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secao 4!

Desenho urbano em Avenida de Fundo de Vale

- Um caso na subprefeitura Freguesia do Ó / Brasilândia

Sidney Vieira Carvalho

Silvio Soares Macedo

O presente trabalho é o conjunto de indagações levantadas entre um Trabalho Final de Graduação (TFG) ora apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e uma bolsa de iniciação científica junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Buscou-se, nesse âmbito, a síntese projetual das considerações teóricas estudadas, acreditando estar semeando o campo para aprofundamentos posteriores dentro desta área de conhecimento.

“A Cidade Cotidiana”

A ocupação de áreas junto a cursos d’água, a urbanização em encostas íngremes e perigosas, a construção de infra-estruturas urbanas em áreas de proteção ambiental, são matérias de interesse para a cidade que chega ao século XXI. Durante todo o desenrolar do curso de arquitetura, viu-se a necessidade de tratar do que chamarei aqui de “Cidade Cotidiana”.

A cidade que foi construída ao longo do tempo, sem grande atenção do poder público mas também sem grande interesse do grande mercado imobiliário. Ambos, interessados nos “bolsões de riqueza” situados no vetor sudoeste da cidade, jogando por vezes algumas migalhas para as populações muito pobres nos rincões mais distantes das cidades. No discurso, tanto acadêmico quanto político, aparecem com mais freqüência apenas os extremos de riqueza ou de pobreza, não havendo muito espaço para a cidade que vai de um a outro, cotidianamente.

Tentamos ao longo desse trabalho jogar luz não somente sobre uma região da cidade que, não sendo central, tem em boa parte de suas áreas características de infra-estrutura que a impedem de ser considerada periférica. No entanto, por diversos fatores não é tratada com a devida importância como base para o adensamento populacional necessário para preservar suas regiões mais vulneráveis ambientalmente, e tornar economicamente adequado todo o investimento já feito na construção e consolidação da cidade que recebemos como legado e maldição das gerações que nos precederam.

Ocupar e adensar o centro, acreditamos, não é apenas buscar edifícios e áreas dentro do centro expandido da metrópole para a habitação de baixas e médias rendas. É sim, e sobretudo, compreender as zonas que, não sendo centrais, são capazes de receber os investimentos públicos e privados necessários para um adensamento populacional com qualidade de vida. Estudá-las para agir sobre elas, é um dos objetivos desse trabalho, que acaba se voltando para o espaço livre público e para o desenho geral das intervenções públicas na cidade, mas que acredita ser necessário um pensamento e ação continuados em todos os territórios da cidade que estão fora do centro.

Entender e desenhar a “Cidade Cotidiana” é uma das preocupações contidas nesse trabalho. A cidade que é construída cotidianamente, por um mercado imobiliário sem grande poder de transformação imediata, por um poder público sem grande ímpeto de transformação, por uma população que, auto-construindo ou não, não tem grande capacidade de financiamento. A cidade que se repete por toda a periferia, impedindo uma identidade única em cada lugar, mas chamando a atenção para uma identidade cultural singular para as cidades brasileiras.

"Intervenção”

Na prática, o trabalho buscou inicialmente elaborar uma abordagem teórica que embase a prática do projeto, analisando alguns teóricos contemporâneos do desenho urbano, além de algumas intervenções emblemáticas ocorridas nos últimos 20 anos. Ao delimitar e estudar a área, procurou-se fazer uma abordagem tanto social, quanto morfológica, de maneira a dar um panorama que permita atuar na estrutura urbana existente criando espaços de referência para os distritos em questão, contribuindo para a transformação das atuais políticas públicas para a região especificamente, e para outras regiões semelhantes, de uma maneira geral.

A intervenção de desenho urbano se deu no conjunto linear de avenidas que hoje cobrem o Córrego Água da Pedra, completamente compreendido na subprefeitura da Freguesia do Ó/Brasilândia, região noroeste de São Paulo. Como espaço de análise mais ampliada foi escolhida a Bacia desse córrego, na medida em que ali poderíamos chegar à uma leitura de uma unidade de paisagem determinada e de fácil identificação por toda a população. Nesse sentido buscamos também todo o percurso que vai desde a Marginal do Rio Tietê (em sua porção sul) até o anfiteatro de cabeceiras no início do distrito Brasilândia (em sua porção mais ao norte), passando por toda a extensão do distrito da Freguesia do Ó.

Aventou-se, inicialmente a possibilidade de uma ação mais abrangente, transformando a área de várzea da bacia em um parque linear. No entanto, a impossibilidade de tornar essa intervenção em um modelo de política pública de ação nas avenidas de fundo de vale, nos levou a caminhar para uma intervenção menos abrangente e mais focada em alguns pontos específicos cujas características pudessem dar margem a novas formas de apropriação do córrego e dos seus espaços lindeiros. Retomamos, nesse sentido, a idéia de atuar na cidade cotidiana, ou seja, aquela que se constrói a cada dia, com as intervenções somadas do poder público e da iniciativa privada, sem o caráter de excepcionalidade.

Foram escolhidas três Áreas Foco de intervenção ao longo das avenidas, onde foram previstas diversas edificações habitacionais, relacionadas diretamente com espaços livres públicos de recreação e lazer, buscando resolver duas das principais demandas da região: Habitação e Espaços livres de lazer.

Buscou-se adotar métodos de desenho urbano que além de permitir uma maior apropriação da população das avenidas, transformassem seu caráter de apenas um local de passagem, para locais de referência para a população. Para tanto, investiu-se em edificações de uso misto (comércio e habitação), na proximidade entre os espaços livres públicos de maior porte com as áreas de cruzamento de fluxos e de maior concentração de equipamentos públicos. Por outro lado, para auxiliar na resolução dos problemas relacionados com enchentes na bacia, incorporou-se parcialmente o conceito de infra-estrutura verde, adotando-se a idéia de “alagado construído”, descobrindo o leito do rio em alguns trechos.

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