O tema do trabalho é o processo de intervenção em bens imóveis de interesse histórico e a adequação a novos usos. O trabalho abordará questões relativas às obras a serem realizadas para que o bem possa receber um novo programa, tendo como exemplo a intervenção na Fazenda Boa Vista, no distrito de Joaquim Egídio, Campinas, SP.
O objetivo é contribuir para o estudo de questões relacionadas às adequações a serem feitas para que um edifício de interesse histórico abrigue um novo programa, e garanta assim, a manutenção de sua vida útil e sua preservação. Entender a evolução arquitetônica das residências rurais, bem como as técnicas construtivas utilizadas, ampliar o estudo sobre as possibilidades de aproveitamento de uma construção antiga para as necessidades atuais, buscando assim a sua maior valorização como referencia cultural, são os objetivos deste trabalho.
O objeto de estudo é uma fazenda construída no fim do século XIX, que tinha como principal atividade a produção cafeeira. O trabalho propõe um novo uso: espaço de eventos.Para isso o programa se adaptou a área, à sua configuração formal e organização espacial, e a dividiu em dois setores independentes: Área 1 e 2. As duas áreas tem condições de receber eventos independentes ou simultâneos. Cada uma possui, de maneira independente e proporcional a sua área, elementos de apoio como cozinha, banheiros e vestiários.A área 1 adquiriu um caráter mais formal e social devido a proximidade com a casa sede. A área 2, com elementos como o curral e o lago se torna um espaço mais descontraído e informal. São características dadas pelo próprio local, mas que podem se alteradas com elaboração de cada evento.Elementos como o pomar, a tulha, a capela, serão mantidos, já que desempenham um papel muito importante como referências histórias de uma fazenda de café, colaborando assim na manutenção do caráter e das características originais do espaço. Manter o desenho e o clima típicos de fazenda será um desafio, e para isso as novas construções, apesar de modernas, interferirão o menos possível no traçado e cenário original do lugar. As intervenções foram propostas de maneira a deixar explícito o momento em que ocorreram, através dos materiais utilizados, da técnica construtiva e da linguagem arquitetônica proposta, sendo possível ao observador percebê-las.As decisões de demolição obedeceram questões práticas do programa e se basearam na definição da tipologia tradicional/original da casa. O fato de ser uma fazenda, com grandes áreas verdes, com elementos paisagísticos característicos e tradicionais da região, dos vários usos que recebeu ao longo do tempo, e de costumes específicos, torna imprescindível a elaboração de um projeto de paisagismo. Além disso o uso para o qual se destina esse espaço também requer organização, beleza, composição e ordenação de massas na formação da paisagem. Foi elaborado uma proposta simplificada de como poderia se configurar a paisagem. Essa proposta se baseou nos seguintes conceitos:
- preservação da vegetação existente sempre que possível;
- escolha de espécies da região;
- escolha de espécies geralmente encontradas em fazendas;
- características rústicas do espaço;
- exigências do programa (a vegetação colabora na integração das intervenções com o que existe, compõe e unifica o ambiente; o uso proposta exige espaços que proporcionem bem estar, beleza, alegria);
- preservação do meio ambiente (a mata próxima recebeu em suas bordas espécies típicas da região que devido as suas características de crescimento, produção de frutos entre outros colaboram na sua recomposição, já que se mostram com baixa densidade e por instáveis e ameaçadas).
Para a realização do trabalho primeiramente foi feito um levantamento métrico das principais construções e um estudo de danos e patologias fundamental para a elaboração do projeto de conservação proposto. Um histórico da fazenda e do contexto no qual se insere também foi importante para entender a evolução arquitetônica e as mudanças ocorridas no espaço.
O projeto buscou integração e harmonia entre o que ja existe e os novos edifícios de maneira a garantir a personalidade do espaço e a sua funcionalidade dentro da proposta do novo uso. O projeto buscou ao máximo colocar em pratica o conceito de readequação com mínima intervenção. O elemento de maior impacto é a laje a ser construída na área 1 que abrigará o salão de festas. A construção desse elemento se mostrou necessária visto que a área coberta atual é insuficiente para receber a demanda pretendida, 300 a 500 pessoas para cada área. O local escolhido para a construção da laje se baseia no objetivo de aproveitar as qualidades visuais da fazenda. Não teria sentido afastar a construção da sede. O fato de ter escolhido a fazenda para se transformar em um local de eventos se deve as suas características paisagísticas, e portanto o cenário faz parte da festa. Partindo desse princípio foi necessário então encontrar alternativas formais que interferissem o mínimo possível na configuração visual original do lugar. A casa sede, assim como as demais dependências da fazenda deveriam se destacar, e as interferências propostas ficarem em segundo plano. Por isso foi proposto uma laje plana única para abrigar o salão da área 1. São linhas simples, limpas, onde a forma derivou da função de proteção que deveria ter.
A fazenda possui uma entrada principal que dá acesso às duas áreas. Além disso, possui mais um acesso, que pode ser usado como entrada de serviço pelos organizadores da festa. A área 1 é acessada pela escada na fachada principal pelos convidados e também ao lado, próximo às dependências de serviço, pelos que estarão trabalhando no evento.
Área construída existente: 1470m2 (casa:434m²; dependência trabalho:286m² ; curral: 750m²)
Área construída existente aproveitada: 1075m² (dependência trabalho 225m²; curral: 560m²; casa sede:290m²)
Área a construir: 14300m²
Área construída à demolir: 390m² (casa sede:140m²; curral:190m²; dependência trabalho:60m²)
Área de trabalho: 8800m²
Área de intervenção aproximada: 140000m²
