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secao 4!

Design Têxtil e Populações Tradicionais no Brasil - Um Estudo de Caso da Tribo Kaapor

 

Mayra Bonato Garcez Yasuda

Maria Cecília Loschiavo dos Santos

Luiz Américo de Souza Munari

A procura pela identidade brasileira no desenho industrial torna-se cada vez mais relevante pela própria demanda gerada pelo mercado consumidor, pelo anseio de conquista do mercado externo por parte das indústrias têxteis e pela iminência da discussão em torno das comunidades tradicionais.

No ano de 1995, o Programa Brasileiro de Design (PBD), vinculado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior inseriu o design nas políticas governamentais brasileiras através do Decreto de 09/11/1995 com o intuito de expandir competitivamente e modernizar o sistema industrial brasileiro. Faz-se necessário, portanto, o debate sobre o desenho industrial brasileiro para que a procura pela sua identidade aconteça de maneira crítica, evitando uma postura romântica na criação do objeto ou a simples reprodução dos modelos internacionais.

Aliado a este contexto, assistimos à criação da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais cujo objetivo é a realização de políticas de desenvolvimentos voltadas para estas comunidades que, segundo a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ocupam cerca de 1/4 do território nacional, sendo que 435mil dessas pessoas correspondem às populações indígenas.

Dessa forma, este trabalho propõe discutir a viabilidade da realização de releituras da produção artística das comunidades tradicionais brasileiras no desenho industrial na busca de uma linguagem coerente com nossos valores culturais e costumes. Assim, a arte plumária brasileira, que corresponde a uma das categorias de maior destaque da produção artística indígena no Brasil, é objeto de estudo neste trabalho para a formulação de uma linguagem a ser aplicada no desenho industrial têxtil com a criação de estampas para o setor de vestuário.

Para tanto, a pesquisa teórica procurou fundamentar a discussão em torno da identidade do desenho industrial e as possibilidades de apropriação à luz de teóricos como Marilena Chauí, Lina Bo Bardi, Gui Bonsiepe e Maria Cecília Loschiavo, dentre outros.

Não se trata, no entanto, de uma postura ufanista ou de uma assimilação alienada dos artesanatos locais, ignorando as inovações técnicas e de desenho propostas pelos países centrais, mas de analisar a arte popular de maneira crítica e avaliar a viabilidade e as possibilidades de realizar releituras dessa produção no desenvolvimento de um desenho industrial legítimo.

A pesquisa a respeito da arte plumária dos índios brasileiros, em particular dos Kaapor, abordou além do caráter morfológico das peças, o valor simbólico atribuído a estes artefatos. Houve também uma preocupação em apresentar os problemas vividos por essa comunidade indígena com o avanço e a imposição da cultura ocidental, ressaltando a importância de se garantir o direito autoral às sociedades tradicionais, bem como de inseri-las nas políticas públicas de fomento ao desenho industrial. Assumir a participação, o conhecimento e a produção das comunidades tradicionais de forma não esteriotipada e fora dos padrões assistencialistas, reflete uma postura de respeito e de reconhecimento dessas comunidades que, infelizmente, aparecem de maneira romantizada nas construções da identidade da nossa sociedade.

Em complementação ao estudo e como base gráfica para o desenvolvimento das estampas, para percepção das dinâmicas do objeto quanto às cores, às texturas e aos efeitos de luz e de sombra, foram realizados desenhos de observação do diadema Akangatar no MAE USP, que possui em seu acervo as plumárias tradicionais dos Kaapor em excelente estado de conservação.

Para a determinação das diretrizes de projeto para criação das estampas, que devem ser tomadas pelo profissional de desenho industrial têxtil a fim de que sejam reduzidos os números de imprevistos e de modificações, foram delimitadas as técnicas de produção. Desta forma, neste trabalho foi realizada uma série de pesquisas que tiveram como objetivo nortear o projeto desenvolvido: os tipos de tecidos; as tintas utilizadas; os tipos de impressão industrial; os modos de apresentação das estampas às empresas; os setores de cama-mesa-banho, decoração e vestuário; o comportamento das indústrias na oferta de produtos para os diferentes estratos sociais.

Além disso, houve também uma preocupação em contextualizar o profissional do setor de design têxtil no mercado brasileiro, apontando para a ausência de uma política que incentive a formação de profissionais especializados e as dificuldades de aceitação do designer brasileiro nas indústrias têxteis desse país. A pesquisa abrangeu ainda um levantamento de dados da Associação de Indústria Têxtil e de Confecção e do Instituto de Estudos e Marketing Industrial a respeito da participação da indústria têxtil na economia brasileira e no mercado estrangeiro que mostraram os anseios desse setor industrial de alcançar uma maior participação na economia mundial como exportador.

Com o intuito de complementar o estudo teórico de desenvolvimento de estamparias na área de design têxtil, foi estabelecido contato com o arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP) e ilustrador Andres Sandoval que atuou na criação de estampas confeccionadas pela grife de roupas Neon.

A exposição do processo de criação feita por Sandoval foi de fundamental importância para a elaboração de uma metodologia de trabalho para a produção das estampas neste Trabalho Final de Graduação. Dessa maneira, foi adotada a metodologia proposta por Sandoval, adequando-a às exigências da indústria têxtil constatadas na pesquisa teórica desenvolvida neste projeto: realização de desenhos de observação para a percepção das dinâmicas do artefato plumário escolhido; desenvolvimento de croquis com os elementos observados até se chegar a resultados gráficos satisfatórios; desenho com guache em papel canson dos módulos dos croquis das estampas; digitalização do desenho; formatação da estampa e repetição dos módulos para um metro de largura; realização da variação de cores de cada estampa em escala reduzida.

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