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Ver com as Mãos:

Brinquedo para deficientes visuais

Leticia Ayumi Ikeda

Cibele Haddad Taralli

O Brasil tem, atualmente, cerca de 14,5% de sua população composta por pessoas portadoras de alguma deficiência. Destes 24,5 milhões de pessoas, 48% são deficientes visuais (IBGE - Censo 2000). Mesmo com leis que garantem a sua igualdade e assistência, os deficientes enfrentam dificuldades na saúde, na educação, no lazer, na cultura e no trabalho.

O lazer é essencial na vida das pessoas, para sua saúde, inteligência, integração social e prazer. Cada vez mais, existe uma preocupação pelo lazer sem barreiras, usando um Desenho Universal (Universal Design) que visa à inclusão de todas as pessoas com menor esforço físico, flexibilidade, informação perceptível, simplicidade e intuição.

O principal objetivo do projeto é desenvolver um produto para cegos, que promova a integração entre as pessoas, tendo um caráter lúdico, pedagógico e de lazer.

A pesquisa envolveu além de livros, sites e entrevistas, as visitas às instituições (Lara Mara e Fundação Dorina Nowill), à Reatech (feira especializada) e aos museus (Museu da Língua Portuguesa e Museu do Diálogo), além da organização de uma exposição (Exposição de Fotografia, tema: Inclusão social de pessoas com deficiência).

O projeto

Pelos estudos realizados, percebeu-se que muitas atividades são dificultosas para o cego, como ir ao museu ou compreender uma foto. Pensou-se então em um recurso que pudesse ser utilizado para auxiliar o cego a compreender imagens.

Os cegos têm uma memória extremamente sensorial, que utiliza, principalmente, sons, tato e cheiros. Ao contrário das pessoas que vêem, cuja percepção depende muito daquilo que enxergam. A sensibilidade tátil e auditiva são muito mais aguçadas nos cegos que nas pessoas comuns, garantindo que para qualquer projeto que se crie para este público explore pelo menos um desses fatores. Decidiu-se explorar, no projeto, o sentido tato.

Pelas pesquisas, os cegos formam a imagem em sua mente, quando tateiam objetos em tamanho natural, relacionando-os com a memória de vivência. Mas, seria muito difícil reproduzir objetos com suas texturas e tamanhos reais. Também se pôde constatar que a textura é importante, mas não essencial para se reconhecer algo. Através de um teste, constatou-se que eles conseguem reconhecer mais facilmente os contornos de um desenho do que um relevo que imite com perfeição a textura de um objeto.

Partindo desta experiência, percebeu-se que poderia basear o trabalho em uma forma de relevo que fosse simples, não para reproduzir texturas, mas contornos.

Um dos conceitos principais que deveria ser mantido é a interatividade, não apenas no intercâmbio entre o cego e o não cego como também entre os próprios deficientes.

O principal público-alvo varia entre crianças no início da aprendizagem (6 anos) e jovens. Para as crianças seria mais um jogo com formas simples cuja construção ajudasse nas primeiras noções de espaço, um estímulo. Para os jovens, seria mais uma forma de comunicação e expressão.

O projeto, por suas características, converge à qualidade de um brinquedo. Alguns dos brinquedos mais estimulantes são aqueles mais simples, compostos por jogos de peças que podem formar outras, como os blocos de madeira que formam casa ou pontes. Isso não se restringe apenas àqueles brinquedos educativos de madeira, há outros exemplos um pouco mais industriais como o Lego, cuja variedade de peças (módulos) permite a montagem de casas até carros.

Os requisitos que o brinquedo deve ter: Educativo; Simples, mas que estimule a criatividade; Prático, fácil de manusear; Modular; Atóxico; Lavável; Textura lisa para não acumular sujeira, devido ao constante manuseio; Leve e Atraente para despertar a curiosidade e interesse.

O projeto se focou prioritariamente em dois conceitos: a modulação e a questão da linha. A modulação como forma de simplificar e a linha como forma de criar (como elemento do contorno de um desenho). O objetivo era desenvolver módulos de linhas capazes de desenhar formas e que pudessem ser tateadas.

Através de módulos simples, poderiam-se criar desenhos variados desde formas simples e geométricas, até as mais complexas como um carro. A criança cega utilizaria as mãos para montar ou para tatear a linha, com o intuito de descobrir a forma montada.

Com a referência do brinquedo Lego, que tem tipos específicos para diferentes idades, haveria diferentes módulos para diferentes faixas etárias ou níveis de dificuldades. E os módulos precisariam integrar entre si, criando uma família de brinquedo. Como um desenho é bidimensional, surgiram peças achatadas capazes de se interligar em sua extremidade.

A concepção do módulo 1 seria simples, peças retas que se interligavam. Poderiam-se juntar quantas fossem necessárias para formar algum desenho. E como eram retas, permitiriam desenhos mais simples como formas geométricas, utilizadas na educação de crianças em fase de alfabetização. Para garantir uma variedade um pouco maior de formas, foi criada uma peça pequena e outra um pouco mais comprida. Essas duas peças, uma menor e outra maior comporiam o módulo 1 do brinquedo: as linhas retas, que ainda conteria uma base de trabalho, para proporcionar uma maior organização na hora de brincar.

Para o módulo 2, um novo elemento seria introduzido: a curva. No mesmo raciocínio, criaria-se dois tipos de curva, uma maior e outra menor. Respectivamente, compatíveis com as retas maior e menor. Utilizando os elementos dos módulos 1 e 2, poderiam-se criar formas figurativas além das geométricas básicas.

Estes dois módulos já seriam capazes de atender às exigências da proposta, um brinquedo que permitisse desenhar formas e garantisse a interação entre crianças cegas e não-cegas. Entretanto, um terceiro módulo com outros tipos de linhas, não seria tão interessante quanto tentar fazer com que o desenho se elevasse do plano bidimensional.

Então, para o módulo 3, as peças poderiam fazer com que os desenhos feitos pelos módulos 1e 2 alcançassem a tridimensionalidade, o quadrado poderia torna-se um cubo. A extrusão das formas permitiria que a imaginação das crianças criasse formas variadas não só como desenho, mas como objeto.

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