O trabalho iniciou-se com a proposição de realizar uma documentação iconográfica dos livros infanto-juvenis publicados no Brasil a partir da década de 1970. Na publicação comemorativa de 30 anos da Editora Ática, Momentos do Livro no Brasil, o autor afirma que esta foi a década em que aconteceu um redescobrimento da literatura infanto-juvenil brasileira, e que as iniciativas deste período foram decisivas para a consolidação do setor; além disso "a concepção visual dos livros infantis desenvolveu-se muito no período, levando ao aparecimento de uma geração de artistas gráficos que não se limitavam a ilustrar a história, atentando para a importância dessa outra forma de comunicação" (Momentos do Livro no Brasil, p. 180). Sendo assim, passou-se a valorizar mais a integração entre texto e imagem no projeto gráfico, levando em consideração elementos de diagramação e recursos gráficos tais como formato, mancha gráfica, tipografia, uso de cores, diagramação e elementos de produção como escolha de papéis e uso de outros materiais, encadernação, acabamento, etc.
Com a finalidade de melhor compreender a situação atual do livro infanto-juvenil no Brasil, realizou-se uma profunda pesquisa histórica através de leituras de textos relevantes ao tema, dentre os quais destacam-se: O Livro no Brasil: Sua História, de Lawrence Hallewell, devido à abordagem do ponto de vista mercadológico; Literatura Infantil Brasileira: História e Histórias, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, pelo olhar cuidadoso lançado ao aspecto literário (ambos fazendo sempre um paralelo importantíssimo com a situação política no Brasil); e, finalmente, Livro Infantil? Projeto Gráfico, Metodologia e Subjetividade, de Guto Lins, que faz uma introdução a alguns conceitos básicos do projeto gráfico, fazendo uma ponte entre o passado estudado e a situação atual da cena editorial infantil brasileira.
Concluida esta fase de estudo bibliográfico, realizaram-se uma série de entrevistas com profissionais envolvidos com o livro infantil, cujas participações mostraram-se fundamentais para o desenvolvimento do trabalho, devido à grande escassez de material publicado sobre o assunto. Foram eles: Eva Furnari, premiada autora e ilustradora de livros para crianças; Marcello Araújo, autor, ilustrador e projetista gráfico, responsável pela edição de arte de livros infantis e juvenis na Editora Ática durante 6 anos, hoje atuando no escritório A+ Comunicações; Alcy Linares, ilustrador e projetista gráfico, responsável pela edição de arte de livros infantis na Editora Ática durante mais de 20 anos; Lenice Bueno, editora de livros infantis na Ática durante as décadas de 1980 e 1990, e atual editora do selo Salamandra, pertencente à Editora Moderna; Ricardo Azevedo, ilustrador e autor de mais de 100 livros para crianças, pesquisador de cultura popular e doutor em Letras pela USP; e Helen Nakao e Maria Luísa Marinho Silva, do departamento de produção da Companhia das Letras.
Passou-se então à fase de documentação iconográfica. Como a produção desde 1970 até 2007 é muito extensa, julgou-se necessário adotar um critério para selecionar os livros a ser analisados e, considerando o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro como um importante sinalizador da produção nacional, optou-se por fazer uma análise dos livros premiados. Além destes livros, foram considerados também alguns títulos que tiveram seu projeto gráfico completamente reformulado, realizando uma comparação entre o projeto antigo e o novo.
Assim traçou-se um panorama dos rumos do design de publicações infanto-juvenis no Brasil desde os anos 70 até hoje, a partir das imagens selecionadas, proporcionando uma idéia visual da evolução ocorrida. Também os textos das entrevistas têm papel fundamental na compreensão de como e porque estas transformações ocorreram, e representam o conhecimento e experiência de profissionais renomados na área, conhecimento este nunca antes sistematizado.
Constatou-se, com isso, um evidente e incontestável aumento na preocupação em relação à produção e ao aspecto físico do livro.
Numa última fase foi desenvolvido o projeto de um livro infantil, selecionando, dentre os títulos analisados, um volume cujo projeto gráfico foi considerado problemático e carente de reformulação. O livro escolhido foi As muitas mães de Ariel, de Mirna Pinsky, e ilustrações de Maria José Boaventura, texto premiado pelo Jabuti em 1981, editado pela Melhoramentos, e que saiu de catálogo precisamente no ano de 2007.
A partir do texto foram refeitas as ilustrações e o projeto gráfico, considerando questões de integração entre texto e imagem, tipografia, cores, mancha de texto, alinhamento, ritmo, formato, tipo de papel e de impressão, encadernação e acabamento, procurando, acima de tudo, a produção de um design "correto", priorizando questões de legibilidade. Também as ilustrações, que na publicação de 1980 possuíam forte caráter descritivo, representando estritamente uma tradução em imagens do texto verbal, agora foram pensadas de modo a interagir com o significado do texto, acrescentando informações visuais semanticamente enriquecedoras.
Título: As Muitas Mães de Ariel
AUTORA: Mirna Pinsky
FORMATO: 18,5 X 23 cm
Impressão: 4 cores
NÚMERO DE PÁGINAS DO MIOLO: 32 (2 cadernos de 16):
ENCADERNAÇÃO: Lombada quadrada (colado)
PAPEL
Miolo: Couch fosco 150 g/m²
Capa: Cartão 250 g/m², acabamento laminado fosco
TIPOGRAFIA: Berkeley Old Style
TIRAGEM: 10 exemplares
