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secao 4!

Memória Sociedade Permanência.

Reconversão das edificações remanescentes do antigo Cotonifício Crespi em Usina de Reciclagem de Papel, Gráfica e Escola de Artes Gráficas

Mariana Afonso

José Eduardo de Assis Levrèvre

O presente trabalho nasceu do meu desejo em agrupar fatores que considero determinantes na minha formação como arquiteta pela FAU-USP. Estes se apresentam no caráter público e social da forma assumida no projeto, o seu partido, principalmente por se tratar da graduação em uma escola pública.

O aspecto final do trabalho se apresenta como conseqüência de agentes determinantes: a desigualdade social e a ausência de políticas públicas efetivas no sentido de formação e capacitação de grupos inteiros da sociedade; a falta de comprometimento na preservação de bens considerados menores e não monumentais, ignorando o sentimento de pertenciamento de diversas populações de algumas comunidades a favor da especulação imobiliária irresponsável; e o meio ambiente urbano, que precisa ser repensado e passar por uma série de mudanças do gerenciamento de resíduos sólidos, para garantir nossa permanência neste planeta.

Desta forma divido a justificativa no que considero os três pilares do meu trabalho: a memória, resgatando a história do bairro da Mooca e respeitando a edificação através dos preceitos da conservação do patrimônio histórico como exemplar da industrialização brasileira; a sociedade, na tentativa de direcionar o trabalho do catador de papel em situação de rua, dando a possibilidade de escoar o produto do seu meio de sobrevivência e ainda participar do aprendizado e da pesquisa por trás da reciclagem; e a permanência, através da preocupação com a reutilização do papel, aumentando o seu ciclo de vida e assim ajudando a diminuir o excesso de resíduos sólidos na cidade de São Paulo.

A escolha do tema partiu da observação de questões atuais abordadas nas disciplinas cursadas, em uma delas, a AUP 443, tive a oportunidade de acompanhar o trabalho de uma cooperativa de catadores, a Coopamare que me instigou a conhecer outros programas com moradores de rua na cidade. Entre eles: o Luz na Rua, que desenvolve luminárias a partir do bagaço da cana e cuja mão de obra é totalmente preenchida por operários em situação de rua; o Chá dos Franciscanos, que através de encontros promove o desenvolvimento cultural desta população; e o programa Dulcinéia Catadora, um lindo projeto desenvolvido em parceria com o Eloísa Cartonera da Argentina, que estimula o escoamento da produção dos catadores de papelão comprando o material com um preço acima da tabela e usando-o para o manufaturamento de capas para publicações, cada vez mais, dos próprios catadores, que tem a oportunidade de participar de oficinas de literatura.

Estes projetos mudaram meu modo de encarar esta realidade social e entender o morador de rua como parte da nossa sociedade e não a margem dela: é um indivíduo que esta nesta situação e nesta sociedade.

Outra questão, tratada na disciplina AUH 127 de patrimônio e conservação de bens culturais, é a polêmica gerada em torno do tombamento e preservação destes bens. Estes foram aspectos muito decisivos na escolha do tema: entender o patrimônio principalmente como matéria construída, pertencente a uma realidade mutável, inclusive nossas necessidades, portanto, faz com que a cidade seja parte desta sociedade, que se reconhece e entende sua história.

Nas disciplina AUT221 tive a oportunidade de acompanhar mais de perto a questão da conservação do meio ambiente e encarar sua preservação como condição vital a permanência das cidades: uma política efetiva de gerenciamento de resíduos através da reciclagem e da conscientização dos consumidores.

Pretendo fazer um trabalho de projeto atingindo o maior nível de detalhamento possível através do levantamento da condição da edificação e seus componentes. Um projeto para uma política pública fictícia, que não me aprofundarei por se tratar de um outro nível de complexidade de responsabilidade de uma equipe e não de um arquiteto apenas. Um projeto para uma política pública que atenda as questões levantadas neste trabalho. Gosto de dizer que é um projeto que parte da coleta do papel e segue até o consumo do livro.

Estudo de ocupação

O conjunto remanescente é composto por três principais edificações. O programa foi dividido com base no eixo central existente, hoje não utilizado como passagem e de difícil acesso, porém, ao analisar a planta me parece claramente uma rua interna que outrora deve ter sido utilizada como acesso.

Este eixo articula o programa de forma a deixar o depósito como centro irradiador de matéria prima e ao mesmo tempo em que deriva o papel pronto tanto para fora como para a gráfica.

Em um braço esta a usina e no outro a gráfica, no térreo foi ocupado pelo uso industrial do programa.

O eixo de circulação vertical, que leva para a escola de artes gráficas, enconta-se em um dos atuais acessos do edifício maior, onde estão as docas que serão mantidas porém não com seu uso original mas apenas como resgate da memória do uso original da edificação. Este eixo é proposto com a liberação do pé direito para que do último andar seja possível avistar a entrada, desta forma aumentado a permeabilidade do prédio.

Em sua maioria, as instalações hidráulicas foram reformadas e os banheiros e vestiários estão onde ela já existiam, evitando assim desfazimentos da matéria original desnecessários.

Os setores administrativos específicos estão localizados, em sua maioria, no mezanino de forma a privilegiar a visão sobre o todo do administrador.

A estrutura original do conjunto, em geral, esta bem conservada podendo ser mantida após uma recuperação de alguns componentes. As fachadas, em sua maioria, estão completamente descaracterizadas e a caixilharia muito modificada, existem alguns bons exemplares de componetes da fachada na edificação que abrigará o depósito, na elevação que dá para o estacionamento do supermercado.

O eixo de circulação de serviço foi proposto pensando-se no acesso de caminhões, com entrada e saída diferentes. O caminhão entra pela rua Javari, para em um cobertura ao longo do depósito e sai pela rua dos trilhos. Estes terrenos pertencem ao supermercado, mas como estacinamento, por se tratar de um programa social contamos com a colaboração da instituição cedendo uma faixa de 15 metros de terreno ao longo das edificações.

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