"Surge afinal a questão: onde ficamos? Ou o que fazer? Esperar por uma nova sociedade e continuar fazendo o que fazemos, ou abandonar os misteres de arquiteto (...) e nos lançarmos na luta revolucionaria completamente? Nenhum dos dois unicamente." Vilanova Artigas
O tema deste trabalho trata de documentar e analisar o processo de transformação que está ocorrendo em diversas regiões da cidade de São Paulo, e em especial no bairro da Mooca. Este processo consiste na mudança de uso do espaço urbano existente onde antigas áreas industriais, cedem lugar a novos empreendimentos imobiliários, muitas vezes, em condomínios fechados. Este estudo procura entender alguns aspectos da dinâmica social, econômica e territorial da Região Metropolitana de São Paulo, e suas implicações no espaço urbano da Mooca.
A pesquisa da área da Mooca foi definida em duas escalas: a primeira abrange o perímetro da Subprefeitura da Mooca maior escala; e a segunda, corresponde a uma escala mais próxima, dividida em duas áreas de estudo específico. Após o cruzamento de dados da área da Subprefeitura, foi sintetizada uma parte da pesquisa relativa a fatos recentes que envolvem o boom do setor imobiliário paulistano, o processo de revisão do plano diretor e planos regionais, e o foco de questões polêmicas da Mooca, tais como a preservação de alguns imóveis industriais.
A ultima parte deste trabalho, foi pensada para possibilitar a discussão da importância desenho urbano na transformação da cidade. Através de simulações, foi discutido e questionado os ganhos e perdas da implantação de condomínios fechados nas antigas áreas industriais. E por fim, através de ensaios de projeto, foram levantadas algumas questões urbanísticas que devem preceder os projetos arquitetônicos para a área.
Esta parte inicial do trabalho buscou relacionar e entender as questões urbanas que envolvem a área de estudo e a Região metropolitana de São Paulo. Através do levantamento e leitura de mapas temáticos, foi possível caracterizar a dinâmica e localização das funções da cidade de São Paulo.
A seqüência apresentada segue uma lógica de escalas de estudo, destrinchando algumas questões da RMSP, descendo para o município de São Paulo, e em seguida levantando dados sobre a Mooca. É preciso esclarecer, que este encadeamento foi desenvolvido através de uma constante mudança de escalas, levantando dados e respostas que fossem pertinentes as questões propostas e suas dimensões.
Este item do trabalho foi pensado como um confrontamento entre as diretrizes e parâmetros urbanísticos de uso e ocupação do solo definidos pelo poder publico, e o boom imobiliário que está acontecendo atualmente na cidade de São Paulo.
Esta contraposição foi pensada no sentido de explicitar o descolamento das leis que regem a cidade (plano diretor e planos regionais), em relação ao processo que avassala as possibilidades de pensarmos uma cidade menos carente e desigual.
A parte final deste trabalho procura discutir através de desenho urbano, os parâmetros urbanísticos que regulam a cidade de São Paulo, e o emprego do modelo de condomínios fechados que projeta a cidade atualmente. O questionamento é feito através da criação de cenários, que extrapolam o surgimento de condomínios fechados verticalizados nas antigas áreas industriais da Mooca. Esta simulação teve como base, a escolha de terrenos industriais desativados e em atividade, onde foi realizado o calculo dos índices de uso e ocupação do solo, nos seus valores máximos, e criada a volumetria semelhante ao padrão utilizado na área.
As simulações pretendem através das imagens, tornar visível a pobreza em diversos aspectos do desenho urbano, que esta tipologia de construção traz para a cidade.
Por fim, foram levantados elementos de projeto urbanísticos que deveriam preceder qualquer construção arquitetônica do espaço em questão. Esta parte denominada ensaios, traz possibilidades de melhorias urbanas que respondam ao processo de transformação de uso que as antigas áreas da cidade devem enfrentar.
Este trabalho enfrenta um exercício que debate uma questão urbana, através de novos métodos de abordagens e respostas. A questão urbana foi escolhida com área de estudo na Mooca, por alguns motivos de importância na minha formação. Dentre eles, destaca-se uma curiosidade de tempos atrás, que desde minha infância me questionam; e anseios que durante a Faculdade, me levaram por diversos caminhos e amizades, seja nas disciplinas optativas escolhidas durante o curso, seja na prática profissional adquirida, na Secretaria Municipal de Planejamento ou em contato com profissionais da área.
Este estudo procura sintetizar um percurso realizado na graduação, e também abrir novas portas de pesquisas que abordem o tema levantado. Acredito que este assunto terá questões muito importantes para se debater daqui por diante. Fica aqui a questão: Como podemos nos apropriar das novas ferramentas de trabalho, para levantar e elucidar as novas demandas urbanas que surgem em nossas cidades? Como é possível relacionar as várias escalas urbanas que se mostram indissolúveis nos modelos atuais de planejamento? Qual é o papel do arquiteto e da sociedade na luta por uma cidade mais bela e justa?
