A cidade de São Paulo tem hoje um papel decisivo na reorganização social e econômica do país e seu centro é um setor urbano estratégico... é essencial reafirmar o caráter singular do centro metropolitano de São Paulo. Seus atributos intransferíveis - referência histórica, funcional, cultural e simbólica - associados ao seu potencial de renovação apontam para a necessidade de estabelecer novas metas e pensar o seu futuro.
São Paulo Centro XXI, Associação Viva o Centro, 1994.
O centro histórico de São Paulo resiste como espaço emblemático da metrópole [1]. Com seu alto valor estratégico, o centro metropolitano de São Paulo é o elemento vital para onde tudo converge: vias, fluxos, funções, pessoas.
O Parque Dom Pedro II tem papel importante no contexto metropolitano, pois é a porta de entrada da Zona Leste e dos municípios do ABC ao centro de São Paulo.
Dadas as transformações na malha urbana em décadas sucessivas, a área foi palco de intervenções de cunho predominantemente viário, que privilegiaram a escala metropolitana em detrimento da escala local, resultando num retalhamento do Parque e áreas adjacentes, formando espaços residuais e consolidando a área como plataforma de transbordos [2].
Assim, seu importante papel de catalisador de caminhos e chegadas da cidade - nó metropolitano de transportes - justificou seu paulatino seccionamento, com a implantação de estruturas que dominam sua paisagem de forma incisiva, inviabilizando o uso do seu espaço de forma coerente.
Não fosse suficiente, há também lapsos de transposição vertical que alimentam este cenário, especialmente entre a Baixada do Glicério e o Parque Dom Pedro II com o Páteo do Colégio e a colina histórica, segregando a várzea e dificultando ainda mais a recuperação da área.
Potencializando a relação entre o parque e os demais logradouros públicos à ele associados, o projeto buscou a reapropriação deste conjunto de infra-estruturas e a compatibilização do espaço intra-urbano pois, apesar do imenso fluxo de pedestres gerado pelos sistemas de transportes que aí recaem, eles não conseguiram dar ao parque um significado diverso, já que a desarticulação entre tais equipamentos, associado às barreiras físicas diversas, acabaram criando um quadro de degradação e fragmentação sem precedentes e difícil de ser revertido.
A partir desta constatação, o projeto buscou reverter este quadro de completo isolamento do Parque, verdadeira lacuna urbana, viabilizando sua integração ao conjunto urbano e devolvendo a área para uso da população como espaço de lazer e permanência.
Identificação das Questões Abordadas através de Plano e Projeto:
- conciliar a escala metropolitana da infra-estrutura com a escala local do tecido urbano: superando, através das novas ligações propostas, a tripla barreira formada pelo Expresso Tiradentes, o Rio Tamanduateí e a Avenida do Estado;
- criação de novas travessias nas duas novas cotas propostas: integrar o parque à metrópole, minimizando suas características de fronteira/lacuna urbana, melhorando as ligações com seu entorno e permitindo a acessibilidade e mobilidade ao pedestre nas suas áreas internas e adjacentes;
- considerar a relevante incidência de edifícios históricos no seu entorno imediato, propondo novos usos e integrando-os ao parque: Pateo do Colégio, Solar da Marquesa, Casa no.1, Casa das Retortas, Palácio das Indústrias, Antigo Hospício de Alienados, complexo do Gasômetro e edifício Guarani.
- implantação de novos programas e equipamentos - adequação e diversificação funcional: criação de grande praça cívica e monumental ao norte do parque, implantação de um centro de requalificação profissional próximo ao metrô Pedro II, transferência da secretaria do verde e meio ambiente para a Casa das Retortas, implantação do museu da cidade no Palácio das Indústrias, abertura de um dos "balões" do Gasômetro como arena para apresentações teatrais e implantação de equipamento cultural e esportivo ao sul do parque, no edifício do antigo hospício de alienados;
- melhorar a ligação entre a Colina Histórica e o Parque: através de funicular e VLT propostos, minimizando o lapso de transposição vertical que os segrega;
- reformulação do sistema viário incidente e criação de estação intermodal no pátio do pari: demolição dos viadutos existentes e nova redistribuição de fluxos, transferência da Avenida do Estado para as avenidas exteriores ao Parque e transferência dos terminais de ônibus e do expresso tiradentes para o pátio do pari [onde se conectarão com a linha 4 do metrô e linhas D e E da CPTM, além do terminal remoto aeroportuário], permitindo, desta forma, a revitalização e a utilização dos espaços do parque de forma coerente, eliminando barreiras e entraves desnecessários à circulação;
- incentivar e dar suporte ao uso habitacional: estimulando o adensamento populacional de uso misto nas áreas adjacentes ao parque, revertendo o quadro de perda populacional identificado;
- criação de parques lineares: elementos conectivos que visam costurar o parque e as áreas envoltórias relevantes como a praça da sé, colina histórica, largo da concórdia, parque da luz, pátio do pari e museu do ipiranga.
Assim, as intervenções propostas buscaram considerar a magnitude deste espaço central, repleto de significação metropolitana, e a pluralidade de escalas envolvidas para tentar "costurar" este cenário, propondo novas ligações e transposições, requalificando o parque através de ações pontuais que compatibilizassem a escala metropolitana e a escala do lugar, onde a intervenção urbana operasse como elemento articulador de multi-escalas.