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secao 4!

Admirável Mundo Novo

Direção de Arte inspirada na obra de Aldous Huxley

Renato Junqueira Suyama

Minoru Naruto

A obra escolhida para este TFG foi o romance de ficção científica do autor inglês Aldous Huxley. Sua escolha se deu por tratar-se de um gênero literário extremamente fértil e variado e também visualmente rico em possibilidades. Trata-se também de um gênero que oferece a possibilidade da discussão de problemas da condição humana.

O primeiro passo do estudo foi a realização do fichamentodo livro após uma primeira leitura para a familiarização. Dessa maneira, houve uma segunda leitura agora acompanhada de seu fichamento. Capítulos e elementos do livro foram catalogados, possibilitando-se traçar o panorama histórico no qual a narrativa se ambienta. A começar pela abolição do uso do Anno Domini para a definição dos anos. O uso da Era Cristã é substituído pela data de 1908 como marco. Este é o ano de introdução do primeiro modelo Ford T. Trata-se de uma decisão lógica para uma sociedade altamente consumista e industrializada onde até seus indivíduos são fruto de uma linha de produção. O ano da narrativa é o de 632 d.F. (depois de Ford), portanto 2540 d.C., e mundo é governado por um estado mundial cujo lema é COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE. Áreas consideradas economicamente inviáveis são abandonadas e cercadas, formando Reservas Selvagens. Trata-se de uma sociedade que conseguiu se reconstruir após uma devastante guerra mundial de nove anos seguida de um colapso econômico.

O livro Admirável Mundo Novo foi publicado originalmente em 1932 e parece ter sido influenciado por eventos históricos importantes. É marcante na narrativa a rica descrição de um estado totalitário. É importante relembrar que apenas quinze anos antes, em 1917, havia ocorrido a Revolução Russa estabelecendo em 1922 a União Soviética. Tais fatos recentes ainda assombravam o continente europeu, receoso do surgimento de novas revoluções. Entretanto também é importante ressaltar que Huxley elabora uma sociedade não só totalitária como também com uma forte ditadura do consumo. Esse consumismo desenfreado de uma sociedade superficial pode ter sua inspiração na cultura norte-americana. Até a Queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929 a economia dos Estados Unidos crescera vertiginosamente. Os americanos presenciaram avanços tecnológicos e científicos, enorme crescimento industrial, grande demanda de consumo e mudanças significantes no estilo de vida. É interessante notar essa visão crítica de Huxley, um inglês vendo a decadência do chamado Império Britânico frente à crescente força norte-americana. A sociedade criada em seu livro parece ser, ironicamente, um amálgama entre a então situação política, econômica e cultural de Estados Unidos e União Soviética.

Tendo entendido melhor os contextos do livro passou-se a uma análise final da estrutura narrativa para a formatação da história em moldes mais cinematográficos. Para tal abordagem, tive como referência a teoria do monomito de Joseph Campebell e o arquétipo do herói. A narrativa do livro pode ser claramente dividida em três grandes blocos: nos primeiros seis capítulos Huxley introduz alguns dos personagens principais desta sociedade. No segundo bloco, capítulos sete, oito e nove; o autor nos introduz o personagem de John o Selvagem e sua mãe. Nascido na Reserva Selvagem do Novo México, John é o filho de Linda, antiga cidadã do Estado Mundial, dada como morta quando desaparecida na reserva. Os dois são descobertos pelos personagens de Bernard Marx e Lenina Crowne, que também estão visitando a reserva. A terceira e última parte, capítulos dez a quinze, é a ida do Selvagem para o Estado Mundial junto com sua mãe e seus descobridores. Lá ocorre o choque de costumes entre o Selvagem e sua visão de mundo não condicionada e o Admirável Mundo Novo. Com a morte de sua mãe e a falta de amigos, John decide pelo exílio em uma área campestre relativamente inabitada. Entretanto, perseguido pela curiosidade infantil dos cidadãos condicionados John acaba por se enforcar. Trata-se de um resumo bem sucinto do livro, mas suficiente para entender um fato importante. Inicialmente, o foco da narrativa não é exatamente definido, mas concentra-se um pouco mais na trajetória de Bernard Marx, o descobridor de John na Reserva Selvagem. A partir da inserção do personagem de John, o livro se foca em sua história. De todos os personagens presentes na obra de Huxley, John é o que apresenta a trajetória mais interessante e próxima do mito do herói. O seu chamado à aventura se dá pelo contato com os personagens de fora de seu cotidiano, Bernard e Lenina. Sua ida ao Estado Mundial é a própria aventura, e o choque de costumes e visões são as próprias provas pelas quais passa. Seus amigos que o acompanham nessa jornada, Bernard e Helmholtz Watson, são os próprios auxiliares. O clímax da história se dá em seu confronto com o governante mundial responsável pela Europa Ocidental. É o próprio roubo do elixir, neste caso, o conhecimento de como este Estado Mundial opera e controla seus indivíduos. Por fim sua fuga é representada pelo seu exílio. Portanto, a sequência em que a arte deste TFG é apresentada visa seguir a trajetória de John.

Por fim foi definida a abordagem visual desta direção de arte, levando-se em conta as análises apresentadas anteriormente e as referências que elas inspiraram. Trata-se de uma das partes mais importantes na direção de arte de um filme. É quando escolhas e referências são definidas e que ajudarão a dar forma ao processo criativo. Nesta etapa, escolhas podem se dar por motivos puramente estéticos como também podem envolver raciocínios e interpretações por vezes complexos. Para tanto houve primeiramente um estudo da forma como um departamento de arte é estruturado dentro de uma produção cinematográfica e a sua relação com os demais departamentos.

Para a visão distópica apresentada por Aldous Huxley em seu Admirável Mundo Novo as referências buscadas se deram, principalmente, na obra futurista de Antonio Sant’Elia. O Estado Mundial do romance parece também ter sido muito influenciado pelo Movimento Futurista, pois, assim como o movimento, o sociedade descrita por Huxley rejeita o passado em favor do triunfo tecnológico.

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