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secao 4!

Arena Metropolitana, estádio de futebol na Barra Funda

 

Gabriel Barro Fiuza

Fábio Mariz Gonçalves

Projetar um estádio representou para mim um desafio muito grande no sentido de implantar um edifício de uso pontual em determinados dias da semana, gerador de picos de trânsito de veículos e pessoas em um terreno central da cidade, no bairro da Barra Funda, numa área já objeto de diversos estudos, dentre eles o concurso "Bairro Novo".

As implicações urbanísticas de uma intervenção na área, uma zona cortada pela via férrea que dificulta a integração da Água Branca com a Lapa, são necessariamente grandes.

De alguma forma busquei projetar um estádio que, segundo as palavras do Prof. Oreste Bortolli Jr. em um dos atendimentos, não fosse um "trambolho urbano". Geralmente os estádios, principalmente os novos da Copa da Alemanha e nos projetos principalmente para as Olimpíadas de Pequim são estruturas totalmente fechadas, onde quem está dentro não vê fora, e quem está fora não percebe o que acontece dentro.

Acredito que este não seja um caminho saudável para a cidade, por isso resolvi seguir o exemplo de estádios que não fossem famosos pelas suas soluções tecnológicas de vanguarda, mas que fossem exemplos de uma implantação bem feita e que agregassem valor urbanístico para o ambiente.

Dentre estes destaco o Estádio do Dragão, de Manuel Salgado (1999), que reconfigurou um importante eixo no bairro das Antas, no Porto, com uma praça e um sistema viário novo. Outro é o Estádio Municipal de Braga, de Eduardo Souto de Moura (2003), que toma partido magistralmente do lugar onde se localiza.

Outra referência que fui buscar foi de estádios que propusessem ao espectador uma visão não só do campo de jogo, mas também da cidade vista de outro ângulo. Neste aspecto novamente incluo o Estádio do Dragão, e cito o Giuseppe Meazza, em Milão (Ulisse Stacchin - 1925), que têm aberturas em suas arquibancadas para que o torcedor possa ver a cidade.

Outro aspecto não menos importante para uma intervenção na área é a questão da ligação entre os dois lados. A praça elevada que proponho, a 8,00 metros do nível da rua, integra os acessos do estádio com uma rampa que vai até a Av. Carlos Vicari, e liga a região da Lapa com a Av. Marquês de São Vicente, importante linha de ligação das zonas norte e oeste com o centro da cidade.

Esta cota (8,00m) foi tomada baseando-se no gabarito ferroviário, que limita a construção de pontes e marquises a 7,50m acima do nível dos trilhos. Como a linha férrea está 1,00m abaixo da cota do terreno, e está previsto no projeto a construção de uma nova estação para servir à ligação entre os lados da ferrovia e ao estádio, sob a rampa de acesso à Av. Carlos Vicari, temos ainda 1,50m para a estrutura que fará a transposição da ferrovia.

Sob esta praça estão os estacionamentos, item tão importante nas construções de hoje, e que nenhum estádio paulistano atende dignamente. Pensando também neste ponto, e no fato de que é difícil achar em São Paulo um terreno com estas dimensões (praticamente 690,00m x 285,00m, com uma superfície de 195.000m²), e no fato da cidade ter dentre as suas principais equipes duas que, já é de conhecimento público, intencionam construir novos estádios, resolvi projetar a Arena Metropolitana para ser administrada pelo Sport Club Corinthians Paulista e a Sociedade Esportiva Palmeiras.

A princípio soa estranho, mas se formos olhar ao redor do mundo, países com grande tradição no futebol, e fortes representantes destas forças mandam seus jogos em estádios compartilhados como, por exemplo, a SS Lazio e o AS Roma, o Bayern de Munique e o TSV 1860, Verona e Chievo, Internazionale e Milan...

Em uma realidade como a brasileira, uma divisão nos custos de manutenção de um estádio para 60.000 pessoas seria mais um aspecto favorável a viabilização do empreendimento. Isto posto, a Arena Metropolitana está implantada na porção sul do terreno que pertencia à Telesp, foi passado para a Telefonica, posteriormente comprado pela Tecnisa, e foi objeto do concurso Bairro Novo. Sua inserção em uma zona central da cidade, com fácil acesso via trem, metrô e ônibus, sua ampla área livre, sem nenhuma construção, e a própria vocação esportiva da área (temos na Av. Marquês de São Vicente o Centro de Treinamento do São Paulo Futebol Clube, o do Palmeiras, a sede do tradicional clube da capital, o Nacional Atlético Clube, além do próprio estádio Palestra Italia) fizeram com que este terreno fosse escolhido para abrigar o estádio.

Como citado anteriormente, a questão da visibilidade foi o ponto principal do partido arquitetônico adotado para o estádio, e no nível da praça é onde esta premissa está mais claramente explicitada.

Toda a estrutura, a distribuição dos acessos e das próprias arquibancadas foi concebida para que o pedestre que caminhasse pela praça tivesse o mínimo de interferência visual possível, para que mesmo chegando pelo lado sul ele tivesse a visão, através do estádio, da serra e do restante da cidade. Inclusive, quando a praça se aproxima da Av. Marquês de São Vicente ela se estreita e transforma-se em um mirante, com 3 mastros de bandeiras com 40m de altura, que certamente dera uma visão bastante completa do fundo de vale plano que se estende quase até a Freguesia do Ó, e de um bom pedaço da Avenida.

Esta foi uma tentativa em parte inspirada pelo grupo dinamarquês BIG, que tenta criar, com a arquitetura, um relevo interessante e novas formas de apreensão do espaço na plana Dinamarca.

Com estas premissas, a Arena Metropolitana nasceu como uma vontade de dar uma nova característica a um tipo de edifício que já tem seu uso consagrado desde a antiguidade como centro de entretenimento de massa, e que a cada dia torna-se um negócio mais lucrativo, e que, portanto, tem a obrigação de retribuir à cidade uma qualidade que vá além do espetáculo esportivo em si.

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