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secao 4!

Faróis Urbanos - o nomadismo contemporâneo

 

Milena Kirkelis Bingre

Maria Cecília Loschiavo dos Santos

Luiz Américo de Souza Munari

Contexto

Este trabalho final de graduação procura questionar e repensar de que forma o design e a arquitetura poderiam ser aplicados em contextos de crise social, focando especialmente a população de rua da cidade de São Paulo. Nas últimas décadas a metrópole vem sendo marcada por um grande desajuste social, servindo como depósito desta população que perdeu suas fontes de subsistência. Trata-se de um tema complexo, de proporções mundiais, cujas respostas para solucioná-lo parecem estar cada vez mais distantes.

Nos últimos anos, teve inicio na cidade São Paulo um processo de "higienização" de seus espaços públicos através de políticas do governo, especialmente nas áreas centrais onde se encontra a maior quantidade de pessoas desprovidas de moradia. Tal política de limpeza urbana inclui medidas como: construções de rampas anti-mendigos nas calçadas sob viadutos, mobiliário urbano projetado de forma a evitar seu uso como leito, tentativa de fechamento de cooperativas de catadores de material reciclável, e de expulsão violenta da população que ocupa os edifícios abandonados no centro.

Como medida paliativa, a prefeitura procura encaminhar essa população desalojada para seus albergues, cujo número de vagas cresce lentamente e não acompanha o crescente número de pessoas que acabam na rua a cada dia. De acordo com o Diário Oficial da Cidade de São Paulo de 13 de maio de 2006, a cidade conta com aproximadamente 10.399 moradores de rua, sendo que o número de vagas disponíveis nos albergues públicos não passa de 8.000.

Essa política de limpeza urbana não vem acompanhada de medidas para reintegração social dessa população. Não há políticas de geração de emprego, de habitação e de atendimento à saúde para essas pessoas, o que faz com que a inibição do uso de locais públicos como dormitório e o recolhimento dos sem-tetos a albergues continue sendo um esforço vão.

Projeto

O objetivo final deste trabalho final de graduação é o projeto de uma intervenção artística na cidade através do desenvolvimento de um abrigo manifesto e emergencial para essas vítimas de desastres sociais urbanos e econômicos, baseado nas conclusões de um estudo analítico do tema.

Algumas unidades deste abrigo seriam implantadas em espaços públicos da cidade, como forma de denunciar, discutir e questionar a completa situação de miséria em que se encontram os moradores de rua.

O termo "farol" parte da idéia de que essas instalações seriam acesas durante a noite e a madrugada, como forma de pontuar e tirar do anonimato, através de focos de luz, os moradores de rua na cidade de São Paulo.

O estudo analítico do tema englobou as seguintes questões: estruturas móveis; portatibilidade e retratibilidade; povos nômades de ambientes naturais e suas técnicas construtivas do ponto de vista da arquitetura e do design; os nômades da metrópole, os moradores de rua - seu modo de vida, suas estratégias nômades de moradia e sobrevivência, seu cotidiano, seus hábitos, seus conflitos, a situação em São Paulo, as atuais medidas do governo; referências de projeto - técnicas de Origami, assentamentos humanos transitórios e intervenções da ONU, arquitetura militar e emergencial hospitalar, os espaços reduzidos no Japão, as atuações do grupo francês Les enfants de Don Quichotte, os projetos de Buckminster Fuller, Chuck Hoberman, Krzysztof Wodiczko, Michael Rakowitz, Shigueru Ban, entre outros.

Desenvolvimento do projeto

Essas últimas constatações foram decisivas para que a forma final do abrigo e os elementos de seu espaço interno sintetizassem a idéia de "casa". No espaço interior, onde o piso foi elevado, há locais para armazenamento de bens pessoais. Há também "mesa" para apoio de objetos ou para refeições e um vaso sanitário emergencial. A implantação de um "banheiro" pretende questionar a situação humilhante que os moradores de rua passam quando necessitam de um sanitário, uma vez que não há banheiros públicos na cidade. Muitos acabam deixando seus dejetos pelas ruas por falta de opção.

Para o projeto se propõe o uso de um material alternativo que é o plástico Polionda (marca registrada), copolímero de polipropileno. Por ter sido até então pouco explorado, não ser próprio da arquitetura formal, e não ter suas propriedades físicas totalmente familiares, foi de extrema importância a construção de um protótipo de estudo em escala real, para que se averiguasse a viabilidade deste material.

Este produto tem como características o fato de ser um produto atóxico e inodoro, disponível em placas corrugadas, assim como o papelão. Possui características importantes como: resistência ao frio (-10ºC) e ao calor (120ºC), 100% reciclável e impermeável. A Polionda® é também lavável, resistindo assim à água e ao contato com óleos e graxa. É durável, podendo resistir a até cinco anos de vida, sem perder suas características principais. Tem vida útil até 15 vezes superior a de embalagens em Papelão, não solta partículas e não quebra com o impacto.

As placas utilizadas na montagem têm dimensões de um metro x dois metros. Com as raias verticais no sentido longitudinal. O sentido das raias é de extrema importância nas peças, porque estão diretamente relacionadas com sua resistência. Na cobertura se utiliza uma lona plástica translúcida. A obra pode ser inteiramente reciclada.

Conclusões

Obviamente, o presente projeto não se constitui como uma solução de moradia. O trabalho é parte de uma estratégia simbólica de sobrevivência que visa amplificar a questão. Ao se intervir no espaço urbano pretende-se estabelecer um meio provocativo de comunicação entre os que possuem e os que não possuem um teto.

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bibliografia

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