no Brasil trabalhos técnicos em tipografia no assunto ou tipógrafos nacionais que se dediquem a isso. Mesmo quanto à diagramação, são poucos os projetos gráficos desenvolvidos por designers brasileiros. A última reforma gráfica dos jornais de maior circulação em São Paulo, Folha e Estado, foram feitas por empresas estrangeiras, respectivamente, García Media e Cases. O desenvolvimento dessa área do design gráfico poderia valorizar questões brasileiras, como no uso da acentuação no português. Pela falta de familiaridade com esse sinal gráfico, alguns designers internacionais costumam desenhá-los sem muito rigor, geralmente pequenos demais, o que dificulta a leitura de palavras acentuadas.

Há também o interesse pessoal na escolha do tema. Durante a graduação, foram ensaiados alguns trabalhos de desenvolvimento de fontes de menor complexidade. Realizar o Trabalho Final de Graduação nessa área seria a oportunidade de estudar e aprofundar em design de tipos. Foi escolhido um tema mais complexo, que tivesse diversas questões a serem abordadas no projeto, como de impressão e diagramação, com maiores referências, mas pouco original, ao invés de um tema ainda menos explorado, mas com poucas balizas para um iniciante no assunto.

Uma das peculiaridades desse impresso são as colunas de texto mais estreitas que o comum. Para uma fonte se adaptar a essas condições, precisa ter os caracteres mais condensados. Sobre as condições de impressão, o desenho da letra também precisa de adaptações. Gerard Unger, designer holandês especializado em fontes de jornais, afirmou, em comunicação pessoal por e-mail, que, embora a tecnologia de impressão tenha melhorado muito nesse tipo de impresso, nos últimos anos, ainda não possui a qualidade de um livro, por exemplo, é preciso haver adaptações do desenho de fontes a esse meio.

Outra questão levada em conta no projeto é a imagem associada ao desenho. A maior parte desse tipo de publicação é preenchida por letras, as quais são grandes responsáveis pela personalidade da publicação. Hoje, muitos jornais pelo mundo possuem fontes de uso exclusivo, que dão identidade ao impresso. Como é o caso do jornal português Público, do jornal canadense The Globe e, no Brasil, da Folha de São Paulo, Folha Serif e, mais recentemente, d' O Estado do Paraná, com a Estado Serif.

A pesquisa dividiu-se em duas partes: questões relacionadas a alfabetos de jornais e design de fontes. Na primeira, foram estudadas legibilidade, "readability", impressão e diagramação de jornais e as características de uma fonte de texto. Foi feito também o levantamento dos tipos utilizados por vinte e cinco jornais brasileiros e internacionais e escolhidos sete, para uma análise mais profunda. Quanto ao estudo de design tipográfico, na outra parte, foram procuradas informações que deram o embasamento para execução da fonte. No final da pesquisa, foram elaborados os requisitos, que deram suporte ao projeto.

O processo de projeto se deu pela criação de seis alternativas de fontes, desenvolvidas até o arquivo digital, para que pudessem ser avaliadas em composições de textos. Para ajudar na escolha daquela mais promissora, foram montadas pranchas com as alternativas, as quais foram apresentadas para leigos e designers. A partir do caminho escolhido, o detalhamento foi feito por meio de sub-alternativas para se determinar com maior precisão o desenho das letras.

A fonte desenvolvida é uma fonte serifada, buscando ser compacta, para permitir ganho de espaço na página, e, ao mesmo tempo, possuir espaços internos abertos, para ter bom grau de legibilidade. Elementos pequenos, como pontuação e acentos, foram desenhados em tamanhos maiores, permanecendo legíveis em corpos pequenos. Pela maior presença de siglas e dados numéricos em jornais, letras maiúsculas e algarismos possuem dimensões compactas, para não apresentarem destaque exagerado no texto. O eixo norteador da variação de espessura das letras é inclinado, buscando reforçar o movimento horizontal de leitura.

Para as versões complementares da fonte, procurou-se manter próximo ao grau de legibilidade da versão regular. O itálico possui baixa inclinação e caracteres largos, com o objetivo de ter grandes espaços internos. O negrito foi desenvolvido expandindo as hastes da fonte regular, de modo que a região aumentada é maior para o exterior, do que para o interior das letras, para que as contraformas não ficassem fechadas.

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