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secao 4!

Intervenção no Patrimônio Arquitetônico

 

Marcelo Tomé Kubo

Maria Lúcia Bressan Pinheiro

A maior ilha costeira do Estado de São Paulo, Ilhabela foi, e ainda é, considerada ponto estratégico para a navegação e proteção da costa brasileira devido às suas características geográficas. Foram justamente esses motivos que levaram, primeiramente, à construção dos primeiros fortes na Ilha de São Sebastião e, mais tarde, à formação da Vila Bela. O arquipélago que constitui o que hoje conhecemos como Município de Ilhabela já era ocupado muito antes da chegada dos colonizadores europeus. Os vestígios deixados por essas ocupações tão distintas podem ainda ser observados nos sítios arqueológicos há pouco re-descobertos.

Dos engenhos que existiram na ilha, poucos exemplares chegaram aos nossos dias. A grande maioria se encontra em estado arruinado. O abandono dos engenhos e a degradação decorrente ocorreu devido a diversos fatores, mas podemos ressaltar dois em especial: decadência da indústria açucareira e certo isolamento do arquipélago.

Luis Saia afirma que o Litoral Norte de São Paulo sempre se diferenciou muito do restante do território paulista, "sendo restritas e circunstanciais as relações com o planalto e mesmo com Santos e São Vicente". Com a decadência da indústria açucareira - que tinha grande importância para economia da Ilha, principalmente a produção da aguardente - e início da produção cafeeira, grande parte dos engenhos existentes foi abandonada e, com o passar do tempo, foram tomados pela mata.

Desde 1999, o Arqueólogo Plácido Cali realiza no município o trabalho de localização e identificação dos sítios arqueológicos da Ilhabela em parceria com a Prefeitura de Ilhabela e o Parque Estadual de Ilhabela. Já foram catalogados setenta sítios, entre históricos e pré-históricos, e coletados mais de 18.000 artefatos. Apesar de identificados e devidamente registrados, alguns inclusive cadastrados junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, muitos desses sítios ainda são destruídos para dar lugar a empreendimentos imobiliários, como casas de veraneio e outras instalações para fins turísticos.

O presente trabalho é a continuação de uma relação com a Ilhabela e seu patrimônio, que já se estende desde 2004, quando através de uma disciplina cursada na FAUUSP, inventariamos o conjunto do Patrimônio Histórico-Arquitetônico do município. Por esta circunstância entrei pela primeira vez em contato com as pesquisas desenvolvidas pelo PAI.

Esse trabalho desdobrou-se em um projeto de Iniciação Científica, com bolsa concedida pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), orientado pela Professora Maria Lúcia Bressan Pinheiro e realizada em conjunto com Milena Satie Shikasho, entre os anos de 2005 e 2006, quando realizamos o levantamento métrico-arquitetônico e fotográfico de mais de 25 ruínas. O resultado da pesquisa foi a produção de inventários das ruínas contendo: levantamento métrico-arquitetônico, levantamento fotográfico, croquis, maquete eletrônica (baseada nos levantamentos) e uma pesquisa bibliográfica que acabou transformando-se em uma monografia, base deste Trabalho Final de Graduação.

Foram discutidas no desenvolvimento do TFG as questões patrimoniais tanto arquitetônicas quanto arqueológicas, sendo que a primeira com maior ênfase dada a maior familiaridade com o assunto. Escolheu-se então, dentro do acervo dos sítios históricos, um para realizar-se a intervenção proposta.

O sítio escolhido, o Engenho da Feiticeira, é uma ruína de engenho na qual ainda persistem dois pilares e partes de paredes, além do buraco da roda d'água. A partir da pesquisa teórica e dos estudos de casos realizados, chegou-se a um partido de intervenção: com relação à implantação da nova construção junto à ruína, tomou-se cuidado especial no tocante à ambiência do sítio, o que Cesare Brandi chama de ambiente monumental. Outro item que não pode deixar de ser considerado é a presença do Parque Estadual de Ilhabela, devido ao seu tamanho (mais de 80% do território do município), impacto no dia a dia das pessoas e na economia do município (com o turismo ecológico). Assim optou-se por juntar o turismo cultural àquele ecológico.

Decidiu-se então que a Sede do Projeto Arqueológico de Ilhabela abrigaria tanto áreas para o desenvolvimento de pesquisa arqueológica quanto instalações para receber turistas. Na ruína somente seria realizada a sua consolidação, do qual apenas foram apresentadas diretrizes e parâmetros para sanar as principais patologias observadas durante as visitas.

O primeiro desafio encontrado durante o desenvolvimento do projeto foi a definição do programa. O que uma sede de pesquisas arqueológicas necessita? É uma tipologia muito específica e está intimamente relacionada ao trajeto percorrido pelo artefato desde sua coleta à sua exposição pública ou acondicionamento. O programa final contempla então três 'pólos', por assim dizer:

1) Científico: laboratório de arqueologia e etnologia, sala de equipamento de campo, sala de quarentena, alojamentos para os pesquisadores, reserva técnica, sala de estudo de peças, documentação.
2) Educacional: salas de aula, biblioteca e exposição permanente.
3) Turismo: recepção / guarda-volumes, lanchonete, visita à ruína e à cachoeira, exposição temporária.

A implantação dos novos edifícios acompanhando as curvas de nível ecoa a solução adotada na construção dos engenhos em Ilhabela. Situados à meia encosta estão ora semi enterrados ora palafitados, tentando impactar o mínimo possível com movimentações de terra. Esse partido foi adotado visando não apenas manter um alto grau de permeabilidade do solo, mas também por se tratar de construção próxima a um sítio arqueológico, onde qualquer movimentação de terra deverá ser precedida de estudos arqueológicos e prospecções.

FICHA TÉCNICA

SEDE DO PROJETO ARQUEOLÓGICO DE ILHABELA
localização: Ilhabela, SP
área do terreno: 16880 m2
área construída: 877 m2

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