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secao 4!

Edifício Esther:

diretrizes e técnicas de restauro para um edifício moderno

Ana Paula Arato Gonçalves

Maria Lúcia Bressan Pinheiro

Introdução

O tema para este trabalho foi definido levando-se em consideração a grande importância histórica associada às obras do movimento moderno. Tal reconhecimento, por parte tanto de especialistas quanto da população, tende a crescer com o maior distanciamento histórico. Pode-se dizer que muitas dessas obras arquitetônicas já constituem instrumentos de memória para a população, testemunhando as diversas mudanças que a época do modernismo representa. Mudanças estas, que ocorreram em grande velocidade e número, particularmente na cidade de São Paulo.

Este espírito inovador do modernismo, aliado ao contexto econômico e social da época, trouxeram várias conseqüências ao modo de construir na cidade. As novas formas, mais puras em sua geometria e despidas de ornamentações que fossem meramente formais, deram uma nova imagem à cidade, que começou sua terceira reconstrução na época marcada pelo uso mais extenso do concreto, tendo antes passado pelas fases da taipa e da alvenaria. Os novos materiais e técnicas visavam uma maior economia através da industrialização do processo construtivo. No entanto, muitas experimentações com materiais e mão-de-obra sem treinamento nas novas técnicas também causaram problemas construtivos e de manutenção para essas obras. Além disso, a própria crença de que certos materiais, em particular o concreto, prescindissem de um processo de manutenção levou à negligência de alguns edifícios.

Aliada a estes problemas técnicos está a mudança de usos sofrida por uma área tão dinâmica como o centro de São Paulo. Isto se reflete nos edifícios desse meio urbano e aqueles com reconhecida importância histórica e artística tendem a sofrer mais com essas mudanças. Isso ocorre devido a sua própria obsolescência ou incompatibilidade do uso com as exigências de sua preservação.

Os focos do trabalho são as técnicas de restauro, além de maneiras de administrar a manutenção desses edifícios para garantir um uso permanente compatível com seu caráter histórico. Para tanto, o edifício Esther - projetado por Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, construído entre 1936 e 1938 - foi utilizado como ponto de partida para todas as pesquisas e discussões. A partir de um estudo histórico sobre arquiteto e edifício, e levantamento das patologias presentes na construção, pretendeu-se estudar as técnicas de conservação disponíveis que fossem compatíveis com as especificidades deste caso. A parte de história contribuiu para uma melhor compreensão do projeto dentro de seu contexto histórico e segundo os preceitos de seus autores. A parte técnica foi importante para que os dados obtidos nas visitas fossem devidamente analisados a fim de formular hipóteses sobre as causas das patologias observadas, bem como, para que se pudesse avaliar corretamente a compatibilidade dos tratamentos a serem aplicados. Por fim, foi proposto um conjunto de diretrizes de projeto de restauro e revitalização, que levam em conta o valor histórico deste edifício, seu novo contexto, bem como, suas demandas atuais.

Concluiu-se que o restauro não é uma atividade que envolve apenas o campo da arquitetura. Cada fase da preparação do material de embasamento deve envolver profissionais de diversas áreas como historiadores, engenheiros, sociólogos, químicos, biólogos, etc. Este trabalho procurou mostrar as fases de pesquisa que todo restauro deveria ter e a importância delas. Resumindo, todas as informações colhidas antes do projeto de restauro servem para que as decisões tomadas estejam baseadas em dados científicos e históricos comprovados. Além de evitar que ações prejudiciais ao monumento sejam tomadas, esse tipo de pesquisa não permite que as decisões sejam baseadas em gosto e opiniões pessoais. Esse tipo de distanciamento do profissional restaurador é essencial para garantir a integridade do trabalho que está realizando.

Em relação ao Edifício Esther, o levantamento de suas patologias permitiu chegar a algumas conclusões. Assim como a maioria dos outros monumentos, esse edifício sofre de uma falta de ações conservativas em seu dia-a-dia. A grande maioria de suas patologias poderia ter sido evitada ou, pelo menos amenizada, se pequenas ações de manutenção tivessem sido tomadas ao longo dos anos. No entanto, a falta desse tipo de ação resultou num estado de conservação que ameaça a sobrevivência do edifício. Portanto, um processo de restauro é imprescindível para a manutenção desse edifício para o futuro. Esse restauro deve envolver todas as ações necessárias para essa manutenção, inclusive a conscientização dos usuários e a implantação de um programa contínuo de manutenção. Essas ações também devem considerar a criação de condições favoráveis para que os espaços do edifício estejam sempre em uso, pois esta medida é essencial para a viabilidade dessa conservação.

Por fim, concluí-se que a conservação de monumentos modernos envolve as mesmas bases teóricas que outros monumentos. No entanto, essa área enfrenta alguns desafios novos, como por exemplo: a dimensão dos monumentos modernos, o envolvimento de diversos proprietários em um mesmo edifício (no caso de edifícios multi-familiares ou de escritórios), restauro de materiais novos. As técnicas construtivas utilizadas pelos modernos ainda são corriqueiras na construção atual, no entanto seu restauro ainda tem poucas técnicas desenvolvidas. Já os materiais de acabamento parecem enfrentar o mesmo desafio de materiais muito mais antigos, pois a rapidez com que se substituem materiais industrializados no mercado faz com que seja difícil encontrar peças de reposição. Outro desafio, talvez o maior de todos, é a falta de reconhecimento desses edifícios por parte da população. Para um leigo é muito mais fácil reconhecer o valor de um edifício que se destaca da paisagem pela sua raridade, como acontece com os edifícios mais antigos, do que o valor de um edifício que, hoje, se mistura na paisagem, pois sua imagem ainda é contemporânea.

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