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secao 4!

Escultura e Fotografia

 

Paula Escobar Gabbai

Luciano Migliaccio

Este trabalho aborda algumas das relações entre fotografia e escultura. Primeiramente, produziu-se um texto que constrói um panorama dos usos da fotografia desde o seu surgimento em meados do século XIX, até seu papel na revisão dos parâmetros estéticos e de uma nova interpretação do espaço, relacionando-a com a escultura. A fotografia de escultura é abordada historicamente através do estudo das conseqüências para a estética do cruzamento destes dois meios, e do papel da fotografia na comunicação social da obra de arte: partiu-se das questões de confronto entre as novas técnicas industriais e as tradicionais técnicas artísticas, do surgimento do impressionismo como produto deste choque, chegando em aspectos fundamentais contemporâneas sobre o uso da técnica fotográfica como construção de uma nova sensibilidade e de parâmetros estéticos advindos da reprodutibilidade técnica da obra de arte.

Três ensaios foram escritos, sintetizados a seguir:
O primeiro, A Fotografia e a Construção de Um Novo Acervo , trata do surgimento da fotografia e de suas implicações como um instrumento criador de um novo olhar e de construção de uma nova sensibilidade, além de seu papel social na comunicação e na difusão da obra de arte.

O segundo, O Uso da Fotografia, é constituído por dois artigos: Para a Democratização da Arte, onde trata da reprodução fotográfica como um meio de inserção do artista dentro de um amplo domínio estético, cuja nova concepção de arte não se dá mais apenas através da criação material do objeto; o segundo artigo, Para a Interpretação da Obra pelo Próprio Artista, usa de exemplos como Medardo Rosso e Constantin Brancusi para a discussão da percepção da escultura através fotografia e a interação dos limites entre essas duas manifestações.

Outro item fundamental discutido neste trabalho é entorno da experiência prática da fotografia de esculturas. Foram realizados ensaios fotográficos que geraram um novo texto sobre os parâmetros que constroem a imagem fotográfica e a leitura criada sobre uma obra. A fotografia é utilizada como um instrumento de diálogo, permitindo a configuração da transitoriedade da escultura: artistas como Brancusi, Rodin, Rosso, Moholy-Nagy utilizavam-na como parte essencial de seus processos de criação.

A natureza da imagem fotográfica amplia o evento escultural na contextualização dentro de uma pluralidade espacial: a leitura de uma obra abrange uma nova proposta para a evolução do sentido de espaço arquitetônico.

A experiência iniciada por Rosso e Brancusi foi essencial para a reflexão sobre a reconfiguração espacial e a noção da materialidade da escultura, sendo utilizada pelos artistas contemporâneos, como por exemplo os minimalistas, para um registro de reconfiguração da escultura, produzindo um significado que traz a obra para a sociedade e refletindo sobre uma nova noção de espaço vivido.

O objetivo do trabalho experimental realizado é evidenciar as novas possibilidades de representação do espaço e de libertação da materialidade da obra através da fotografia. Na primeira etapa realizou-se de um estudo de luz e composição de algumas esculturas escolhidas localizados no Atelier de Esculturas da FAU. Foram executados alguns ensaios fotográficos para a compreensão dos parâmetros utilizados na construção da imagem fotográfica em relação à escultura.

Foi escolhida a obra "Colóquio" de Pietro Consagra, localizada no MAC-USP para a realização de um ensaio, interpretando a obra através do reposicionamento da luz e enquadramento, para a criação de infinitas situações espaciais que ampliam o significado da obra em uma transitoriedade que à torna rica e infinita. Á partir do texto de Argan sobre Consagra, buscou-se evidenciar a essência escultórica do artista exposta pelo autor, e assim se estabelece também um diálogo entre a fotografia e a interpretação da obra a partir de um texto. As fotografias são realizadas através do método analógico e preto e branco de captura, revelação e ampliação, devido a possibilidade de se trabalhar diretamente com a matéria luminosa, proporcionando um diálogo com o aspecto material da escultura. Referindo-se às experiências fotográficas realizadas por Brancusi, Friedrich T. Bach comenta:

Não é novidade considerando que as falhas em sua técnica fotográfica ancoram a escultura dentro do reino do tempo e da transitoriedade que elas dividem com o espectador. Essas imagens devem ser apenas comparadas com a usual perfeição das fotografias coloridas - que matam os trabalhos ao mostrá-los banhados em cores bem temperadas, como formas exóticas embebidas em resinas sintéticas límpidas - para se dar conta que a imperfeição e a técnica imperfeita de Brancusi permitiu que exercesse a mesma tarefa que ele demandava para sua superfícies altamente polidas: da de ser um espelho cuja "própria vida" é refletida.[1]

Pode-se assim transpor a colocação acima à experiência realizada neste TFG, em que a utilização da fotografia em preto e branco abre para infinitas possibilidades de composição e de luz, permitindo um uso "não perfeito" da técnica fotográfica, que dentro de uma investigação experimental torna-se uma qualidade que gera situações de luz - de sobre ou super exposição -, e extrapolam o limite visível da escultura.


  1. Bach, Friedrich Teja, Rowell, Margit e Temkin, Ann. Constantin Brancusi - 1876-1957. Philadelphia Museum of Art, 1985, pag 317.

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