A pesquisa proposta para o Trabalho Final de Graduação consiste numa investigação sobre o projeto do espaço de aprendizado. Foi utilizado como objeto de trabalho o edifício da "Estação Escola" - escola de ensino suplementar e pré-vestibular situada em Botucatu, no interior do estado de São Paulo. A escola, que hoje é especializada em aulas particulares e cursos pré-vestibulares, terá seu escopo de atividades alargado e seu espaço físico ampliado. Pretendeu-se através de um ensaio prático, fortemente ligado a um substrato real, espacializar a linha pedagógica adotada pela escola e incorporar ao projeto do espaço a participação da população dos bairros vizinhos, a história do sítio e a memória coletiva.
O projeto para a Estação Escola e para o Parque Tijuco Preto decorre da junção entre as experiências coletivas relatadas, o contato com a pedagogia da escola e a análise do sítio. Ele deve ser lido como um ensaio, ou seja, como a experimentação de um método, e culmina com um conjunto de propostas interdisciplinares e integradas que visam garantir coerência entre as diversas escalas nas quais o projeto se desdobra: a escala urbana, a escala do bairro, do terreno e do edifício.
A vivência do cotidiano e as conversas realizadas com os moradores ao longo deste trabalho transformaram o olhar sobre o lugar, enriquecendo-o. Deste contato foram sintetizados quatro conceitos-chave, que nortearam a elaboração do projeto nas suas diversas escalas: a relação precária entre moradores do bairro e o Córrego Tijuco preto; as heranças rurais desse lugar; e o desaparecimento da estrada que atravessava o bairro, ligando Botucatu a Pardinho, município vizinho e a forte ligação das crianças com o vento.
A Estação Escola atenderá 160 alunos de 15 a 18 anos provenientes tanto das comunidades vizinhas quanto de outras partes da cidade. Funcionará dentro de um expediente semelhante ao da Escola da Ponte (Portugal) tendo como pressuposto a livre circulação, a livre apropriação dos espaços, a ruptura com as salas de aula e com a aula expositiva como atividade predominante. Entre os princípios que nortearam o exercício projetual destaca-se a necessidade de produzir espaços com características ambientais diversificadas.
A antiga estrada para Pardinho não voltará a ser percorrida por charretes. Tampouco voltará a existir como caminho a ser percorrido por pedestres. No entanto acredita-se que enquanto marco urbano, carregado de sentidos para a população dos dois municípios, sua existência não poderia ser simplesmente esquecida.
Da aproximação entre a memória da estrada e a competência do arquiteto (as transformações no espaço) surge a proposta de intervenção estética na paisagem. Simultaneamente, a inexistência (ou existência) da estrada assume um papel estruturador no projeto, não apenas na escala urbana, mas em todas as demais.
Propõe-se resgatar o traçado da estrada, pontuando-o regularmente com elementos verticais de porte, que possam ser avistados a grandes distâncias no tecido urbano horizontal. Escolheu-se o cata-vento não apenas por se tratar de uma região alta, situada no topo da cuesta botucatuense, na qual o vento é quase onipresente, mas por ser conhecida a relação de proximidade entre as crianças da região e o vento. A opção por um modelo de cata-vento rústico e de pequeno porte fundamenta-se na dificuldade de implantar modelos maiores neste contexto semi-urbano. Fundamenta-se também no desejo de resgatar o caráter rural da estrada em questão e o aspecto ainda semi-rural da periferia botucatuense.
O projeto para este parque tem sua gênese na agregação de um conjunto de áreas públicas situadas ao redor do Córrego Tijuco Preto, desde sua nascente; até parte da gleba destinada à construção da Estação Escola.
Com o objetivo de trazer o córrego para cotidiano dos moradores da região, propõe-se que o mesmo seja represado até a cota 823,00 m, corporificando-se sob a ponte da via de pedestres que liga o Loteamento Altos da Serra à passarela de travessia da Rodovia Marechal Rondon. A esta via se conecta a outras que abraçam generosamente o parque, formando um percurso variado, dinâmico, e contínuo.
Em toda a extensão do parque propõe-se a recomposição da mata ciliar do córrego, com eventuais caminhos de penetração na mesma. Com o plantio de espécies nativas também se consolida o maciço arbóreo composto prioritariamente por eucaliptos, situado ao redor da nascente do córrego. Sob este maciço, pretende-se firmar um uso ainda incipiente - uma área de piquenique e churrasco.
A diretriz municipal relativa à construção da Avenida Monumental foi incorporada ao projeto. Designa-se a construção de dois viadutos que atravessam o vale passando 12m acima do seu ponto mais baixo.
A organização da gleba da escola também reflete uma preocupação em resgatar o traçado da estrada perdida. Nesta escala configurou-se como um caminho que de fato, pode ser percorrido por pedestres; um caminho sensorialmente estimulante, desenhado por taludes, árvores, edifícios, muros de arrimo, e marcado por aberturas, fechamentos, subidas, descidas e visuais de contemplação.
A vegetação cumpre dois papéis: reforça a percepção do caminho e estabelece uma transição entre a lógica ortogonal de organização das áreas próximas ao edifício e o aspecto natural da vegetação ao redor do córrego que alcança a gleba pelo sul. Todas as espécies sugeridas para o parque, para as áreas ao redor da escola e para o pomar são nativas
A organização do edifício deriva de três diretrizes: trabalhar com o terreno que desce em direção ao córrego, explorando suas visuais; interligar a praça com a passarela pública que atravessa a rodovia Marechal Rondon e criar espaços diversificados.
O desejo de alcançar a passarela de travessia da rodovia Marechal Rondon a partir da praça levou à utilização do edifício para tal. Percebeu-se que o terceiro andar (cota +848,10) poderia intermediar tal conexão, acomodando um programa público de alguma forma relacionado àquele da escola.