O projeto localiza-se às margens da linha "D" da CPTM, e se desenvolve a partir de um planto urbano feito pelo escritório UNA, em 2006. Esse plano ocupa-se da porção da ferrovia localizada entre as estações Mooca e Ipiranga, e organiza uma grande área hoje configurada principalmente por antigos galpões industriais, alguns ainda em atividade produtiva ou logística, e outros sem uso definido. Trata-se de uma enorme porção de tecido urbano desconectada do restante da cidade, limitada por barreiras físicas consecutivas: a linha férrea, o rio Tamandateí e a Avenida do Estado, que comporta um uso cada vez menos freqüente em áreas relativamente centrais como a Mooca e o Ipiranga: a atividade industrial.
O plano urbanístico parte da idéia de que a desindrustrialização em São Paulo é uma tendência real, que se tornará ainda mais acelerada quando forem executadas todas as modificações previstas no plano de transportes PITU 2020, como a construção de novas linhas de metrô interligadas com a ferrovia; e a finalização de um grande corredor de ônibus que liga o extremo sudeste da cidade com a área central, o Expresso Tiradentes. Essas medidas de transporte público de massa, aliadas com a melhoria da via férrea existente e a tendência já notada de verticalização e adensamento de bairros como o Ipiranga e a Móoca tendem a valorizar os terrenos na região, o que explica o partido adotado no plano urbano: a construção de um novo bairro habitacional, localizado na região hoje ocupada por galpões industriais subutilizados.
O plano urbano estabelece grandes conjuntos habitacionais organizados em quarteirões tradicionais nas margens de um parque linear, previsto junto ao rio Tamanduateí e a linha férrea. Nesse parque, está locada uma grande raia formada por águas subterrâneas, que auxiliam na drenagem urbana da área e funcionam como elemento paisagístic. O desenho urbano do plano se limita às áreas públicas, na área habitacional, apenas determina o gabarito dos edifícios em 10 pavimentos, para permitir a leitura do particular relevo da várzea. No parque linear, estão dispostas novas estações férreas modernizadas e interligadas com a rede de metrô e novas ligações para pedestres que atravessam a raia de água e a ferrovia, próximas a três grandes torres multifuncionais que marcam o eixo verde. Ainda temos conjuntos de HIS, que abrigam a população de duas favelas locais e alguns conjuntos industriais preservados de acordo com sua relevância arquitetônica e grau de preservação atual.
O projeto de arquitetura aqui mostrado está localizado exatamente em um desses conjuntos de galpões preservados, para o qual o plano urbano não prevê nenhum uso específico. O projeto propõe, então, o uso de lazer público, que associado a um programa esportivo, busca resgatar a vocação para o lazer que as várzeas dos rios possuem, devolvendo para a cidade (em conjunto com o grande parque linear) uma extensão de terra pública que fora perversamente privatizada. O programa desse centro de lazer é baseado nos programas dos SESC, mais especificamente no programa do SESC Tatuapé, projeto de Paulo Mendes da Rocha.
O projeto se articula em três grandes volumes: o conjunto de galpões preservados, que abriga a maior parte do programa, um edifício-ponte que interliga os dois lados da ferrovia e abarca a circulação de pedestres prevista no plano urbanístico e um terceiro volume, com programa reduzido, que abriga as quadras cobertas e as piscinas recreativas. Os três volumes estão quase totalmente voltados para a bela paisagem construída no plano urbano: a grande raia de águas e o extenso verde linear, pontuado por volumes baixos de galpões preservados e por três grandes torres verticais.
No conjunto de galpões industriais estão localizados o teatro, a piscina olímpica coberta, algumas salas multi-uso, administração, além do refeitório e salas de leitura. Todos esses usos são articulados por uma grande rua central, que se abre para o parque linear e permite que o fluxo de pessoas que passeiam pelo parque não seja interrompido pela massa edificada dos galpões. Assim, a entrada dos galpões acontece pelo parque e não mais pela fachada voltada para a rua, que fica preservada e quase inteiramente fechada. Nessa rua interna, os pilares existentes dos galpões são retirados e as treliças de madeira, características desta tipologia de edifício, são sustentadas por vigas metálicas.
Foi aberto um grande átrio no conjunto dos galpões, que abriga os volumes independentes do teatro e da piscina coberta, cada um com um estrutura e cobertura própria. O edifício das piscinas, pensado como um grande volume luminoso e leve, possui estrutura formada por vigas-vagão e fechamento translúcido; enquanto o volume do teatro, caracterizado como fechado e pesado, é estruturado por paredes de concreto e quase não possui aberturas para seu exterior. A platéia do teatro é acessada por um mezanino que corta todo o conjunto de galpões, estruturado por uma laje maciça, a 3,00m acima do piso dos galpões. Esse mezanino aproxima o público da bela cobertura de treliças de madeira dos galpões e abriga a área de leitura do centro de lazer.
O nível do mezanino é interligado com o edifício ponte, que abriga salas de oficinas e a um nível acima, uma passarela de pedestres pública, prevista no plano urbano. O edifício ponte, com pouquíssimos apoios, é estruturado por duas grandes vigas vierendeel e vedado com fechamentos leves e translúcidos. A sua laje de cobertura é acessada e utilizada como um terraço-jardim. O terceiro volume do projeto, localizado no outro lado da ferrovia e da raia, abriga no térreo um programa reduzido, sendo também permeável ao parque linear: uma piscina recreativa, vestiários e um edifício de garagem de barcos para os esportistas da raia. No pavimento acima, estão localizadas duas quadras esportivas cobertas, vestiários e depósitos, organizados por circulações verticais nas pontas do edifício e entre as quadras, dentro de um átrio aberto para o parque. A cobertura desse edifício abriga mais um piscina recreativa, uma lanchonete e um grande solárium.
