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secao 4!

ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE:

a informação no sistema de transporte coletivo

Juliana de Campos Silva

Klara Ana M. Kaiser Mori

Este trabalho é um estudo sobre orientação espacial por meio do transporte coletivo e procura discutir o papel dessa infra-estrutura na apreensão do espaço da cidade. Seu objetivo é levantar e analisar condições em que esse aprendizado se dá, identificar seus aspectos problemáticos, seus obstáculos e dificuldades. Buscar as causas mais evidentes, mas também as menos imediatas das falhas de comunicação percebidas, e elaborar algumas propostas para sua superação.

Como se toma um ônibus de linha pela primeira vez na cidade de São Paulo? Como as pessoas se informam hoje sobre os percursos das linhas?

Na maior parte das vezes pede-se a orientação de parentes ou de pessoas próximas, que aconselham qual o melhor ônibus para atingir tal destino. Ou então, presta-se atenção nos ônibus que passam no ponto onde se vai pegar o coletivo, observando seus letreiros indicando seu destino final. Ou pergunta-se a um desconhecido no ponto ou para algum comerciante em um estabelecimento próximo ao local de embarque, ou, muitas vezes, ao motorista ou cobrador, já dentro do ônibus. Resolve-se no boca-a-boca, como se diz.

Quanto ao lado "oficial" da questão, o processo de orientação conta com as informações do próprio sistema de transporte público coletivo, em diversos formatos. Um deles são as chapas fixadas nos ônibus ao lado da porta de embarque com o nome da linha e das principais ruas e avenidas por onde o ônibus circula, ou, no caso dos corredores de ônibus, as listas com o nome das linhas que passam por aquele ponto. Há a informação - embora de presença assistemática - afixada nos pontos de parada, com as linhas que servem os referidos pontos.

Além disso, as empresas prestadoras do serviço disponibilizam algumas informações, por exemplo, a SPTrans, que tem um telefone para "maiores informações" e um domínio na internet com uma sessão dedicada às consultas de itinerário. Este site conta com um sistema desenvolvido exclusivamente para as funções de orientação e informação das linhas existentes, com busca por endereço de origem e destino, linhas ou terminais e indicação de mapas. Reformulado recentemente, seu funcionamento apresenta consideráveis melhoras em relação a versões anteriores.

E ainda, conhecido por todos que circulam em São Paulo, e constituindo equipamento que já foi obrigatório em todos os táxis, há o Guia de Ruas de São Paulo, em suas versões atualizadas anualmente.

Mas, apesar dessas iniciativas, o objetivo de informar corretamente o cidadão parece nem sempre ser alcançado: numa primeira incursão empírica sobre a questão pude constatar, a partir de conversas informais com diferentes tipos de usuários, que existem, de fato, grandes dificuldades na produção e transmissão desse tipo de informação.

Partindo dessas colocações iniciais, o trabalho se propõe a identificar as questões envolvidas na informação sobre o sistema de transporte coletivo, e nos fatores capazes de promover uma leitura mais fácil, mais eficaz e mais rica dos itinerários que a população realiza diariamente.

O tema deslocamento já estava presente em trabalhos anteriores realizados ao longo do meu curso na FAU, como na pesquisa do grupo "Ciclovias Urbanas", que discutia o deslocamento por bicicleta na cidade e a recuperação da importância dos percursos e da escala do pedestre nos espaços da cidade.

Em disciplinas de experimentação gráfica o tema também foi abordado. A imagem ícone deste trabalho é uma releitura de uma das imagens produzidas para a disciplina Linguagem dos Recursos de Produção Gráfica, em que trabalhei o tema da caracterização de itinerários urbanos por meio da identificação dos elementos visuais mais fortes dos respectivos percursos, e a representação de paisagens urbanas através de suas estruturas dominantes.

Inicialmente o produto do trabalho seria um projeto de comunicação capaz de esclarecer a qualquer pessoa, tivesse ou não um conhecimento prévio do espaço da cidade, os itinerários da rede de ônibus da cidade de São Paulo e assim, de certa forma, apresentar o próprio espaço da cidade de São Paulo, possibilitando o deslocamento com autonomia e propriedade pela cidade por transporte coletivo.

Ao objetivo inicial foram se somando outros, contíguos. Ao aumentar a atratividade dos transportes coletivos, o projeto contribuiria, indiretamente, para alterar favoravelmente a divisão modal para as viagens sobretudo com motivo trabalho e escola, ou seja, aquelas cotidianas.

O projeto abria também a possibilidade de se recuperar a imagem depreciada do transporte coletivo por ônibus, uma imagem de certa clandestinidade que foi construída ao longo de anos, atribuindo-lhe a responsabilidade de ter promovido a expansão desordenada e sem projeto da cidade. A transformação dessa imagem se daria a partir do esclarecimento sobre o sistema de transporte e as redes correspondentes, produzindo uma informação mais adequada à população.

Para levantar as dificuldades sentidas por quem anda de ônibus, a pesquisa partiu para a captação de relatos e experiências de trajetos, que foram usados para referenciar as observações e ilustrar os problemas de comunicação percebidos no sistema de transporte coletivo. Uma seleção deste material foi editada no vídeo "Registros Flagrantes", um dos produtos deste trabalho.

A pesquisa demonstra um sistema de informação baseado na oralidade e na informalidade. Um sistema de "informação informal". Também foram identificadas outras questões a serem enfrentadas, como:

A desigualdade, precariedade, e caráter improvisado da rede viária da RMSP;
As dificuldades de comunicação gráfica e escrita de parcela considerável da população;
As referências urbanas desconhecidas ou em perene mudança;
A inconstância dos itinerários dos ônibus, e o descomprometimento com os serviços, entre outros.

A questão central - a dificuldade de orientação - foi se mostrando a ponta de um iceberg, capaz de revelar todo um problema maior. Sendo assim, o trabalho não se deteve em seu propósito original. Ele procura compreender as relações que surgiram por detrás daquela questão pontual, e que se aglutinam em torno do próprio processo de urbanização brasileiro.

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